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Natura desenvolve perfume baseado em novo livro de João Silvério Trevisan

João Silvério Trevisan lança o seu novo livro no próximo dia 28 de agosto na Livraria Cultura do Conjunto Nacinal. "Rei do cheiro" conta a história de um perfumista que fica famoso por causa do seu produto. Por conta disso, a empresa de cosméticos e beleza Natura divulgará uma "tradução" do cheiro descrito na mais recente obra do escritor. O responsável pela essência baseada no personagem do livro é Thierry Beassard, da Givaudan, e Veronica Kato, perfumista exclusiva da Natura. Mas a fragrância não chegará às lojas, já adianta Trevisan. 

Trevisan é personagem da história homossexual no Brasil. No final da década de 70 foi um dos fundadores do grupo SOMOS, uma das primeiras organizações políticas de libertação sexual. De 78 a 81, fez parte do conselho editorial do jornal "Lampião de esquina", publicação mensal voltada para as questões gays. Hoje, assina a coluna "Olho no Olho", na revista G Magazine. 

Trevisan seguiu a vida como escritor e lançou em 86 o livro "Devassos no paraíso", obra fundamental para se entender as questão políticas e sociais dos gays brasileiros. Nos anos 90, o seu romance "Sete balas num buraco só" fez grande sucesso. É autor também de "Ana em Veneza", uma de suas principais obras. Apesar disso, João diz que nunca foi "resenhado pela grande mídia". Além dos sucessos enquanto romancista, é também grande contista. Seu conto "Dois corpos que caem", onde dois personagens dialogam em queda livre do Edifício Itália, no centro de São Paulo, está entre os 100 melhores do século XX.

Segundo o autor foram 20 anos de pesquisa e trabalho para compor "Rei do cheiro". Trevisan afirma que essa obra não é otimista, mas é "uma crítica necessária ao atual momento que vivemos no Brasil". Na entrevista, ele revela o seu futuro trabalho, como foi estudar os perfumes e como surgiu a parceria com a Natura. Confira esse papo exclusivo do A Capa.

Por que o seu novo livro se chama "O rei do cheiro"?
"Rei do cheiro" é a história de um empresário de perfumaria. Nesse romance eu trabalhei a ideia de como nasce uma grande fortuna no Brasil. Aí eu abordei um empresário que cria um império de perfumes a partir de uma loja que se chama Rei do cheiro na [rua] 25 de Março. Esse nome tem várias leituras, acusa inclusive a relação dele com as drogas e também com o fato dele ter uma sudorese muito grande. No fundo ele quer resolver um problema pessoal através disso tudo, mas isso é componente marginal da história.

Esse cara se torna um novo representante da nova elite brasileira que começou a despontar na década de 70 em plena ditadura brasileira, quando houve toda a proteção à indústria nacional a qual se enquadrava a produção de perfumaria. A partir de lá essa produção disparou e hoje o Brasil é o terceiro maior consumidor de perfumes no mundo, bateu inclusive a França. O romance vai desembocar no painel de um Brasil contemporâneo no qual se acotovelam empresários, políticos, religiosos, representantes da mídia e todos eles concentrados numa situação, a qual eu não vou revelar, que entra em cena o PCC [Primeiro Comando da Capital], que no meu romance se chama CROC – Comando Revolucionário Organizado do Crime.  E não por acaso o romance termina nos ataques de 2006.

Como surgiu a parceria com a Natura?
A Natura me abriu as portas. Eu tinha que montar uma empresa e mal sei lidar com as minhas finanças. Não sou muito organizado nesse aspecto e tive que correr atrás de parâmetros já existentes para poder montar a minha empresa em uma área que eu conhecia muito pouco, a da perfumaria. Dentro da Natura eu conheci um poeta, o Rodolfo Mutila, que é um dos diretores de uma área. Através dele a Natura abriu as portas generosamente. Eu tive aulas e workshops de perfume, conheci todas as dependências, fiz pesquisas junto a levantamentos econômicos pra ver como é que era a situação da Natura. Eu precisava de todos esses referenciais pra conseguir entender como é que seria uma grande empresa na área de perfumaria. Também estive na Boticário e pesquisei pequenas empresas.

No que isso ajudou na composição do personagem?
Propiciou-me um mergulho verossímil na ficção do meu personagem. Tem um capítulo em que eu faço uma visita nas dependências da empresa do meu personagem e eu precisava aprender tudo isso.

E o perfume "O rei do cheiro"?
Não é que a Natura vai patentear um perfume com o nome do meu livro. No livro tem uma descrição olfativa. Um perfumista, Thierry Beassard, da Givaudan, uma maison de parfum, que na verdade é quem faz os perfumes… Ele me fez uma sugestão com elementos que pudessem compor o perfume do meu personagem, no qual está integrado um óleo que é fetiche no meu romance que é Ang Lang. O perfume tem como nota de corpo esse óleo. A partir dessa descrição a Natura e esse perfumista desenvolveram uma fragrância apenas para a noite de lançamento.

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