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O avanço do Estado Evangélico

O artigo quinto da Constituição brasileira de 88 garante o livre exercício de todas as religiões e que o cidadão que não tiver religião não terá os seus direitos negados, ou seja, vivemos em um Estado onde a questão da fé fica na esfera do privado. Aqui o Estado se move pela questão republicana e democrática. Pelo bem comum de todos.

Porém, neste Brasil que as pessoas adoram falar ser “tolerante”, “exótico” e “diverso” temos vivido um momento pra lá de estranho, coisa que há dez anos seria inimaginável: o avanço das idéias para a criação de um Estado Evangélico, e tal movimentação começou no fim dos anos 90 e começo do século XXI.

As agremiações evangélicas entenderam que não bastava ter canais de rádio, TV e meios impressos para espalhar as suas respectivas visões sobre o mundo, assim, passaram a se politizar e também a fundar partidos políticos, caso do PL (Partido Liberal), hoje PR (Partido da República). Porém, hoje os parlamentares religiosos estão espalhados por todos os partidos, da direita à esquerda.

A partir de então, estes parlamentares ligados a igrejas também entendem que é preciso formar um bloco nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e claro, no Congresso Nacional, para desta maneira barganhar os seus Projetos de Leis… Na real, estas bancadas pouco apresentam, funcionam mais para barrar tudo aquilo que está fora do ponto de vista deles: aborto, qualquer projeto em torno dos LGBT, debate sobre drogas e retirada do ensino religioso das escolas.

A primeira grande batalha da bancada evangélica no Congresso Nacional será contra o PLC 122/2006, que visa criminalizar a homofobia em todo o Brasil. A partir desta lut, a camarilha religiosa enxerga na luta contra os direitos gays o seu motivo mor de existência. Passa então a empreender uma verdadeira “guerra santa” que até o momento tem vencido. Hoje, nenhum projeto progressista passa pelo congresso sem o crivo da bancada fundamentalista.

Outro detalhe que revela a morbidez como este agrupamento atua é a campanha que eles fazem contra candidatos locais que abraçam publicamente a questão LGBT. Basta pesquisar e ver o que fizeram com a ex-deputada Iara Bernardi (PT-SP) e Fátima Cleide (PT-RO), uma verdadeira pichação com os dois nomes. A atual prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins também encarou uma forte campanha religiosa nas eleições, outdoors diziam que Lins havia transformado a prefeitura de Fortaleza em Sodoma e Gomorra. Felizmente, Luizianne foi vitoriosa, mas na maioria dos casos é a derrota que dá o tom.

E, assim como parte dos religiosos saíram do armário e resolveram abraçar a pauta anti-gay, o discurso de ódio destes grupos também legitimou que grupos de extrema direita e simpatizantes de idéias fascistas dessem as caras e até uma marcha em São Paulo foi realizada. A união do que há de pior: Estado Teocrático e Fascismo.

Na edição desta semana a revista Época traz reveladora entrevista com o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus. O  chefe religioso deixa bem claro qual vai ser o tom das próximas eleições: Malafaia diz que todos os próximos candidatos terão que dizer em que acreditam e que eles, a bancada religiosa são o maior empecilho no Congresso Nacional no que diz respeito à pauta gay.

Posto assim fica muito claro que estamos vivendo um momento de forte ataque a laicidade do Estado. De que estes grupos, que agora, ao redor do Brasil apresentam projetos que propõem a criação do dia do orgulho do heterossexual, mais do que criar tal comemoração querem é disseminar a cultura do ódio e da intolerância, todos camuflados atrás do senhor Deus, ou Jesus. Farsa. Se cristo existiu, seria o primeiro a jogar pedras e tomates na porta de tais templos. Pois, de tudo eles fazem, menos pregar a ideia cristã, que era libertadora e não de castração.

Quando caímos na questão dos programas religiosos na televisão, fica claro que é necessário uma regulamentação dos meios de comunicação. Se a sublocação de canais é proibida, por que então tal fato acontece e nada da lei ser aplicada? Se o Estado é Laico, por que então se permite que pastores e pessoas praticantes da fé concorram  cargos que, na teoria, tem de representar a todos, independente da religião?

Estas gangues camufladas de religiosas têm um projeto muito claro: ele é de poder aliado à religião. Eles têm um objetivo: ocupar cargos executivos e impor um Estado Evangélico. Levar as mulheres de volta para a cozinha, os homossexuais para o gueto e cadeia, impor o pensamento único e banir todas as outras religiões e ideias existentes.

Além da questão do gênero, a luta pela aplicação do Estado Laico também é urgente. No ultimo domingo manifestantes a favor do Estado Laico ocuparam a Avenida Paulista. Cerca de 300 pessoas, o que é muito pouco, pois, quando Malafaia e companhia resolvem fazer atos em vias púbicas colocam milhões na rua.

Vai ser preciso muita política e Marcha pelo Estado Laico para que se evite a implementação de um Estado Evangélico no Brasil.

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