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Mostra “Possíveis Sexualidades” coloca Salvador na rota dos principais eventos gays

Idealizado por Fernanda Bezerra e Rodrigo Barreto, a "Mostra Possíveis Sexualidades", realizada na cidade de Salvador, chega à sua terceira edição propondo um novo formato para os eventos cinematográficos: não se resumir apenas à sala de cinema.

A mostra, que nesta semana exibe sessões em parceira com o Instituto Cervantes e com o festival português "Queer Lisboa", realizou na primeira semana mesas com debates voltados para a cultura queer e representação gay. Promoveu também os pontos de encontros em bares e restaurantes que, segundo Fernanda, tinha como objetivo fazer com que as pessoas "se interajam".

Para melhor entender o conceito da Mostra e sua realização, a reportagem do A Capa conversou com Fernanda Bezerra e Rodrigo Barreto. Nessa entrevista exclusiva, eles explicam como conseguiram dinheiro para realizar o evento; os pontos de encontros; o tema central desta terceira edição da mostra e, claro, contam um pouco sobre a parceria com o festival "Queer Lisboa".

Como surgiu a parceria com o Queer Lisboa?
Fernanda Bezerra: Foi de uma forma bem espontânea. Antes de ir pra Lisboa comecei a procurar os sites de festivais LGBT, Portugal e Espanha, aí mandei e-mail para o João Ferreira – curador do Queer Lisboa – e ele me respondeu com vontade de fazer parceria. Conversamos um pouco e ele sugeriu um panorama de filmes portugueses da década de 70 e 80. Ele mandou os filmes pra cá. Lá [em Portugal] nos encontramos e no próximo ano ele quer estreitar ainda mais essa parceria, colocando a mostra num circuito de festivais chamado "Queer Lisboa". O "[festival] Gay & Lesbian Madri" tem um festival na Argentina e outro no Uruguai.

Como foi feita a seleção dos filmes?
Rodrigo Barreto:
Na primeira edição a gente tentou abarcar o máximo possível de diversidade, já que era a primeira vez que isso acontecia aqui. O que a gente sentia é que Salvador não vinha recebendo festivais ou mostras desse tipo, e nós tentamos suprir essa ausência. Na primeira mostra, focamos a questão da diversidade mesmo, e também queria incluir a heterossexualidade nos filmes, para que essas manifestações também fossem percebidas, não queríamos ficar apenas nos LGBT. Por isso o nome "Possíveis Sexualidades".

Só que, desta vez, vendo a discussão no movimento gay e nos sites, que tem sido muito em torno da família, resolvemos colocar a família como centro temático. O "Ander" (Espanha, 2009), por exemplo, quando assisti na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, pensei: ‘taí mais um exemplo de família alternativa e de onde a gente menos espera: um lavrador, um imigrante…’ Queremos em cada filme perceber quais são as possibilidades de inclusão dos indivíduos LGBT na ideia de família e na extensão do conceito para além da tradição.

O "Dzi Croquettes" é uma família alternativa?
Rodrigo:
No caso do Dzi nós queríamos trazer alguma coisa que falasse sobre o movimento queer no Brasil. Fazer um apanhado histórico que também tem no "Meu Amigo Claudia". Pra nós é importante trazer isso, até porque tem a ver com o tema: o que é dominante e hegemônico em termos culturais no Brasil é a televisão, e a TV nos representa muito mal e de maneira muito limitada e distorcida.

E em termos de apoio financeiro, como vocês fizeram para realizar o evento?
Fernanda:
Ganhamos o edital federal da Caixa Econômica, que permitiu fazer esse ano a mostra aqui no Centro Cultural. A mostra está no terceiro ano, mas mobiliza muita gente. As sessões e os debates estão cheios.

Rodrigo: Em relação ao apoio, a gente tem tido sorte e ganhamos todos os editais que entramos. Também ganhamos editais locais e divulgações locais. Tivemos um apoio importante que foi do Instituto Cervantes, porque eles disponibilizaram os direitos de muitos filmes, o que é uma maneira da gente não gastar mais dinheiro. Tivemos sorte.

O formato da Mostra se difere por fazer debates e promover encontros em bares e boates. Acreditam que isso é um diferencial e que pode ajudar na conquista do público?
Rodrigo:
 A minha trajetória acadêmica e de Fernanda também (ela participava comigo no grupo de análise fílmica) ancorou na necessidade da gente trazer a discussão dos temas além de mostrar os filmes. Isso não é uma maneira de direcionar o nosso público, é fazer com que o público participe também. Nas outras edições fizemos as mesas e foi a maior surpresa pra gente. Fizemos em um horário que achamos que teria alguns estudantes, pensamos que ia ter pouca gente, e encheu. Teve até gente sentada no chão.

E os pontos de encontros organizados pela mostra?
Fernanda:
Nós temos uma programação paralela no primeiro final de semana e temos dois pontos de encontros: o restaurante mexicano "Me gusta" e a festa na "San Sebastian". Fizemos isso pra integrar mais as pessoas. Todos os festivais têm esse formato (sala de cinema) e não tem essa coisa mais integrada. Por isso pensamos nesse formato, por ser diferenciado.

Rodrigo: Diferente de São Paulo, a vida gay em Salvador não é tão vibrante. Então, isso também é uma maneira de interagir com as pessoas.

Como foi a inserção na mídia?
Rodrigo:
Foi boa.
Fernanda: Teve um impacto muito bom, tivemos matérias de capa em cadernos de cultura dos principais jornais.

* O repórter Marcelo Hailer viajou a convite da mostra "Possíveis Sexualidades".

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