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Morte de filho de casal gay reacende debate de culpabilização da vítima

Peterson Ricardo de Oliveira, de 14 anos, morreu na segunda-feira (9), depois de ser agredido em uma escola de São Paulo e ficar em coma por quatro dias. A motivação da briga teria ocorrido por homofobia. Não porque Peterson fosse gay. Mas porque seus pais adotivos são homossexuais.

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Como já ocorreu em outros casos, a homofobia é abafada pelos noticiários, pelo Congresso, pela justiça e também pelas Secretarias de Saúde e de Educação, que falaram sobre o caso e sugeriram que não houve briga – apesar do depoimento de outro filho do casal, que presenciou o momento, e das declarações do delegado responsável pelo caso.

Além disso, a morte do jovem culminou em discursos que inacreditavelmente culpam a própria vítima e os pais pela agressão. O absurdo é tamanho que está servindo de argumento para que pessoas manifestem-se contra os direitos LGBT e que afirmem que gays não devem adotar, pois os filhos correm riscos.

Um discurso de ódio baseado na ameaça, no medo e numa preocupação no mínimo tendenciosa.

As palavras que o candidato a deputado federal do PSOL Luigi Matté proveriu em seu Facebook representam alguns desses discursos: "Já disse que é para comunidade gay recuar e parar de querer enfiar goela abaixo direitos que pertencem aos héteros. Do contrário, vai virar chacina. Sou contra esta violência e intolerância, mas, se a comunidade quer respeito, tem que respeitar. E filho é coisa de homem e mulher, pronto, ponto".

O que Luigi (e muita gente) não percebe é que seus discursos que posteriorizam a fala de ser "contra a intolerância e a violência" nada mais são que a legitimação do preconceito. Coloca no colo da pessoa que sofre a violência a responsabilidade por ela e, pior, naturaliza a ameaça de chacina. Desfoca e esquece daquilo que é fundamental para a promoção de uma sociedade com mais segurança: ações que combatam a violência sofrida, inclusive na escola.

Esse tipo de pensamento torto é comum em vários assuntos: quando ocorre uma violência de estupro e as pessoas tendem a perguntar sobre as medidas das roupas que a vítima vestia; na questão da homofobia, quando questionam se o gay cantou o agressor; na questão da transfobia, quando questionam imediatamente o caráter da travesti assassinada. E, agora, quando questionam a adoção de um casal gay frente a um crime movido pelo preconceito.

Ao contrário do que dizem, Peterson não teve o azar de ser adotado por gays, ele teve sorte de ser adotado por pais que o amavam. O azar é de viver em uma sociedade intrinsicamente homofóbica, que não criminaliza este tipo de violência, que não investe no vetado kit anti-preconceito e que a todo momento tenta arranjar manobras para culpar a própria parcela que vive e morre por conta do preconceito. E que varre para debaixo do tapete o verdadeiro vilão e a verdadeira causa das agressões.

Ou seja, o problema não são os gays terem o direito de adotar e serem pais. Esta luta é legítima, já ocorre há bastante tempo, não causa mal a nenhuma outra família e é uma opção para as crianças órfãs. O problema é a homofobia, o descaso e o reforço deste tipo de discurso, que quer deixar a sociedade preconceituosa como sempre foi e está. 

Que a lamentável morte do adolescente não seja em vão, mas que, assim como o pai Márcio Nogueira disse, "tenha visibilidade para que não ocorra mais com nenhuma outra criança ou adolescente". Que também sirva para reavaliarmos a culpabilização da vítima frente a uma violência.

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