Dezessete de maio, sábado, é o Dia Mundial da Luta Contra a Homofobia. Foi nesse dia que a Organização Mundial de Saúde, em 1990, deixou de considerar a homossexualidad – que antes era chamada de homossexualismo – como doença. De lá pra cá é inegável que a vida gay melhorou. Empresas conservadoras passam a ser friendly, hotéis produzem pacotes especiais por conta da parada e cada vez mais meninos e meninas saem mais cedo do armário. No entanto a vida não é esse mar de rosas. Segundo pesquisa elaborada pelo GGB, Grupo Gay da Bahia, a cada três dias um GLBT é vítíma de algum tipo de preconceito decorrente da homofobia: do verbal ao físico. Portanto, é a homofobia a perversão mor da vida homossexual no Brasil? Se for, que caminhos podemos percorrer para diminuir tal tragédia?
Toni Reis, presidente da ABGLT, considera que o problema já começa pela nossa cultura que é "machista e patriarcal e sua base está na religião judaico cristã. Até como doentes já fomos tratados. O preconceito ainda é muito forte. Acredito em três coisas para diminuir a homofobia: educação, educação e educação. Isso em vários âmbitos, pois com a educação as pessoas passam a entender, elas passam a tratar melhor e também é necessário que haja capacitação em todos os níveis do governo". O ativista do grupo Identidade de Campinas, Paulo Mariante, vai pelo mesmo caminho da educação e também incluí a democracia em sua reflexão, "só com a educação é que faremos a sociedade entender que, além da homofobia ser um mal para nós, ela impede e faz mal a democracia".
Para a ícone da noite paulistana, Salete Campari, o problema também está na falta de divulgação de campanhas e do diálogo do movimento com o restante do povo, "temos que nos empenhar mais em campanhas, fazer esse povo lutar para aprovar o PLC 122, no encontro nacional (Conferência nacional GLBT) temos que pressionar, isso é fundamental, é o sonho de toda a comunidade". Salete encontra respaldo no discurso de Wesley Francisco, do KIU! Coletivo Universitário pela Diversidade Sexual UFBA/UCSal/UNEB da Bahia, "Criminalizar a homofobia é o primeiro passo para garantir o respeito à população GLBT e esperamos que a aprovação do projeto 122/2006 seja feita ainda neste ano". Sobre o 17 de maio Wesley diz ser "o dia de reivindicar um direito que nos é negado, o direito de vivermos e amarmos sendo o que nós somos: homo, bi ou transexual".
Clóvis do grupo Livre Mente do Mato Grosso é mais um que se une ao coro do PLC 122 para se barrar a homofobia, "infelizmente vivemos em uma sociedade legalista, então acredito que o primeiro passo é com a aprovação da lei, para a partir daí mostrarmos as pessoas que o que queremos nada mais é do que o direito de amar". Sobre criminalizar a homofobia Lula Ramires, do grupo CORSA, diz, "No combate à homofobia, a meu ver, temos dois caminhos a percorrer: o primeiro é o da lei, todo ato homofóbico fere a dignidade humana e como tal deve ser punido. O segundo é a educação, porque sem mudança de mentalidade e de comportamentos, não se muda a cultura de um povo. O alvo principal é o machismo, pois a homofobia é um subproduto dele".
Outra figura histórica do mundo GLBT, a cantora e performer Claudia Wonder atenta para a questão da internet e o quanto isso tem ajudado os jovens, " é com educação que se muda. Pois, a homofobia vem da criação, desde criança a gente escuta palavras, os professores, portanto a curto prazo é impossível. Os jovens tem contribuído bastante para essa mudança, por causa da internet eles tem uma possibilidade que não existia e eles crescem com outra mente, eles escrevem o que querem lá, mas é um trabalho de formiguinha e tem que começar na escola".
Atos contra a homofobia
Parece unânime, pelo menos entre os entrevistados, a idéia da educação ser a ferramenta fundamental para se desconstruir o ideal homofóbico. Tudo bem, são ações a curto e longo prazo. E no sábado, farão alguma coisa, protestarão contra a homofobia?
Toni Reis faz uma reflexão histórica sobre a importância de semanifestar no dia 17, "O dia 17 de Maio é comemorado no mundo inteiro como o Dia de Combate à Homofobia. As comemorações nesta data têm o propósito de mostrar para a sociedade que ainda há muita homofobia no mundo. A prova mais evidente disso é que ainda há 7 países onde tem a pena de morte para GLBT e 80 países em que é crime ser GLBT. No Brasil, haverá atividades em várias cidades para comemorar o Dia de Combate à Homofobia."
Wesley Francisco do grupo KIU! Da Bahia, diz que irão fazer uma manifestação junto com outros grupos baianos. Na capital paulistana, até este momento, não temos qualquer informação sobre manifestação. Sobre o assunto Salete Campari dispara "o problema é que acontece muita coisa na vida do jovem: rave, balada e por aí vai. E o que é mais importante o povo esquece. Acredito que as casas deveriam se unir e fazer um ato maravilhoso."
Em Campinas Mariante conta o que irão fazer, "aqui faremos uma caminhada pelo centro, distribuir uma carta aberta e falar sobre o dia mundial, falar sobre o Brasil e sobre países que punem homossexuais com a pena de morte". Clóvis do grupo Livre Mente, de Mato Grosso, diz que irão fazer um ato na conferência deles (começou ontem), "organizaremos com o pessoal que está aqui na conferência e faremos uma passeata."
Claudia Wonder é mais realista nesse sentido, "infelizmente o povo brasileiro não tem consciência política, não fala nada, aqui o que existe é a comoção pública, se o Brasil soubesse reclamar seria mais prático, mas prefere uma festa, não que seja ruim, pois a festa também é um ato político. Mas tem aquela coisa, o gay passa mais desapercebido e muitos deles não sentem necessidade de lutar, ao contrário dos gays efeminados, das transexuais e travestis. Portanto é uma coisa que fica mais com os militantes mesmo."