O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) é o entrevistado desta semana pelos leitores da revista "Época". O parlamentar, que foi o vencedor do Big Brother Brasil em 2005, cumpre seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados e é o principal integrante da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT.
Um dos leitores questionou Jean Wyllys do por que, sendo baiano e sempre lutando pelos direitos dos homossexuais na Bahia, ele foi para o Rio de Janeiro se candidatar.
"Primeiro porque sou livre e porque as fronteiras do Rio não estão fechadas a pessoas de outros Estados que decidam construir ou reconstruir suas vidas aí; segundo porque, quando decidi me candidatar, já morava no Rio há quase seis anos e, portanto, havia transferido, para o Rio, o meu domicílio eleitoral e, no Rio, eu pagava meus impostos; terceiro porque o Rio não é feito só de fluminenses aí nascidos, mas também por centenas de milhares de migrantes nordestinos, inclusive baianos, que escolheram o Estado para viver e com o qual colaboram com seu trabalho (basta olhar para a Rocinha e para o Complexo da Maré)", explicou o deputado.
Jean afirmou ainda que "o Rio tem a tradição de eleger políticos não-fluminenses como Brizola [ex-governador Leonel Brizola, 1922-2004, gaúcho], Gabeira [ex-deputado federal Fernando Gabeira, mineiro] e Lindberg Farias [senador, paraibano]". O parlamentar ainda fez questão de ressaltar que sendo deputado federal, legisla para a federação e não apenas para o Estado do Rio.
Em uma das perguntas, um leitor usou o termo "opção sexual" para saber de Jean se quando ele atuava em comunidades da Igreja Católica ele era assumido. "Assumi minha orientação sexual (a homossexualidade definitivamente não é uma opção ou uma questão de opção; assim como a heterossexualidade, é tecida numa relação íntima entre natureza – genética e biologia – e cultura) aos 16 anos de idade", declarou. "Em rede nacional, apenas disse e mostrei uma identidade sexual que já havia assumido há anos. Aos 16, me afastei do movimento pastoral da igreja católica e da comunidade eclesial de base, não porque havia sido discriminado lá, mas porque havia sido aprovado para a Fundação José Carvalho, um colégio interno filantrópico e de referência voltado para alunos de escolas públicas da Bahia que tivessem média acima de 8", explicou o deputado.
Apesar de não ter sofrido discriminação na Igreja Católica, Jean afirma que o discurso da instituição o ofende profundamente. "Me afastei da Igreja Católica de uma forma geral porque o discurso da instituição principalmente acerca da homossexualidade – principalmente aquele proferido por sua ala conservadora, que é a maioria – me ofende profundamente, assim como me ofendem a tentativa da Igreja de destituir a mulher dos direitos sobre seu corpo e a proibição do uso da camisinha. Não concordo que a homossexualidade seja um pecado. E acho pouco cristão proibir o uso da camisinha quando na África as pessoas estão morrendo como moscas por causa da Aids".
Durante a entrevista, o deputado respondeu que "informação de qualidade e canja de galinha não fazem mal a ninguém" para explicar que não se apega apenas à bandeira da defesa dos homossexuais. "Qualquer consulta básica ao site do meu mandato ou qualquer acompanhamento um pouco mais atento de minha atuação parlamentar pela TV Câmara ou pelo site da Câmara vai mostrar que eu não me apego apenas à bandeira da defesa dos homossexuais".
"Informação de qualidade e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Só para ter uma ideia, todos os projetos que votei ou audiências públicas que propus na Comissão de Finanças e Tributação nada têm a ver com a questão da homossexualidade; têm a ver com os direitos dos consumidores, dos contribuintes, dos idosos, dos servidores públicos etc. Mas ainda que eu me apegasse apenas a essa bandeira, isso não deveria ser um problema já que os homossexuais até então nunca contaram com um parlamentar que defendesse seus direitos sem ressalvas ou senões (e olha que LGBTs correspondem a 10% da população – estatística subestimada) e já que existem outros deputados que se dedicam a apenas um tema e nem por isso são patrulhados. Além disso, é preciso que se entenda que ‘os problemas e as injustiças do Brasil’ deveriam ser mais uma preocupação do poder Executivo, seja em nível federal, estadual ou municipal; logo cobranças como essa deveriam ser dirigidas mais ao presidente, aos governadores e aos prefeitos", completou.
Por fim, Jean Wyllys afirmou que suas perspectivas quanto a aprovação do PLC – projeto de lei que criminaliza a homofobia e ganhou modificações – estão melhores. "As perspectivas melhoraram um pouco. O projeto se transformou: ganhou um apensado cujo texto está sendo construído pela Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT e, depois de submetido às diferentes representações do movimento LGBT, será discutido tanto na Câmara quanto no Senado com as bancadas evangélicas. A ideia é que se chegue a um acordo que não seja ruim para os LGBTs e assegure a livre expressão religiosa e que permita que o projeto seja votado até outubro".