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Miss Biá conta um pouco sobre sua vida e história na comunidade gay

Quem encontra com Eduardo Albarella na Rua Vieira de Carvalho não imagina como aquele senhor baixo, magro e de boina pode se transformar em uma mulher alta, exuberante e vestida com finos tecidos importados. É assim que Miss Biá, um dos mais conhecidos transformistas do país, vive seu dia-a-dia: sem o luxo ou glamour da personagem que criou há mais de 40 anos.

Eduardo é um artista genuíno. Dedica-se à arte de transformar-se em Biá como uma missão. Ele mora em um apartamento aconchegante na Vieira, onde também comprou, no mesmo prédio, duas quitinetes só para guardar seu acervo de mais de 3.000 vestidos. “Eu nunca andei vestido de mulher senão fosse para show ou alguma apresentação pública”, explica Eduardo. Hoje, a Biá aparece aos sábados, na Danger, onde apresenta seu show, e em atos políticos ou de defesa dos direitos GLBTs. “As pessoas me convidam para falar sobre muita coisa”, afirma.

Também, pudera! Eduardo/Biá passou por momentos importantes da história do país. A personagem surgiu no auge do Teatro de Revista. “Fui caricata durante vários anos. Eu me apresentava vestindo aqueles maiôs antiguinhos, com sainha, muito pudico. Os homens ficavam loucos”, diz mostrando um maiô com calda de peixe vermelho e prata.

Pela sua coleção de vestidos, dá para perceber que os tempos eram outros. Nada dos vestidos espalhafatosos das drag queens. Muito pelo contrário, só alfaiataria de primeira e modelos de festa chiques, daqueles que minha mãe usaria para se sentir poderosa. “Agora está tudo mais fácil. Antes, eu esperava meses para o tecido chegar de Paris”. O vestido de veludo francês bordado a mão pelo próprio Eduardo prova o que ele está falando. “Não se vê isso por aqui nem hoje. Passa a mão, olha só a maciez. E isso aqui tem quase quarenta anos”.

Cada peça do imenso guarda-roupa de Biá é uma história. Tem o que ela fez em 1976 todo dourado, inspirado no filme “007 contra Goldfinger”, com capa de lantejoulas. Tem o de canutilhos que ela emprestou para Hebe Camargo. Tem perucas de todos os tipos. Tem até chapéu do Philip Treacy e vestido de Ted Lapidus, o mesmo estilista da Jackie Kennedy Onassis.

Biá é também história da noite em São Paulo. Passou por casas que hoje são só memória, como o Clube Medieval e o Corinto. “Ela é minha mãe adotiva, minha amiga e conselheira para todas as horas”, diz a top drag Salete Campari.

Fofa, Biá não faz carão. Recebe bem, conta casos, explica coisas. “Você é feliz?”, pergunto. Ela sorri em resposta, com a sabedoria de quem sabe que essa pergunta não é importante.

*Texto extraído da edição 02 da revista A Capa

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