Sander Simaglio, do Partido Verde, foi eleito vereador pela cidade mineira Alfenas, com 629 votos. Oriundo do Movimento Gay de Alfenas, em entrevista ao A Capa, Sander disse que essa eleição deixou claro que "gay não vota em gay". Afirmou também estar orgulhoso por ter sido eleito em uma cidade com mais de 65 mil habitantes.
Em seu mandato, Sander diz que a principal bandeira a ser defendida será a dos direitos humanos e também irá lutar pela "preservação do meio ambiente, transporte público e acesso à saúde". Na entrevista, o vereador fala sobre a baixa eleição dos mandatos LGBTs e que, pelo fato de gay não votar em gay, "a campanha não pode ser focada somente na comunidade".
Esperava se eleger?
Sim. Todo candidato a um cargo eletivo e que faz campanha espera se eleger.
Contou com o apoio do movimento de Alfenas?
O movimento homossexual organizado em Alfenas, o qual fundei a ONG MGA (Movimento Gay de Alfenas e Região Sul de Minas) me ajudou no que pôde. O atual presidente da instituição e dois de seus assessores doaram o sangue para a campanha. Estiveram ao meu lado os 90 dias de campanha eleitoral. Nesse período, vimos gays e lésbicas assumidos da cidade fazer campanha, adesivando seus carros com outros candidatos, inclusive um pastor de igreja evangélicas. Da votação que obtive, creio que não passou de 10% o número de votos gays, o que é uma lástima. Mais uma vez ficou provado que gay não vota em gay.
Como pensa em articular o seu mandato na Câmara Municipal de Alfenas?
Com muito trabalho, pensando no povo como um todo e dentro desse povo existe os LGBTs. Claro que minha voz será uma voz de um militante do movimento gay, mas não só isso. A cidade me elegeu e espera muito mais de mim. Ligam meu nome à coragem de ter me assumido. Ter me formado advogado, fundado a única ONG gay da região e ter sido audacioso em realizar numa cidade interiorana de Minas Gerais, com pouco mais de 65 mil habitantes, a Parada gay – que este ano chegou a 5ª edição -. Uma Parada com um discurso politizado, bem organizada, com expressivo público. Sou oposição ao prefeito eleito e minha responsabilidade se torna ainda maior, pois a prerrogativa do vereador de fiscalizar os atos do poder executivo fica mais intensa e estou pronto pra isso. Vou usar de criatividade, coragem, sensibilidade e audácia no meu mandato, o que faço no dia-a-dia dentro da ONG.
Já pensou em seu discurso para o dia da posse? Poderia adiantar algo para nossos leitores?
Ainda não deu tempo, mas preciso fazer um discurso sensível e que deixe bem claro que foi eleito um gay porque vários outros candidatos esqueceram-se de fazer suas campanhas preocupados em discriminar a minha.
Pretende focar o seu mandato em quais questões?
Direitos humanos, minha principal bandeira de luta. E, claro, procurar estudar bem os projetos apresentados pelo prefeito. Os [processos] de minha autoria tenho certeza que a maioria deles serão ligados ao social, apoio às ONGs da cidade, lutar pela preservação do meio ambiente, acesso da população à saúde, lazer, moradia, transporte público, educação… dentre outros. Tudo isso sem deixar de incluir os LGBTs em todos os casos. Por exemplo, apresentar emendas à lei orgânica do município onde iguala os benefícios de dependentes heterossexuais a dependentes homossexuais de servidores públicos do município. Minha luta começou visível quando propomos em 2000, para a Câmara, um projeto de lei que pune discriminação aos homossexuais no município. Conseguimos a aprovação por unanimidade e a sanção do prefeito à época, mas nada mais foi feito. Agora, como vereador, quero criar a comissão de direitos humanos dentro da Câmara, para ser um órgão de recebimento dessas denúncias de violação dos direitos humanos. Creio que o simples ato de uma das cadeiras da Câmara Municipal de Alfenas ser de um gay assumido, a comunidade LGBT ganha com isso, pois a cidade vai respeitar ainda mais nossos direitos sabendo que dentro da Câmara tem um representante de peso da classe.
Dos 88 candidatos LGBTs, apenas 4 se elegeram. Por que acha que houve tão baixa eleição dessas candidaturas?
Porque gay realmente não vota em gay e, por experiência própria, digo que o material de campanha não pode ser focado somente nessa comunidade. Pensando no meu caso, por exemplo, que a cidade é muito pequena. Não sei a realidade de ser candidato numa capital, por exemplo, onde o número de LGBTs assumidos é bem maior. Aqui na minha cidade todos conhecem minha atuação, sabe do importante papel da nossa ONG na luta por igualdade de direitos, na assistência a portadores de AIDS, na prevenção das DST. Por isso, resolvi mostrar em meu material de campanha que sou o Sander, aquele da ONG gay, aquele da Parada, porém, aquele advogado que tem propostas pra toda população e não só pra LGBTs. Vou usar o que faço no dia-a-dia na ONG na Câmara Municipal.