Carinho profundo…
“É uma sensação maravilhosa, sentir a mão e o braço mergulhados num buraco quente, úmido e viscoso”
A primeira vista pode ser assustador, dolorido e gerar uma série de dúvidas. Passado o impacto e o susto, torna-se intrigante e até excitante. É impossível ficar indiferente ao fetiche, ou à idéia, do fist fucking, uma técnica que envolve a inserção da mão, punho e, algumas vezes, do braço, no ânus, reto e intestino.
Ao contrário do que se imagina, o fisting fuck envolve paciência, sensibilidade e muito, mas muito cuidado.
“É um momento de total sintonia entre os parceiros”, diz André, 43 anos, dono do perfil “andrejr”, no site do Disponivel.com. Adepto de uma pegada mais hard durante o sexo e um dos usuários mais ativos (em ambos os sentidos) do site, André está em 9º lugar no ranking geral de visitas e tem a terceira página mais visitada do estado do Rio de Janeiro. Sua página conta com 3.530 fotografias, além de 143 vídeos.
Fister, o ativo na relação fisting, André pratica há pelo menos oito anos, quando fistou pela primeira vez um cara em uma termas de Ipanema. “Ele era muito experiente e foi um fisting radical. Quase coloquei o antebraço inteiro dentro dele. A partir daquele momento, fiquei fascinado pela prática”, conta.
Dogão, como é conhecido, diz que fez um levantamento e já fistou mais de 50 caras diferentes, sem falar nos parceiros constantes. “Fistando tive algumas das minhas experiências sexuais mais prazerosas”, revela. “É uma sensação maravilhosa sentir a mão e o braço mergulhados num buraco quente, úmido e viscoso”, descreve a sensação de ter os membros inseridos num ânus.
Experiente, ele diz que quem controla o fisting é o fistee – o passivo. “Não é fácil agüentar a penetração de uma mão”, reconhece André. “É preciso estar atento às reações do passivo e ter muita paciência até que se consiga a penetração inteira. Depois tem que se trabalhar com calma na dilatação e na profundidade”, explica. Para ele, “o fisting requer uma sintonia e afinidade entre os parceiros ainda maior que numa relação sexual tradicional”.
Sobre a penetração da mão, Flávio, 33 anos, dono do lendário perfil “queroserfistado” no Disponivel.com, diz que o que assusta na hora do fisting é a “expectativa da dor”. “Você não tem uma noção exata do que acontecerá quando a mão estiver lá dentro. A passagem da mão pelo esfíncter é o momento dramático do ato… Mas depois que a parte mais larga da mão passa, é só alegria. É impossível descrever”.
CUIDADO E CALMA
Para praticar o fisting, é essencial ter muita calma e paciência. “Você não consegue fistar nem ser fistado às pressas ou à força. É preciso trabalhar com calma, ter cuidado com o passivo. Nem sempre se consegue concretizar o ato na primeira vez”, adverte André, emendando uma dica. “É bom treinar alargamentos com plugs e consolos antes.”
Confiar no parceiro e estar relaxado também pode ser elementos para garantir um bom fisting. Flávio cita que uma vez estava com dois rapazes e eles queriam fistá-lo, um deles estava alterado, provavelmente por uso de entorpecentes, e isso o deixou travado. “A mão dele não entrou de jeito nenhum. Acho que por instinto de sobrevivência mesmo, o seu corpo não permite que você seja penetrado por um corpo estranho não confiável”, explica.
Já sobre os brinquedos sexuais como auxiliares da prática, Flávio tem a mesma opinião de André. “Dildos sempre ajudam muito. Ajudam a dilatar o esfíncter e, conseqüentemente, na hora da entrada da mão.” No entanto, o médico Paulo Branco, proctologista e colunista de saúde da revista G Magazine, aconselha evitar objetos pontiagudos e afiados. Prefira os flexíveis, com pontas revestidas e anatômicas para que o esfíncter seja aberto gradativamente enquanto a penetração evolui.
Se durante o sexo anal a lubrificação é recomendável, na hora de fistar ou ser fistado, ela é indispensável. “Gel é importantíssimo”, diz Flávio. O lubrificante veterinário J-Lube e o CRISCO são os mais indicados para a prática. O J-Lube é um pó que, misturado à água, vira um líquido viscoso. É vendido livremente em sex-shops americanos e pode ser encontrado em sites internacionais como o <www.expectations.co.uk>. Já o CRISCO, é a gordura hidrogenada americana, clássico para os praticantes do fisting.
O uso de luvas e a troca destas a cada penetração também é recomendável, embora nem sempre seguida pelos adeptos. O argumento é que sem luvas há menos atrito e a mão desliza melhor. Na relação, elas desempenham o mesmo papel da camisinha, de proteger contra DSTs que também podem ser transmitidas pelo fisting fuck.
DOR E PRECONCEITO
Durante toda essa matéria você já deve ter percebido que o fisting é uma técnica que requer muitos cuidados. A prática envolve alguns riscos, os mais freqüentes são sangramentos, dor e incontinência. “Como atendo o público G há 10 anos, já atendi pacientes com dificuldades para a prática, e pacientes com complicações da relação anal. É difícil quantificar, mas atendo toda semana”, revela o Dr. Paulo Branco.
É comum acontecer sangramento e, em geral, ele pára naturalmente. Especialistas orientam para que o ativo da relação avise quem está sendo fistado, para este decidir se a prática continua ou não, caso ocorra o sangramento. Se o sangramento persistir por muito tempo após o ato, é recomendável procurar um médico. As dores podem indicar danos aos esfíncteres, que podem ser tratados com relaxantes musculares, banhos quentes e até abstenção. Quanto a incontinência, existe a constatação de certa incidência, mas em casos isolados.
Por ser uma prática ainda pouco difundida no Brasil, as reações que o fisting causa são bastante controversas. Flávio e André fazem coro ao dizer que a prática é vista com preconceito. “Acho patético as pessoas terem vergonha de admitirem até que são passivos. Cada um tem que se satisfazer do jeito que gosta”, diz Flávio. Já André, conta que recebe mensagens de pessoas dizendo que não encarariam um fisting, mas acham a prática excitante.
Por falar em mensagens, ambos contam também que já receberam muitas mensagens negativas e depreciativas por conta das imagens em seus perfis. Quando Flávio postou seu primeiro vídeo de fisting, em 2006, recebeu muitas opiniões com o polegar virado para baixo. “Fiquei impressionado como as pessoas perdiam tempo ao escrever mensagens para me ofender.”
Admitir o gosto pela prática fora do espaço virtual, quando se conhece alguém, por exemplo, não é uma boa idéia, segundo os entrevistados. “Já perdi boas transas por falar demais antes de o ato começar. Aprendi a lição. Não cometo mais esse erro”, afirma Flávio.
Apesar do choque que causa, o fisting tem ganhado cada vez mais espaço na internet com a criação de blogs, fóruns, comunidades e perfis de adeptos. Para Flávio, isso é uma prova de que “a melhor forma de acabarmos com o preconceito é mostrando ao mundo que o que é diferente também é normal”.
Dr. Paulo Branco
www.medicinaintegrada.med.br
paulobranco@terra.com.br
* Matéria originalmente publicada na edição #15 da Revista A Capa – Agosto de 2008