"Me ver beijando na boca de outro homem, era tudo o que as pessoas queriam". A frase foi dita por Ney Matogrosso durante a coletiva de imprensa realizada antes da primeira exibição de "Depois de Tudo" (2008), curta de Rafael Saar que teve sua estréia no II For Raibow – Festival de Cinema da Diversidade Sexual, realizado entre 05 e 09 de setembro na cidade de Ceará.
O cantor que recusa levantar bandeiras a favor da causa GLBT – "Não quero ficar limitado a estandarte" – só aceitou fazer o filme por causa da temática. "Só aceitei fazer o filme para levantar a questão. Conheço outros casais gays na 3° idade. Portanto o assunto tem que vir a tona, tudo tem que ser sabido. O cinema ainda não explorou este assunto. A realidade está ai, chicoteando a pessoas", enfatizou Ney.
No curta de 12 minutos, o cantor faz um homem casado com uma mulher, que mantêm um relacionamento extraconjugal com outro homem (interpretado pelo ator Nildo Parente) há 35 anos. Cenas do cotidiano como cozinhar, ver filme, dormir abraçado e beijos ternos preenchem a tela de sutileza e sensibilidade, numa história que ganha pelo retrato seco e objetivo da situação, sem cair nas armadilhas da pieguice.
"Eu acredito em monogamia. Não acho que seja fácil. Não consigo, mas acredito", afirmava um bem humorado Ney, reforçando a história ficcional. A voz de Gal Costa preenche o vazio deixado pelos vãos da história que não é preenchida com palavras. O único senão do filme é a fotografia – escura demais – que dá um tom sombrio e decadente para a situação e por vezes dificulta um melhor entendimento das ações.
O II For Raibow em Fortaleza, em seus cinco dias de programação apresentou cerca de 50 filmes entre curtas e longas, em sessões gratuitas à tarde e a noite. A presença do cantor na projeção do curta que ocorreu na segunda-feira (08/09) gerou expectativa e desagrado no público que aguardava o inicio da sessão.
"Você tem certeza que o Ney está aí dentro? Estou vindo aqui há três dias, quero pegar o autografo dele, já tenho da Lucia Veríssimo. Estou tão ansiosa. Eu não tenho nenhum cd dele, mas minha irmã tem", relatava a bem humorada Cecília Brasileiro de Oliveira.
Atrasos eram comuns no inicio das exibições. Em virtude da coletiva concedida pelo cantor, a sessão começou após 30 minutos, o que gerou reclamações inflamadas de quem esperava do lado de fora do Centro Cultural Sesc Luiz Severiano Ribeiro – Cine São Luiz. "Gostaria de saber como que vocês querem fazer um festival que favoreça a população, dê acesso a cultura, e atrasa o filme. Como vou pegar ônibus 23h30 para ir embora? Tudo por causa de uma pessoa que nem mora aqui", esbravejava uma jovem que não quis de identificar.
Saar saiu do festival agraciado com os premiados de melhor roteiro e desenho sonoro. O que vêm a ser "desenho sonoro" foi à conversa nos bastidores. Ninguém soube explicar. Aproveitando a presença do ator cearense na cidade, a organização lhe concedeu uma menção honrosa pelo conjunto da obra – cerca de 60 filmes. "Fico surpreso como um estado machista como o Ceará, comporta um festival desses" afirmou o cantor.
*Colaboração especial para o site A Capa