Saiu no Diário Oficial da União a publicação que prevê a realização da cirurgia de mudança de sexo como parte da lista de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). É uma grande conquista para o movimento LGBT e, sobretudo, uma notícia confortante para as pessoas trans que desejam passar pelo processo de transgenitalização.
É importante lembrar que a transexualidade está associada a questões de identidade de gênero, sobre papéis e representações sociais do feminino e do masculino em nossa sociedade, e não está necessariamente ligada à orientação sexual. Temos como exemplo o caso da personagem Moira/Max de “The L Word”, que no início aparecia como uma lésbica “butch”, com aparência e posturas extremamente masculinas, e, ao longo do seriado, foi caminhando para chegar ao Max, um transexual masculino que se identificava como homem heterossexual e que depois (me desculpem àquelas que ainda não viram a quinta temporada) se descobre interessado em outros homens. Seria ele então trans e bi? Não procuro uma resposta, só quero mostrar que a questão é complexa.
Um ponto que sempre me chama a atenção quando falamos sobre a cirurgia de mudança de sexo é que ela aparece e se legitima como um tratamento para casos de ‘transexualismo’, ou seja, ainda existe a necessidade de entender a questão pela ótica da ciência e da medicina e não pelo viés social e da identidade de gênero. Deixo bem claro que sou totalmente solidária e fico muito contente com a notícia, pois tenho certeza que a cirurgia irá realizar o sonho de muitas pessoas. Para entender um pouco mais sobre essa questão tão complicada, temos como referência no Brasil a professora de sociologia Berenice Bento, da Universidade de Brasília. A pesquisadora tem um extenso trabalho nessa temática e lançou recentemente o livro “O que é Transexualidade”, um pequeno livro de fácil leitura que eu recomendo para quem se interessa pelo tema.
Recomendo também alguns filmes, tais como “Minha vida em cor-de-rosa” (1998), que mostra a vida de um garotinho que deseja ser menina e como a família lida com isso. É um filme muito interessante para enxergamos a questão da identidade de gênero, pois, no caso do menino, não estão em jogo às relações sexuais ou com quem ele vai se relacionar no futuro. Sendo assim, podemos entender bem a dor e a infelicidade de estar preso a um papel social só pelo fato de ter nascido biologicamente com o sexo masculino.
Outro filme que fez sucesso pela incrível atuação da atriz protagonista foi “Transamerica” (2005), que mostra a vida de uma transexual feminina e sua busca pela conquista de realizar a tão desejada cirurgia de troca de sexo. O clássico filme dyke “Meninos não choram” (1999) mostra um caso real e muito triste de um transexual masculino e sua busca para conseguir se afirmar e ser identificado como homem e os sofrimentos que passou em sua trajetória de vida.
Seja por meio de livros, notícias ou filmes, é importante nos solidarizarmos com essa questão tão dolorida e tentarmos compreender um pouco mais, pois o respeito vem com o conhecimento e, mesmo entre nós lésbicas, às vezes falta entendimento e sobram preconceitos.