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“O meio gay é o mais homofóbico que existe”: Walcyr Carrasco fala sobre Félix e as “bichas más”

O autor Walcyr Carrasco revelou em um texto na sua página do Facebook que o vilão Félix seria uma mulher na sinopse original de "Amor À Vida".

"Quando criei o Félix, de Amor à vida, foi uma surpresa para mim mesmo. Minha ideia inicial era fazer uma vilã tradicional. Já havia falado com a atriz Flávia Alessandra, uma malvada excepcional em Alma gêmea. Mas ela estava na novela da Glória Perez. Convidei Claudia Raia, que chegou a aceitar. Mas, depois, ela também foi para a novela da Glória. Fiquei pensando: que atriz seria essa vilã, capaz de jogar um bebê numa caçamba? Então, me deu um clique. Por que não um gay cruel? Eu mesmo me assustei com a ideia", explica Carrasco.

"Quando se escreve uma novela, que atinge milhões de pessoas, a pressão é inacreditável. Grupos exigem que se apresente um mundo perfeito. Se há um personagem negro, tem de ser bonzinho – ou sou acusado de racismo. Se é gay, também tem de ser do bem. Não admito o "politicamente correto". Pessoas são pessoas. Arrisquei. Criei o vilão gay, que vive num armário. Mas num armário ruído por cupins. Ele desmunheca, fala maldades, é invejoso. Houve quem dissesse que jamais seria aceito pelo público. Que os movimentos gays me apedrejariam. Apostei", continua o autor.

Em seguida, Carrasco disse que sofreu muito preconceito dos próprios gays quando se assumiu bissexual recentemente.

"Recentemente, declarei que sou bissexual. Fui apedrejado por homossexuais, segundo os quais deveria ter me declarado gay. Respondi: tive relacionamentos com várias mulheres na minha vida, a quem amei. Seria um desrespeito a elas dizer que tudo foi uma mentira. Simplesmente, porque não foi".

O autor discorre sobre o preconceito que existe dentro do próprio mundo gay. "Já conheci muitas 'bichas más', como Félix. Fazem piadas. É um contínuo bullying com quem está perto e é mais frágil. Mexem com quem engordou, está malvestido, tem muito dourado na casa ou é pobre e 'brega'. O meio gay é o mais homofóbico que existe. As mais 'pobrinhas' são chamadas de 'bichas pão com ovo'. As que praticam muita musculação, 'barbies'. O ataque entre si é muitas vezes mais cruel que o da sociedade".

O desabafo de Carrasco surge num momento crucial da trama, onde a sexualidade de Félix é descoberta por toda a família e tornou-se o epicentro da novela.

"Félix não é uma bandeira a favor ou contra os gays. Por fugir do estereótipo do bonzinho, talvez fale de liberdade mais que qualquer personagem planejado para dar uma boa imagem. Alguém que não é aceito, que se sente diferente desde criança, nem sempre se torna uma vítima. Mas pode se transformar em algoz. Cada ser humano tem o direito de escolher sua vida, desde que não prejudique o próximo. Não há uma regra para definir quem é melhor ou pior, como exigem tantos grupos religiosos. Embora eu sempre insista: a mensagem cristã máxima é de aceitação. Todo Félix tem uma saída: ser amado. Félix é meu filho. Como todo pai, torço por ele. Até os próximos capítulos!".

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