Desde abril, A Capa vem acompanhando os desdobramentos envolvendo o livro A estratégia: o plano dos homossexuais para transformar a sociedade (foto), quando foi iniciado um abaixo-assinado pedindo que fosse retirado do catálogo da Avon. No Brasil, o livro é publicado pela editora Central Gospel, do pastor Silas Malafaia.
Ainda não está claro se o abaixo-assinado surtiu efeito, mas a verdade é que a Avon retirou o livro do catálogo "Moda & Casa" em junho e ele permaneceu ausente também na edição de julho do livreto. A redação de A Capa consultou o catálogo deste mês, e A estratégia continua a não ser distribuída pela Avon.
No entanto, este não foi o único desdobramento envolvendo a obra do pastor Louis P. Sheldon. Na última sexta (14) foi divulgado na imprensa que a Procuradoria dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal de São Paulo acatou pedido da ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e abriu inquérito para apurar se a obra incita o ódio contra homossexuais.
A ABGLT alega que o livro "perpetra uma inegável incitação ao ódio, ao preconceito e à discriminação com os homossexuais". Para a entidade gay, na pessoa do presidente Toni Reis, A estratégia é tão nefasta quanto os Protocolos dos Sábios de Sião, que, antissemita, também acusava os judeus de uma "conspiração" contra a sociedade.
O parecer do procurador Sergio Gardenghi Suiama, que acatou o pedido da ABGLT, afirma que A estratégia não está voltada somente à defesa de uma posição política. "Vê-se […] que a manifestação atingiu o âmbito de proteção dos direitos fundamentais à honra e à dignidade de um número indeterminado de pessoas homossexuais, já que as ofensas contidas no livro não estão voltadas a esta ou aquela pessoa, mas sim a toda a coletividade de homossexuais masculinos e femininos", diz o procurador.
Entre outras acusações, o livro de Sheldon chama os ativistas gays de "pessoas cheias de ressentimento e ódio, misturados com autorrejeição e vergonha, e não desistirão até que tenham erradicado cada traço de moralidade e autocontenção", acusa os homossexuais de um estilo de vida em que "doenças, infecções, vícios em drogas e álcool, e ferimentos são comuns. Além disso, a evidência de disfunções sociais e emocionais é igualmente aterrorizante" e diz que tal estilo é "repugnante", "perigoso", "vulgar" e "assassino". O livro ainda chama os homossexuais de "sexualmente imaturos" e "moralmente irresponsáveis", além de molestadores de crianças.
A Procuradoria dos Direitos do Cidadão considera que cabe inquérito visando à tutela coletiva dos direitos à honra e dignidade dos homossexuais e pede que a publicação dê aos gays direito de resposta proporcional, além de indenização por dano moral.