Apesar do frio e da chuva, quem foi na noite da última terça-feira (10/06) ao Teatro Eva Herz, dentro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, presenciou um evento inspirador. O festival ‘Homocultura no Século 21: identidades e representação’ trouxe para cerca de 80 presentes, dentre personalidades importantes no cenário cultural e jovens talentos, o que há de melhor na cultura voltada para o público gay. Além da exibição de animações como ‘A descoberta de Luke’ e shows musicais de Cláudia Wonder e da vocalista da banda feminista Dominatrix, Elisa Gargiulo, recitação de poesias e performances teatrais.
Mas nem todos os LGBTs se sentiram representados. Durante debate com o tema, ‘Representações da diversidade sexual na cultura: o que o século XXI já trouxe de novo?’, a colunista da Revista da Folha, Vange Leonel, afirmou: "Senti falta de poesia lésbica, de alguma menina recitando uma poesia que nós escrevemos."
Quando a reportagem de A Capa chegou ao local, às 18h, o festival ainda não tinha começado. No centro do palco com cenografia do artista plástico Vitor Mizael (camisas alongadas por cerca de 6 metros para dar sentido de entrelaçamento entre iguais), algumas poltronas e um telão foram colocados. Ao fundo, o próprio Vitor Mizael, dava pinceladas de tinta para finalizar uma obra, fato que só aconteceria ao final das apresentações, às 21h40.
O silêncio momentâneo foi interrompido quando o ator Lucas Sancho anunciou a primeira atração, a exibição dos curtas ‘A descoberta de Luke’, premiado no 16º Festival Mix Brasil (2008); ‘Antonio Marcos – Vitória Principal’, do diretor Wilton Garcia e ‘Homo Erectus’. Em seguida, um primeiro debate: ‘Existe uma homocultura? Se não, o que estamos fazendo aqui?’.
Enquanto Vange Leonel confirmou a existência desse movimento artístico com ressalvas – "O gay não é o único definidor" – o diretor teatral Osvaldo Grabrieli comentou sobre a criação da ideia de gueto. "Não parece legal ligar uma obra à sexualidade", disse. Já o diretor do grupo Mix Brasil, André Fischer, disse não acreditar na existência de uma cultura gay. "O que há de comum entre a homocultura do Brasil e Vietnã? Só Madonna… é muito pouco", declarou.
Polêmica
No segundo debate, a discussão girou em torno das novidades que o século XXI trouxe para homocultura. E enquanto o escritor Marcelino Freire fazia citações do livro do jovem poeta Hugo Guimarães, "Poesia Gay Underground: História e Glória", Vange Leonel, que estava sentada em uma das poltronas, indagou: "Posso apimentar o discurso?". Ao receber resposta afirmativa, ela continuou. "As lésbicas não estão representadas, será que o machismo impera também na homocultura?". Os palestrantes desconversaram e finalisaram as discussões.
Poesia falada e cantada
Entre um debate e outro, os presentes acompanharam leituras de livros e poesias, além de representações teatrais. Nas leituras, destaque para o poeta Horácio Costa e suas poesias homoeróticas. Já nas representações, Osvaldo Gabrieli e Beto Firmino em interpretação marcante de ‘O público’, homenagem a Garcia Lorca, roubaram a cena.
Por volta das 21h, Vange Leonel subiu ao palco e, no teclado, fez parceria com a voz e o violão de Elisa Gargiulo. Juntas, elas cantaram duas músicas, entre elas, ‘Filhas, mães e irmãs’, da banda Dominatrix. Para encerrar, a transexual Claudia Wonder exibiu seus sucessos para aplausos intermináveis da plateia.