No final de semana nos jogamos nas boates que permeiam a cidade, paqueramos, bebemos e conversamos, as mãos ficam dadas, às vezes os braços entrelaçados e os beijos correm soltos para quem quiser ver. Nestes momentos esquecemos fazer parte de um segmento que muitas vezes é importunado pela não aceitação dos outros. Enfim, nessas ocasiões vivemos o que realmente somos, porém a noite de domingo chega e para o trabalho temos que nos preparar. E como está hoje essa relação dos GLBT com os ambientes corporativos HT?
Como será para um gay ou uma lésbica trabalhar em um lugar onde as personagens são predominantemente heterossexuais? Na hora do happy hour, nas festas da empresa, nas conversas alheias na hora do expediente, nesse mundo será que as relações mudaram? Num ambiente da advocacia fala-se sobre isso? Nas administradoras? Nas grandes empresas? Ou seja, no círculo do paletó e gravata o armário está aberto?
“Sempre me comportei de forma heterossexual no trabalho, afinal estou ali para trabalhar e não expor minha opção sexual, pois acredito que independente da minha escolha sou capaz de executar qualquer tarefa tão bem como qualquer heterossexual ou qualquer sexualidade imaginável”. Leandro*, 21 anos, trabalha como estagiário em um escritório de advocacia.
Para Fernanda*, 22 anos, que trabalha em uma multinacional de tecnologia também não há muito drama nessa questão, “bem não vejo muita complicação, no sentido gay trabalhando em ambiente hétero, até por que, pode parecer uma idéia meio fechada, mas ambiente de trabalho é formado por funcionários, são humanos, tem sentimentos e blá blá blá… mas estamos ali pra trabalhar, pelo menos para mim funciona assim”.
Aqui são duas pessoas de uma mesma geração. E se fizermos um recorte para uma geração anterior? “Estou nesse trabalho há muito tempo, tenho conseguido alguma ascensão profissional e também tenho uma boa circulação entre as áreas. Porém me parece claro que tudo isso se deve ao trabalho que venho desenvolvendo e, sobretudo porque as pessoas não têm clareza sobre a minha orientação sexual”, afirma Rafael, 33 anos, consultor de RH.
E como será o dia-a-dia deles nos respectivos ambientes de trabalho? Assumiram já não declarar ou falar sobre a orientação sexual de cada um, sendo assim, sujeitos e vulneráveis estão a piadas e comentários de cunho machista e homofóbico, ou não? “Claro que não podemos fugir do dia-a-dia, sempre há comentários sobre homossexuais sejam as piadinhas ou os comentários homofóbicos mesmo. Das piadinhas até dou risada, não considero ofensivo. Há piadas com gays assim como com bêbados, loiras , etc … e se fossemos levar a sério haja Joãozinho metendo processos por aí. Em relação a comentário homofóbico se minha opinião for necessária todos a terão com muito prazer”. Assim Fernanda encara o cotidiano.
“As conversas sempre giram em torno dos mesmos temas: baladas, faculdade, provas e assuntos banais. Mas, sempre considerei ambiente de trabalho um lugar inapropriado pra amizades ou envolvimentos afetivos mesmo que ‘de amizade’. Por conta disso, sempre me senti extremamente bem”, relata Leandro. Rafael vai além e fala sobre a impossibilidade de se falar da vida pessoal para colegas do serviço, “outros momentos bem difíceis, para aqueles que se vêem obrigados a ficar no armário, são as conversas pós-final de semana. Sempre contam o que fizeram, para que balada foram, que passaram na casa da sogra, brincando com seus filhos. Para os que ficam dentro do armário, é muito difícil dizer em que balada foi, qual o último barzinho que você conheceu etc”.
Leandro que diz nunca ter gostado de assuntos gays não faz disso um assunto no escritório onde trabalha "apesar de grande parte das pessoas que me conhecem saberem da minha opção não fico me expondo a comentários maldosos ou qualquer outro tipo de agressão, não por medo ou recalque e sim por que acho necessário preservar minha integridade ao máximo”. Fernanda acredita na separação total do trabalho e vida pessoal. “Ambiente de trabalho é ambiente de trabalho, por mais que a cervejinha gelada na sexta feira seja muito boa acompanhada das fofocas do escritório e crie um clima descontraído. O que a maioria deles faz, seja entre quatro paredes ou com quem anda de mãos dadas no shopping, não me interessa”.
Rafael acredita no hibridismo profissional X pessoal, mas é sincero quanto à vida que leva em sua empresa, “Juntar os amigos do trabalho com os amigos pessoais, seria algo como juntar duas tribos completamente diferentes. Seria como juntar Capitalistas Selvagens com Socialistas Utópicos. Porém se paga um alto preço: deixar de ser totalmente feliz em um ambiente que você passa a maior parte do tempo de sua vida”.
*Os nomes originais foram alterados a pedido dos entrevistados.