Qualquer criança de sete anos sabe que o que move o mundo é o boca a boca. Por mais grana que se gaste em propaganda, marketing, o que for, se a coisa não cai na boca do povo não adianta, não vai pra frente. Essa corrente de recomendação desinteressada faz o sucesso desde a bolacha até o livro. No meu caso, interessa falar do livro.
É, infelizmente não posso falar dos benefícios do boca a boca, mas sim da dificuldade de contar com ele. Não adianta ter ilusões, por mais liberadinho que o mundo esteja hoje, por mais que a gente veja pessoas buscando manifestar livremente suas opiniões e modos de vida, o armário ainda é um móvel bastante presente e muito utilizado nos lares brasileiros.
Quem lê os livros de um escritor gay, ou melhor dizendo, livros com histórias gays? Qualquer um pode ler, uma vez que, desde sempre, gays lêem os romances hetero, assistem as novelas, filmes e tudo mais. Ninguém precisa estar ligado de forma tão direta na trama pra poder curtir. Neste aspecto, felizmente tenho vários exemplos, porque não são poucos os leitores hetero que manifestam satisfação com meus livros.
Porém, mesmo eles, nessa situação, se colocam um pouco no armário. Exemplo prático: Tem um casal de conhecidos meus que adoram os livros, mas se sentem meio constrangidos dos filhos saberem dessa leitura. Detalhe, filhos de 20 a 25 anos, não crianças. Entre os gays, parece que a coisa é ainda mais grave. Quem quer se esconder acha que o simples fato de ter um livro na estante vai entregá-lo. E pode ser que entregue mesmo.
Como é que vai rolar o boca a boca? Quem vai contar na mesa do bar o que está lendo, demonstrando empolgação com a história? Quem vai ver o livro na mesa de centro, ou no criado mudo da casa de algum amigo quando for visitá-lo? Difícil né?
Porém, no meio desse jato de pessimismo que eu mesmo estou jogando, alguma luz vem se abrindo ao longo dessa minha trajetória. Hoje tive uma ótima conversa com um leitor, lá de João Pessoa, na Paraíba, que me demonstrou que, ainda que poucos, já existem aqueles que não sentem tanta necessidade de se esconder. Reproduzo uns trechos:
Aki na minha regiao a grande maioria nunca ouviu falar de vc, tow te divulgando geral. Rsrs.
Já achei bom, alguém que está curtindo a leitura disposto a compartilhar com amigos. Mas melhorou:
Isso q vc falou é verdade… Infelizmente muita gente ainda se esconde. Achei uma grande sacada disponibilizar o livro em versao ebook, pois fika mais acessível p essa nossa geracao q nao tem tempo p nada, e nao larga o pc nem os celulares…
Sim, o e-book surgiu da praticidade e também da demanda. Muita gente pedindo pra ter no computador, por não poder "esconder" o livro em casa. Ele então fechou com chave de ouro:
Alguns amigos vão comprar em e-book, pois já disse que não vou emprestar, vamos valorizar o trabalho do escritor né, vamos comprar… KKK 😀
Fala sério, este é ou não é o tipo de leitor que todo escritor precisa?
Beijão!