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Morte e as famílias construídas

Semana estranha. Deve ser o reflexo de suas sextas-feiras 13 que tivemos já neste ano. Segunda morre meu primeiro namorado, ontem morreu Clodovil e mais algumas vítimas das chuvas que colocaram São Paulo e adjacênscias em estado de alerta. Mas existe um fato na morte do Clô que é preciso ser observador mais de perto: ele morreu sozinho, solitário.

Li muito do que foi publicado sobre sua morte e me chamou atenção o fato da ausência de familiares dele, ainda que distantes. É sabido que ele não era de muitos amigos e sempre teceu comentários ácidos sobre suas origens, mas morrer sozinho é muito triste. Imagina não ter ninguém querido e próximo para cuidar dos trâmites administrativos do velório e sepultamento, gente fazendo por pura obrigação pública. Ter de contar com assessores, advogados, caseiros…

Nessas horas que aquela opinião bem comum entre os gays, de que família se constrói ao longo da vida, fica mais evidente e mostra sua veracidade. É preciso formar um circulo de amigos, de bons amigos, gente que estará sempre próximo e pronto a ajudar. Deixar a execução do testamento na mão de advogados e os cachorros para que o caseiro resolva mostra a falta de amor dos outros para consigo. No caso do Clô existe aí um fator determinante desse processo: sua acidez com a vida, com as pessoas em geral.

Mas vale a reflexão. Vale a pena pensar quem são as pessoas em quem confiamos, se nossas amizades são realmente verdadeiras ou se cessão quando acabar o hype e o dinheiro ou se na hora da dor o amigo estará ali do lado, acolhendo, amparando. Nem sempre teremos sobrinhos, namorados, pais e mães, tios ou seja o que for para cuidar da gente na velhice – ou mesmo em um momento delicado na juventude. É preciso firmar laços verdadeiros com poucos e bons amigos, aqueles em quem poderemos confiar até nosso bicho de estimação mais querido.

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