Ele é fashionista. Ele é austríaco. Ele é fabuloso. Ele é o Brüno. Pegue o filme-palhaçada "Borat", utilize a mesma forma de roteiro debochado, mas carregue de piadinhas gays e você vai ter o filme.
O legal desta outra obra demente do comediante inglês Sacha Baron Cohen, é um daqueles documentários falsos. Mas, neste caso, zoando geral o mundo da moda, "Brüno" é só mais ou menos falso. Atire a primeira bolsa da Louis Vitton quem não tem um amigo gay-fashionista assim.
A história, pra variar, é absurdete: o repórter gay, de 19 anos de idade (!!!), dá vexame em pleno desfile da semana de moda de Milão e é demitido. Se achando injustiçado e cheio de talento para dar (no pun intended) ao mundo, resolve ir para os Estados Unidos e virar super star.
As situações, desde abordar artistas na linha "Pânico" até armar uma luta livre gay numa terra readneck casca-grossa e machista no meio dos Estados Unidos, são aquelas de sempre. Mas "Brüno" vai além.
"Brüno" é uma obra humanitária. O fashionista adota criancinha da África. Tudo bem que ele traz para os EUA depois de despachar como bagagem, em uma caixa com furinhos para respirar. Depois, quando desencanou do bebê, o trocou por um iPod liiiiiiindo.
"Brüno" é um musical. Ele interage inacreditavelmente com gente desde Elton John, Sting e Chris Martin, do Coldplay, até o Bono, do U2.
"Brüno" é tendência. Há uma cena hilariante dele fazendo air oral sex com um dos caras da dupla-trapaça Milli Vanilli, por um motivo "x" lá (não vou contar), sugerido por um conselheiro espiritual. Não é preciso dizer que, depois dessa, a onda de "air sex", que já não era pouca, virou campeã em vídeos do Youtube.
Mais sobre o filme não dá para falar, sobre risco de estragar as piadas. A não ser a zoeira programada para cima do Michael Jackson, que foi tirada de fora do filme às pressas por causa da morte inesperada do rei do pop.
O personagem tinha programado uma cena contendo uma tirada de onda para cima da La Toya Jackson, irmã do MJ, que foi removida às pressas do filme numa edição extraordinária, No episódio, Brüno, aloprando a La Toya, rouba o celular dela para ligar para o Michael. Não rolou. Talvez daqui a alguns anos a cena apareça na internet, em DVD.
O longa tinha outro nome quando a ideia de sua realização surgiu. Assim: "Bruno – Delicious Journeys Through America for the Purpose of Making Heterosexual Males Visibly Uncomfortable in the Presence of a Gay Foreigner in a Mesh T-Shirt" (algo como Bruno – Deliciosas Jornadas Através da América Com o Propósito de Deixar Machos Heterossexuais Visivelmente Desconfortáveis na Presença de um Estrangeiro Gay em uma Camisetinha de Malha). Mas optaram apenas por "Brüno", hahaha.
O filme confundiu os órgãos que estabelecem a censura, da Austrália à Alemanha. Na Austrália, que é sossegada nesse sentido, "Brüno" chegou a ganhar um R 18+ e teve de ser editado para passar para mais gente.
Brüno, que fala um "inglês austríaco", recentemente botou fogo no programa do apresentador Conan O’Brien, no "The Tonight Show". A entrevista foi bem engraçada e o "fashionista austríaco" fez sua sexy dance na mesa de O’Brien, para depois sentar no colo do apresentador.
Não aguento e vou contar a cena da luta livre gay. Brüno vai até uma cidade do interior dos EUA para promover o grande evento local, a luta livre. Fake, óbvio. Criou o evento "Blue Collar Brawlin" e disse que iam ter cinco grandes lutas a apenas US$ 5 o ingresso, balada cheia de garotas e com cerveja gelada custando US$ 1. Espalhou o flyer com a info e recebeu na "arena" cerca de 1.500 pessoas. Depois de quatro lutas medíocres, o público local já achando que foi ludibriado, entraram no ringue os dois últimos oponentes. Brüno e um sujeito apresentado como "Straight Dave", hahaha. Começaram a "luta", um rasgando a roupa do outro, e passaram a se beijar e se lamber no ringue. Foi mais ou menos isso o que aconteceu.
Vassever!!!, como diz o Brüno, em inglês-austríaco que dá vontade de sair falando depois de ver o filme.
* Colaboração especial para a edição #25 da revista A Capa – Agosto de 2009