Adoramos traduzir o sexo em números. Quantas vezes, em quantas posições, quais medidas e, principalmente, quanto tempo. Realmente, parece que um dos fatores que condiciona a satisfação das relações sexuais é o tempo que se investe nelas. Também parece que, quanto mais tempo, melhor. Mas a verdade é que durar demais também pode ser problemático. Escutamos constantemente sobre a ejaculação precoce, mas pouco do outro lado da moeda, a ejaculação retardada. Segundo dados do Instituto Sexológico Murciano, estima-se que, na Espanha, entre 1% e 4% dos homens sofram desta disfunção. Como acrescenta o mesmo instituto, entende-se por ejaculação retardada “a dificuldade para ejacular mesmo quando se produz uma ereção completa e suficiente excitação e estimulação sexual”. Vale acrescentar que o habitual é que a dificuldade apareça durante o ato sexual, já que, como insistem no centro, “85% dos homens com ejaculação retardada são capazes de alcançar o orgasmo por meio da masturbação”. Mais falta de concentração do que de desejo Para entender um pouco melhor por que existe esta demora na ejaculação, o urologista e especialista em Medicina Sexual e Reprodutiva, Carlos Balmori, explica que é importante “diferenciar o que é uma ejaculação retardada de origem psicológica daquelas que têm base física ou orgânica”. Portanto, o especialista especifica que “as de origem psicológica são aquelas que apresentam uma demora na ejaculação, ou até mesmo a ausência de ejaculação, com persistência de pelo menos seis meses. O indivíduo vive esta situação como uma situação de estresse e, além disso, não tem origem física ou mental, nem da administração de medicamentos ou de drogas, nem por problemas severos de relação com a parceira”. Seria mais um problema de concentração, que o impede de se desinibir e se deixar levar pelo ato sexual. O Instituto Sexológico Murciano enfatiza que “poucas vezes a falta de desejo é a causa”, diferenciando, além disso, entre a ejaculação retardada primária, “apresentada por homens que nunca foram capazes de ejacular durante o ato sexual”, da secundária, que é a que se dá em “homens capazes de ejacular durante o ato sexual alguma vez na vida, mas que não são mais capazes de fazê-lo”. Os tempos da ejaculação Talvez parte do problema seja traduzir o tempo que dura o encontro sexual pelo tempo necessário para ejacular. Não podemos esquecer que o ato sexual é composto de mais práticas do que a penetração. No entanto, existem estudos que se concentraram em medir os tempos da ejaculação. Concretamente, a Sociedade para a Terapia e a Investigação Sexual afirmou que o encontro é “curto demais” quando dura de 1 a 2 minutos; “adequado”, de 3 a 7 minutos; “desejável” de 7 a 13; e “muito longo”, de 10 a 30. Sobre esses ideais temporários em torno do sexo, a sexóloga Marina Agis contribui que “um dos fatores que podem ser atribuídos é o pornô, no qual vemos atores fazendo maratonas até o ato sexual concreto”. Em contrapartida, esclarece que “temos que acabar com essa relação qualidade-tempo, já que ela não contribui com nada de bom para nossas relações sexuais. Isso ajudaria a solucionar muitas das dificuldades, não apenas de ejaculação, mas também relacionadas à ereção”. A influência das drogas Além dos problemas já citados, outra das principais causas da ejaculação retardada é o uso de remédios, como antidepressivos. O Instituto Sexológico Murciano afirma que os remédios que mais retardam a resposta ejaculatória são os antidepressivos, ansiolíticos e medicamentos para a pressão arterial. De acordo com um relatório publicado por esse centro, “a ejaculação retardada acontece em 16-37% dos homens que tomam ISRS (inibidor seletivo de recaptação de serotonina)”, acrescentando que “alguns tratamentos para disfunção erétil, em alguns casos, também podem causá-la”. Não se esquece de citar o consumo de álcool e drogas, além de casos de possíveis danos neurológicos: “o dano nervoso causado por acidentes cerebrovasculares e lesões da medula espinhal ou neuropatias diversas, condições como a esclerose múltipla”. Por último, afirma que “a diabetes também pode criar problemas para a realização da ejaculação”. Outro perfil de paciente, segundo o urologista Carlos Balmori, são os “acima de 50 anos, possivelmente por diminuição dos níveis de testosterona e por certa perda da condução da sensibilidade das vias nervosas”. Como curiosidade, “também é mais suscetível na população asiática”. Possíveis tratamentos O urologista responde que, nestes pacientes, em relação a tratamentos, foram testados “certos remédios, como a yohimbina, a ciproeptadina ou a efedrina, mas todos sem sucesso”. Nos casos que têm a ver com o uso de remédios, dependerá principalmente da duração do tratamento, em geral, “o único tratamento com resultado para ejaculações retardadas são as terapias sexólogas”. Balmori explica que “normalmente são utilizadas as técnicas descritas por Master e Johnson, que consistem principalmente nas dessensibilizações sistemáticas, às quais são adicionadas técnicas comportamentais de aproximações sucessivas. Sempre é mais fácil uma terapia em casal, se for com a colaboradora, embora seja possível também de maneira individual. No entanto, é uma patologia que exige bastante tempo de tratamento e não é fácil de ser resolvida”. Dando mais detalhes sobre essas terapias, a sexóloga Marina Agis afirma que elas começariam “alargando o período de excitação ou iniciando novos jogos eróticos concentrados em pontos diferentes da penetração, inclusive é recomendável vetar essa prática por um tempo, para que ele relaxe”. Como exemplo, “por meio de uma massagem erótica (evitando, em princípio, os órgãos genitais), buscando outras zonas erógenas. Também podem ser usados óleos de massagens e velas. O importante é não pensar no final, mas no que se está vivendo e sentindo”. Reportagem produzida por SILVIA C. CARPALLO e publicada no El Pais.