Prestes a fazer aniversário, a incansável Nina Lopes tem muita história para contar. No Brasil, ela talvez seja uma das primeiras lésbicas assumidas (e muito bem resolvidas, diga-se de passagem) a apostar num nicho de mercado que, antes do surgimento do site e revista Sobre Elas, nem era possível de se imaginar no Brasil.
Com um séquito fiel de leitoras, Nina consegue dizer, em apenas algumas poucas palavras, tudo o que uma mulher gostaria de ouvir. E de mulheres ela entende muito bem. Não é à toa que sua coluna é uma das mais comentadas do Dykerama – um verdadeiro presente para ela própria e para as internautas, que são brindadas toda semana com textos sensíveis e inteligentes.
Nesta entrevista, Nina conta um pouco sobre o início de sua carreira – no jornalismo e atrás das pick-ups – fala sobre seus gostos musicais e discorre sobre o mercado lésbico no país. E para esquentar as expectativas para a festa Super Dyke, da qual ela é residente, Nina preparou um podcast super dançante, que traduz a animação dos sábados na Ultra Diesel. Ouça clicando no player acima.
E não se esqueça: neste sábado, dia 9, a Super Dyke comemora o aniversário de Nina Lopes e recebe como convidado o DJ Rodrigo Baron. E ainda tem a também residente Cris Villela mandando bem com seu tribal house. Para colocar seu nome na lista e ganhar desconto na entrada, acesse www.superdyke.com.br.
Confira a entrevista a seguir:
Dykerama.com – Como você começou a escrever?
Comecei como brincadeira, em um blog chamado “Libélula – 30 anos depois”, onde eu falava sobre meu cotidiano e minhas experiências como homossexual assumida. A partir dele nasceu o site Sobre Elas, depois a revista e, por fim, o convite para ser colunista do site Mix Brasil.
Dykerama.com – Há algum tema que você prefere abordar em seus textos?
Quem conheceu o meu blog tinha acesso a uma Nina engraçada e irônica que foi naturalmente se transformando em referência sobre relacionamentos lésbicos. Não foi algo que escolhi, apenas aconteceu. Gosto de escrever sobre relações, experiências que vivi ou que presenciei amigos vivendo. E gosto também de falar sobre ser lésbica assumida. Já recebi diversos e-mails de pessoas me agradecendo por ajudá-las a aceitar a própria sexualidade a partir dos meus textos.
Dykerama.com – E sua carreira de DJ?
Ah, isso é um sonho de adolescente! Eu sempre fui a DJ dos bailinhos em casa, em meados de 80, mas nunca imaginei que um dia esse sonho se tornaria realidade. Um dia, respeirei fundo e pensei: o que me separa de ser uma DJ profissional? Nada! Levantei as mangas, fiz um curso e encarei as pick-ups em público. Não minto que ainda é dificil para mim, pois sou extremamente tímida, mas ver o público dançando com as músicas que eu toco é impagável, vale toda a pena.
Dykerama.com – Como é seu set? Quais são suas principais influências?
Eu gosto de comercial! Não tenho vergonha de dizer. Alguns DJs abominam os que tocam músicas comerciais mas não me intimido. Toco as “10 mais” da FM sem medo de ser feliz. Procuro colocar uma novidade no meio ou um antigo sucesso com uma nova roupagem, mas a base do meu set sempre será aquela música que todos ouvem no dia-a-dia.
Acho legal você poder dançar uma música que te acompanha a semana inteira, muitas vezes em lugares que você não pode “se jogar”. Então, minha pista sempre é um convite para dançar e cantar bem alto aquela música que você a-d-o-r-a.
Em casa, só ouço tribal ou electro quando estou procurando músicas novas ou preparando meu set. No cotidiano gosto de ouvir MPB, lounge, New Age, erudito e pop internacional. Acho importante manter os ouvidos abertos para outros sons.
Dykerama.com – O que você está preparando para a Super Dyke? Pode nos adiantar alguma coisa?
O set que gravei para esta entrevista é um resumo da “ópera-pop” (risos). Tenho encerrado minha apresentação com a música “Everybody Up”, quando entrego os fones para o próximo DJ e pulo a música inteira, convidando a pista para “levantar” comigo, como sugere a letra. É o momento que eu também posso curtir e dançar uma música que gosto de ouvir.
Dykerama.com – É possível falar em um mercado para lésbicas no Brasil? Se sim, como ele é formado e como se comporta esse público?
A gente ainda está engatinhando nesse sentido. Vejo a dificuldade como resultado da secção dentro do próprio universo LGBT. Ao contrário do que muitos imaginam, não se trata de um meio onde todos se dão as mãos em busca de um bem maior. Há muita rixa, competição e batalhas egóicas. Acho lamentável esse quadro. Eu, como pessoa pública e nós, do Dykerama, já sofremos bastante resistência de elementos da nossa própria comunidade. Acho que poderíamos estar anos luz na frente de muitos países se parássemos para ver que, sim, a união faz a força. Lutamos, todos, pela dignidade ao homossexual. Não seria mais lógico lutarmos lado a lado ao invés de uns contra os outros?
Dykerama.com – Gostaria de dizer mais alguma coisa?
Venham me ajudar a apagar as 26 velinhas do meu bolo no sábado!
Confira abaixo o set list do podcast de Nina Lopes:
Fragma – Toca´s Miracle
Mischa Daniels feat Tash – Round And Round
Rihanna – Disturbia
The Pussycat Dolls – When I Grow Up
Altar feat. Jeanie Tracy – Everybody Up