Menu

Conteúdo, informação e notícias LGBTQIA+

in

O Caralho do Rock: Blog desnuda roqueiros para mostrar um outro lado do universo gay

O mundo gay vive de estereótipos, guetos e regras estéticas e comportamentais. Dentro do universo de tabus, um deles persiste: gays no rock. Afinal, pode ser bicha, curtir rock e ter um visual rústico, largado e desleixado?

Pode. O blog O Caralho do Rock, no ar desde 2001, vem lutando bravamente nas ondas da internet para provar que gay e rock tem tudo a ver. E mais: cultuando o tal visual “roots” dos roqueiros brasileiros, com direito a ensaios sensuais protagonizados pelos próprios músicos – alguns tirando até a roupa toda.

Para destrinchar essa trincheira underground, entrevistamos o criador do blog, Fábio Justino, 28 anos, formado em letras, revisor e editor de texto, educador cultural e eterno apaixonado por rock. E por roqueiros, claro.

Como e quando começou O Caralho do Rock?
Surgiu há uns dez anos, por ócio criativo mesmo. De bobeira comecei a reunir material sobre rock, porque curtia rock, curtia os caras também, e comecei a colocar numa página na internet.

Por que O Caralho do Rock?
Porque era só sobre homens. Os caras do rock. Então cabe esse trocadilho. Os Caralhos do Rock.

Mesmo que um roqueiro fosse homofóbico, você colocaria no blog?
Colocaria e informaria, que eles tinham tido esse boato e tal. Por exemplo, quando falei do Phil Anselmo, do Pantera. A banda tem vários boatos sobre homofobia, tanto que informei.

Quando começou essa coisa de fazer ensaios sensuais com os roqueiros brasileiros?
Isso foi mais recente. Na primeira fase do blog, ele foi deletado do servidor, acredito que por alguma censura, porque tinha um conteúdo pornográfico. Tinha ensaios de músicos como Peter Steele (1962-2010, vocalista da banda de metal Type O Negative, posou nu para a revista “Playgirl” em 1995). Creio que foi deletado por isso. Depois de muito tempo, decidi voltar com um formato mais simples. Comecei a ter contato com caras de bandas e a querer primeiramente fazer entrevistas com eles. Depois tomei coragem de convidar os caras para as fotos.

Como você aborda os caras?
Primeiro convido pra entrevista, aí depois que aceita, convido para as fotos, porque não é obrigatório. Se o cara quiser dar só entrevista, sem as fotos, pode ser, como já aconteceu.

A estética dos ensaios é bem diferente. Como você planeja esse visual? 
Por ser um site de rock, queria que se diferenciasse um pouco de um site gay. Queria que abordasse mais gente. Como a maioria dos caras não tem a ver com a coisa gay, eles se incomodam um pouco com o fato de serem tratados como símbolos sexuais, ou homens-objeto. Não querem, como eles falam, ficar ‘pagando de gatinho’, não gostam disso.

Você pensa em ser mais ousado, colocando nudez frontal?
Talvez isso espante um pouco ou ‘guetifique’ um pouco o blog. E estou querendo abrir mais. O fato de o blog ser gay já assusta um pouco as bandas. E ser gay e pornográfico, talvez assuste mais ainda. Então tenho pensado nisso, mas não sei se vou manter essa autocensura. Tem cara que não quer nem tirar a camisa. Dá muito trabalho, mas o céu é o limite e quem dá esse limite são eles. Eles tiram as fotos do jeito que querem. Acho que a sensualidade não vem necessariamente da nudez.

Você acha que ainda existe preconceito contra gays no rock?
Acho que existe sim. Não por ser especificamente do rock. Acho que as pessoas são preconceituosas, e o rock é muito masculino.

Mesmo diante de bandas seminais do rock, com vocalistas gays, como o Queen?
Aí eles curtem as bandas, mas esses caras não eram ativistas, não levantavam bandeira nenhuma. O gay pra ser respeitado no rock não pode levantar bandeira. Como o cara do Judas Priest, que é um ícone, e as pessoas vão gostar dele apesar de ele ser gay. E geralmente eles conseguem respeito antes de se assumirem gays.

O blog já sofreu homofobia?
Tenho alguma repercussão negativa dependendo da banda e do fã da banda. Já tive muito problema com fãs do Pantera, que me diziam que o blog era uma das poucas referências em português sobre a banda. E eles achavam que eu prestava um desserviço, por escrever certas coisas, embora eu dissesse o que era ou não boato. Às vezes entra gente me xingando e eu ignoro. Hoje em dia eu administro os comentários. Filtro mesmo, sem dó, se começa a xingar gratuitamente…

Qual seu objetivo com o blog?
O blog quer levar informação para as pessoas, além de estimular a pluralidade de perfis, para que percebam que a coisa gay não é limitada, que existe mais gente. Não existem muitas iniciativas desse tipo. O Grind (festa domingueira da casa noturna paulistana A Lôca) mesmo deu uma perdida, porque cresceu muito e teve de se abrir. Quando você foca para os gays já é um filtro, se você foca para os gays que curtem rock é um filtro maior ainda. Agora, falar do cara é apenas um gancho para discutir algum assunto. Por exemplo, teve uma época em que alguns emos foram espancados no México por homofobia. As pessoas que espancaram achavam que emos eram gays. E eu fiz um post sobre isso.

Você postou no blog uma foto onde você está nu, com um cartaz escrito “O Caralho do Rock” cobrindo o sexo. Você pensa em posar nu para seu próprio blog?
Preciso ter uma banda (risos), o critério é esse. Senão não tem sentido.

Podemos concluir então que se você tiver uma banda, você vai posar?
Ô! (risos). Com certeza…


Fábio Justino, o criador do blog

Foto 1: Noel Rouco, da Rock Rocket
Foto 2: Rodrigo Lima, da Dead Fish

*Matéria originalmente publicada na edição nº45 da revista A Capa – Maio de 2011

 

Sair da versão mobile