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Nós, os marginais

Se alguém ainda tinha dúvida de que os homossexuais são tratados como sujeitos a margem da sociedade, as duas ultimas semanas foram ótimas para revelar o grau de intolerância que ainda permeia na sociedade brasileira. E o mais espantoso, os exemplos vieram das ditas metrópoles avançadas e modernas: Rio e São Paulo. E pior, também veio de um alto representante da instituição Mackenzie.

Vamos lá. Na semana passada o reverendo e chanceler Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes, divulgou uma carta pública contra a criminalização da homofobia. No texto publicado no site da universidade Mackenzie, o religioso afirmou que a referida lei é um atentado contra a liberdade de expressão, pois, na visão dele, os religiosos tem todo o direito de pregarem contra os homossexuais. E numa tentativa de inverter os papeis, afirmou que o PLC 122/2006 é um atentado contra os Direitos Humanos. E as pessoas assassinadas por motivos de intolerância, representam o que?

No ultimo domingo a Avenida Paulista, uma das regiões mais gays e desenvolvida economicamente da cidade de São Paulo, foi palco, mais uma vez, de ataques homofóbicos. Quatro jovens com idade entre 16 e 18 anos agrediram outros quatro rapazes com idade entre 18 e 23 anos. O álibi usado pelo advogado dos agressores foi torpe: um dos agredidos paquerou um dos agressores e que tal ato justificou a “confusão” que terminou em forte agressão.

Também no ultimo domingo, mas na cidade do Rio de Janeiro, após a realização da Parada Gay carioca, um jovem gay foi baleado por um oficial do Exército do Rio. No depoimento, o baleado revelou que foram humilhados e que os oficiais os ameaçaram de morte e que se pudessem “matavam um por um”, no caso, homossexuais. A cena aconteceu no Parque Garota de Ipanema.

O que nos choca são os símbolos envolvido nos três casos: o primeiro partiu de um doutor de uma das principais universidades do Brasil; o segundo envolve jovens da classe A paulistana, aliás, os jovens são estudantes do colégio Dante Alighieri; e o terceiro e ultimo caso envolve uma instituição que deveria zelar pela segurança e não o contrario.

Ou seja, os principais pilares da sociedade revelaram as suas garrafas repletas de homofobia e sangue. E ainda por cima temos que lidar com juízes e advogados que desejam transformar os homossexuais vitimas da intolerância em réus. Os argumentos usados são os mesmos dos machistas que desejam justificar o estupro: a garota estava com uma roupa sensual demais…

Também não podemos esquecer do segundo turno da eleição presidencial. Onde o PLC 122/2006 foi vitima de uma campanha reacionária e os candidatos a presidência cederam ao lobby religioso. Os setores conservadores/reacionários estão dez passos a frente dos grupos progressistas. O movimento LGBT terá de fazer campanha constante e fortalecer o seu lobby pró-direitos gays, caso contrário, a criminalização da homofobia será enterrada na gaveta, por onde já tramita há quatro anos.

E ainda teremos de continuar a escutar dos setores religiosos que nós provocamos a violência homofóbica, pois, somos sujeitos que não vivemos no caminho de deus. O machismo e a homofobia ainda prevalecem e o Estado Laico vai permanecer na lata do lixo.

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