A morte de Marcelo Campos Barros por traumatismo craniano é triste. A bomba jogada em cima dos transeuntes na Vieira de Carvalho é um horror arcaico e levou mais de vinte para o hospital.
Porém, tem gente que insiste em colar esses atos a Parada Gay. Oras, nem a Polícia Militar o fez. O que nós temos são atitudes homofóbicas e violentas vindas de pessoas que se aproveitam de um momento de forte aglomeração de homossexuais – nada mais natural após uma parada gay que reúne milhões.
E tal ideia nem é tese minha. A delegada Margareth da DECRADI já havia alertado em debate promovido pela Associação da Parada do Orgulho LGBT que, no dia da parada os LGBTs são alvos fáceis e por isso se trata de um dia tenso. Portanto é preciso separar o joio do trigo:
– uma coisa é a parada de gay de São Paulo que reúne milhões de pessoas e seus poucos mais de 60 furtos;
– outra coisa são os cidadãos livres festejando o único dia em que são visto e que por isso mesmo, por viverem nesse dia a sua homossexualidade (que deveria ser pública cotidianamente, mas aí já falamos de outra coisa) são vítimas de ataques homofóbicos, que ocorrem todos os dias em todo o Brasil e inclusive na paulicéia e ninguém fica indignado.
Sendo assim, ficar reforçando a história da parada gay ser inviável, violenta é má vontade, generalização e senso comum.
Essas tragédias aconteceram não por causa da parada gay, mas por que vivemos em uma sociedade e sistema político, judicial e educacional fortemente homofóbicos, conservadores e reacionários. Porque o povo não fica nervoso com Carapicuíba? E o projeto de lei anti homofobia municipal que o prefeito Kassab vetou, tudo bem? E a baixa adesão a campanha Não Homofobia, normal?
Por que os colunistas e jornalistas, tanto da mídia especializada quanto da não segmentada, não gastam a caneta com outros casos de homofobia que rolam o ano inteiro? Mais uma pergunta, por que não fizeram ampla divulgação da pesquisa da Fundação Perseu Abramo que aponta a sociedade da qual eu falo e que, só poderia dar nisso… Poderia não, todos os dias um LGBT é vítima de algum tipo de homofobia.
A Parada gay e a APOGLBT cumprem o seu papel: fomentar visibilidade. Quem está ausente é o nosso sistema barra sociedade.