Mulheres de Areia
Você já teve um relacionamento “Mulheres de Areia”? Eu explico: você conhece a criatura toda dócil, meiga, compreensiva, tolerante, companheira, amável (mãe, pai, irmão, amiga, amante, tudo). Quando você quer sair ela sempre está disponível e nunca questiona nem mesmo o lugar mais estúpido e desagradável que você quer levá-la. Gosta dos mesmos livros e das mesmas músicas que você, sempre diz que adora todos os seus amigos, que sua família é o máximo, que você tem um charme estonteante que sempre a seduz… Mesmo quando ela teve um dia infernal e está explodindo de dor de cabeça e irritada com tudo, aceita seus convites idiotas, e na TPM diz que só quer ficar quietinha e mais nada. Tudo está sempre bom para ela. Sabe por quê? Simples: porque “ela te ama” e está sempre feliz ao seu lado. Ela é tão, tão especial que além de todas as virtudes superiores que ela tem, é uma pessoa simples e desprovida de quaisquer interesses! Pois bem, essa é a mulher dos sonhos de qualquer pessoa. Vulgo “Rutinha”.
Daí você resolve, claro, casar com essa doce e amável criatura. Nos primeiros meses você está no céu, porque além de ser um sonho, descobre que o segundo nome da sua amada é Amélia, já que essa doce criatura leva café da manhã na cama, guarda suas bagunças e arruma a casa, e não porque você pediu, mas sim porque ela quer cuidar de você! Gentem, olhem esta mulherrr!
Porém, após o sexto mês, você começa a perceber outras coisas na sua amada… Digamos que ela anda muito irritada e sem um motivo aparente. Ela começa a esculachar seus amigos, implicar com os papos furados da sua irmã que liga na sua casa, começa a reclamar que a grana está curta e que ela está de saco cheio de tudo, que você anda se vestindo mal, que ela não é p… para transar todo dia e na hora que você quer, porque não recebe nada por isso, e quando ela está no telefone e você pergunta quem era, ela responde que não é da sua conta. Você descobre que sua amada fala mais palavrões do que deveria até chegar o dia que ela vai mandar você se fo… e ir pra p… que pariu… Muito prazer esta é a Raquel.
Agora começa o “cabo do medo”. Ela nunca quer sair de casa, chora por qualquer motivo, vive ameaçando te largar porque a relação está uma droga, que os meses estão passando e ela não sabe o que esta fazendo com você. Tem ciúme neurótico até do sabonete, lê todos os seus emails, porque óbvio que a esta altura ela já tem todas as suas senhas (email, Orkut, banco etc..), enfim, ela já tomou conta da sua vida! Vive te pondo para baixo, que você está feia, que você precisa emagrecer, ou precisa fazer academia pra adquirir músculos, já que você está flácida… Você sai toda empolgada pra balada, mas depois de uma hora ela começa a bocejar dizendo que está com sono, que teve um dia infernal e que nem devia ter saído de casa! Você olha no espelho e percebe que esta “dormindo com o inimigo” e que o “amor além da vida” com essa mulher é… no inferno!
Muito bem, a pior parte: como separar dessa criatura? Você dorme e acorda pensando no que fazer pra se ver livre desse demônio em forma de gente, mas nem consegue maquinar nada porque a Raquel não deixa, seja no banheiro ou na cama, na cozinha, dirigindo, ela está te infernizando o tempo todo. Nesse tempo você já esta tomando Prozac e Rivotril, descobre uma úlcera nervosa, e nem beber pra esquecer mais você pode porque senão morre de choque-anafilático ou, claro, Raquel pode te matar dormindo, porque ela não suporta mais a sua somatização por pura falta de preocupação, já que certamente é isso que ela vai alegar pras suas frescuras!
Para finalizar, quando você realmente consegue deixá-la, começa a fazer tratamentos pra cabeça, emocional, físico, espiritual e blá blá blá… E percebe que todos os seus amigos estão estranhos com você, porque a versão da história que a Raquel deu a eles faz de você um monstro sem coração! Enfim, uma verdadeira “psicose” na sua vida.
Infelizmente você “não tem” como reconhecer a Raquel que existe por trás da meiguice daquela fofucha lindinha e boazinha que você conheceu naquela balada, ou naquela festinha do amigo fofo que te trouxe a sorte grande: o “encontro marcado” com a sua “alma-gêmea”.