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O drama do pós-viagem

ALUCINAÇÃO: Uma vez um professor [Eu faço faculdade de letras, lembra?] me disse que você descobre se é feio num ônibus.

A teoria é simples: Uma pessoa entra, olha para os lados e senta próximo de quem julga ser mais bonito, ou mais bem vestido. Naquele dia, (Após deixar o Léo para sempre em Pernambuco) eu quis testar minha aparência.

Entrei na lotação sentido São Matheus, (zona Leste de São Paulo e reduto das *Jhonnys) carregando uma mochila enorme de lã e chorando sem parar. [Sim, agora eu posso contar, quem se importa com o lugar onde eu moro?]

FLASHBACK: Assim que cheguei em Pernambuco, o Léo me disse:
-Onde você vai com esta mala? [Por que eu levei aquele trambolho pra um lugar onde as pessoas não usam roupas?]

Mãezinha, eu sei que devia ter te ligado pra que fosse me buscar, mas eu não merecia. [Eu tinha te deixado, lembra?]

ALUCINAÇÃO: Sentei num banco próximo da porta e fiquei esperando as pessoas entrarem. Vocês acreditam que a lotação ficou cheia, depois mais cheia e… o banco ao meu lado continuou vazio? [Léo, você conseguiu. Eu estava me sentindo a bicha mais feia da terra].

FLASHBACK: Quando desfiz a mala em Pernambuco, peguei uma cueca vermelha que tinha comprado para uma ocasião mais íntima e coloquei.

– Olha, Léo.

– Olhar o que? Veste a roupa que minha mãe está em casa.

ALUCINAÇÃO: No caminho todo do aeroporto até o lugar onde moro, entre um soluço e outro, eu fiquei com a impressão de que as pessoas queriam que eu morresse. [Vocês vão ter o que querem em breve]

– Poc-poc!
-Pobre
-Amigo do Jhonny. [Será que nem isso eu consigo esquecer?]

AÇÃO: Assim que coloquei os pés em casa.
-Mãezinha, não me olhe com essa cara de pena. Eu estou feliz. Sou gay.

REAÇÃO: – Plaft! (Uma porta bateu com violência ao fundo)

Eu chorei por dois meses sem sair de casa.

*Jhonny: Bicha poc-poc e pobre

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