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“Não peça apoio aos gays”, dizia Clodovil à Salete Campari; Saiba como foi a despedida do estilista

"Clodovil, Clodovil, Clodovil", gritavam os centenas de fãs e amigos no instante em que o caixão, já lacrado, entrava em uma perua para seguir rumo ao cemitério do Morumbi. Poucas horas antes, enquanto descia a Avenida Brigadeiro, me deparei com uma cena inusitada. Dentro de um carro, um homem gritava para as pessoas na rua: "Vocês não vão ver o homem?".

O fato remetia a uma crônica do jornalista Andrês Sandoval escrita na revista Piauí em 2007 e intitulada ‘Poucos sabem morrer’, na qual, um dos personagens afirma que saber morrer é causar comoção nacional ou internacional. Pensando assim, Clodovil teve um velório "chiquérrimo", como ele referia-se a si, visitado, segundo a Polícia Militar, por mais de mil pessoas durante toda a tarde. Entre os amigos, tanto desconhecidos como famosos, e fãs.

O corpo chegou ao Hall Monumental da Assembleia Legislativa por volta do meio-dia vestido com um terno de linho branco costurado pelo próprio estilista. A essa altura, em pé ao lado do caixão, estavam alguns rostos que nem o próprio estilista, apresentador de TV e político conhecia. Nomes como o dos jovens gays Sidney Vieira, 22 anos, e Fernando Souza, 19 anos. Eles contaram à reportagem que passaram toda a madrugada de ontem e manhã desta quarta-feira (18/03) andando de um lado para o outro no intuito de ver seu ídolo pela última vez. "Ele me ajudou a descobrir o mundo", revelou Sidney.

Babados e confusões
O fluxo de pessoas em torno do caixão continuava intenso, mas o deputado federal pelo PTC, Ciro Moura, não passou despercebido. Depois de liderar um pedido de cassação a Clodovil, ele decidiu aparecer no velório, mas foi expulso pela advogada do estilista. Outras situações inusitadas também foram registradas, como quando um homem entrou gritando no salão frases cristãs do tipo "O senhor é convosco" e , "Glória" e foi retirado pelos policiais, ou quando o vereador e cantor Agnaldo Timóteo entrou no hall cantando a música ‘Noites Traiçoeiras’.

Famosos
Outras personalidades também deram o último adeus a Clodovil antes das 15h, a apresentadora do programa ‘Hoje em Dia’ da Record, Cris Flores; o deputado federal e cantor Frank Aguiar, as atrizes Vida Vlat (conhecida por interpretar Ofrásia, a empregadinha do Clodovil) e Sônia Lima; além do deputado federal Celso Russomano, e da presidente da APAE, Jô Clemente.

Enquanto Cris Flores afirmou que a homossexualidade sempre foi uma dificuldade a mais para o estilista, Frank Aguiar declarou que havia se tornado companheiro de Clodovil. "Nós participamos da mesma comissão e fizemos vários debates juntos". Já Celso Russomano se lembrou de um dos projetos do falecido. "Ele fez um projeto para que fosse criado um tipo de testamento para casais homossexuais, assim no caso de um morrer o outro não ficaria sem nada".

Desmontada, a drag Salete Campari também apareceu antes do fim das homenagens e conversou com o site A Capa. "Não tínhamos uma relação de amigos, mas éramos colegas", disse. Quando perguntada se Clodovil havia influenciado sua entrada na vida política, ela surpreendeu. "Se eu tivesse prestado atenção nele, talvez estivesse eleita. Ele sempre disse pra eu me candidatar como gari, mas nunca pedir apoio aos gays".

Poucos sabem morrer
Presidida pelo padre Juarez de Castro, uma cerimônia foi realizada em torno do caixão por volta das 15h30. O sacerdote leu em voz alta o salmo 23 ("O Senhor é o meu pastor e nada me faltará"). Em seguida, o caixão foi tampado e levado por um cortejo de amigos e policiais até uma perua. Um ícone se foi, ficaram os aplausos.

Os bens de Clodovil serão doados para uma instituição de crianças carentes. O corpo do estilista foi sepultado pouco antes das 17h no Cemitério do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo.

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