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O caso Eloá e a comoção midiática

Na terça-feira de manhã abri o jornal e vi a seguinte informação: enterro de Eloá atrai dez mil pessoas. Não acreditava no que lia, no mínimo havia ali um misto de bizarrice com necrofilia e claro, o estar presente no grande fato do momento. Mas, que fato?

A leitura sobre o porquê disso, no caso, DEZ MIL PESSOAS irem ao enterro de uma desconhecida que, infelizmente namorou com um rapaz problemático e possessivo, que na sua frieza premeditou todo o caso. Mas, voltemos para a comoção pública. Ao ver esse caso voltou a minha mente a velha questão do Público X Privado. O caso Eloá deixou claro que nunca antes vivemos sem a noção do espaço individual e do público. O que leva uma pessoa a sair de Minas Gerais para olhar por dez segundos uma jovem morta no caixão?

A primeira coisa que pensei foi o que coloquei no primeiro parágrafo, uma morbidez e um niilismo enorme que boa parte das pessoas vive hoje. Se formos pensar no mundo real, um clichê surge: todo dia morre uma Eloá na mão de um Lindemberg. Se assim é, por que esse caso virou esse espetáculo? A mídia sem querer descobriu que ali havia um outro caso Nardoni e com um enredo perfeito: três amigos, periferia, um namoro desde a adolescência e o desfecho com a morte da namorada. Imagine os preços para se anunciar nos intervalos dos jornais e dos programas de fofocas?

E aí também começa outra bizarrice: a mídia. A apresentadora Sonia Abrão que fez uma entrevista medonha depois dela veio outros… Depois do desfecho ainda tiveram a cara de pau de dar mais espaço para um garoto que ainda não caiu em si e ta achando tudo um barato. A mídia fez o seu espetáculo baixo, semana que vem mal se lembrará do Lind… O pior de tudo é que em Santo André mesmo no começo do ano aconteceu uma barbárie bem pior: policiais invadiram casa de três travestis, botaram fogo nas roupas delas, no cachorro e ainda as agrediram.  Não saiu em lugar nenhum.

O que choca também são as 12 mil pessoas que foram para o enterro da garota.  Para se sentirem vivas correram para o cemitério para se sentirem parte daquilo, uma história na TV, um sorriso na câmera… E com chama a menina mesmo? Fico imaginando a família vendo aquele mundaréu de gente desconhecida e babando de prazer em cima do caixão da Eloá. Pois, é inegável que todos ali ao passarem em frente do caixão dela sentiram gozo, frio na barriga, alimentaram o seu fetiche e o seu medo de estar ali, no caso, no caixão.

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