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“O mercado brasileiro gay ainda é restrito ao sexo e à diversão”, diz criador da DOM

O mercado editorial gay foi surpreendido com uma notícia bombástica nas últimas semanas: a revista DOM, publicada pela Fractal Edições, a mesma da G Magazine, parou de circular já no começo de agosto e não deve voltar a ser distribuída tão cedo.

Segundo fontes ligadas à DOM, ao contrário do que se poderia imaginar, a crise econômica não é a única culpada pelo suposto fim da publicação. A revista retomava as vendas em banca e contava ainda com a simpatia dos anunciantes. Mas problemas internos de administração vinham desgastando a publicação. O site A Capa tentou ouvir o dono da Fractal, o empresário Fabiano Campagnoli Netto, mas foi informado que ele estava viajando.

À reportagem, Augusto Lins Soares, criador e diretor de redação da DOM, ressaltou a importância da revista para o mercado editorial gay. "Apesar do pouco tempo de mercado, a DOM já mostrou que é uma revista de verdade. Nossa proposta é e sempre foi tratar e abordar o universo gay com naturalidade", disse.

O jornalista também lamentou os impasses envolvendo a DOM e fez uma crítica contundente sobre a atual situação do mercado GLS. "O mercado brasileiro gay precisa se profissionalizar (e muito!) para que possa crescer e aparecer. Ele ainda é imaturo no campo dos negócios e restrito aos assuntos mais ligados ao sexo e à diversão", opinou.

Este é o segundo golpe que a publicação recebe em menos de um ano. Em dezembro do ano passado, após uma crise na Editora Peixes, a DOM parou de circular, juntamente com outros importantes títulos da editora. Três meses depois, voltou às bancas já sob a administração da Fractal.

Sobreviventes
Duas revistas continuam firmes e fortes no mercado: a Junior, do Grupo Mix Brasil, e a Aimé, da Editora Lopso, cuja 9ª edição chega com atraso às bancas na próxima semana. Ambas as publicações continuam com periodicidade bimestral.

André Fischer, diretor da Junior, comenta a saída de sua principal concorrente e diz que o fim da DOM "não é uma boa notícia". "Isso sinaliza para os anunciantes que o mercado gay não é tão forte quanto se imaginava", afirma.
 
Questionado se esse é um bom momento para investir em novos produtos, Fischer se mostra prudente. "Estamos pensando nisso sim, um título para banca e o próprio guia [de turismo, que é encartado na Junior], mas não é agora para este ano", adianta.

Para o diretor da Junior, o momento é de agir com cautela, sem deixar, no entanto, de apostar em novas empreitadas. "O motivo do sucesso da Junior é o fato de conhecermos o mercado e sabermos que temos que ir com um pé de cada vez. Sabemos que este é um mercado ainda em formação", pondera.

Pelo menos por enquanto, não há planos de tornar a Junior uma revista mensal. "A Junior sempre foi pensada para ser bimestral, mas uma ideia é lançar números especiais, temáticos, nesse meio tempo", revela.

Com o fim da DOM, Fischer diz que a tiragem da Junior, que hoje é de 20 mil exemplares, deve subir para 22 mil. "Não houve um aumento substancial de venda em banca. Mas vendemos 50% mais exemplares que a TPM e quase o mesmo que a Trip [ambas da editora Trip]", comenta. "A verdade é que não basta estarmos sozinhos nas bancas, temos que realmente nos comunicar com o público. Não adianta fazer uma capa super conceitual para depois não vender nada", conclui.

Odyssey
Na cola do sucesso da revista A Capa, que recentemente passou a ser distribuída em outras duas praças no país (Curitiba e Belo Horizonte), outra revista gratuita que vem chamando a atenção é a Odyssey, lançada em 2005.

Capitaneada por Estêvão Delgado, a revista voltou a circular em maio, depois de um longo hiato. A edição veio renovada, com novo projeto gráfico e editorial, e, a partir do próximo número, deve virar mensal.

Atualmente, a Odyssey é distribuída em bares, casas noturnas e restaurantes de São Paulo. "No começo da Odyssey eu era mais novo e a revista já esteve na capital e interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Camboriú, Floripa e Porto Alegre, mas dessa vez resolvi começar devagar, com calma", confessa Delgado.

Sobre os boatos de querer tornar a Odyssey uma revista de banca, seu diretor responde: "Eu acredito em revistas gratuitas, acho que o alcance é maior, a abordagem é mais prática. Fora do país elas são super respeitadas e são muitas. Já aqui a coisa muda, em empresas grandes ela é vista como um subproduto. Ainda não sei, estou analisando, acho que agora tem espaço. Quem sabe?"

Para Delgado, o mercado editorial gay não está passando por uma transformação, como se pensa. "A realidade é a mesma. O que houve foi um ‘boom’ de tentativas em um nicho muito novo e que esbarraram em um preconceito maior do que imaginavam", opina. "Algumas empresas grandes se dizem ‘gay friendly’ apenas para ganhar ibope, mas na hora de comprar um anúncio, pagam 20% menos que pagam para uma revista hétero", critica.

O diretor da Odyssey avalia que é possível pensar num futuro mais próspero para as revistas gays. "Que bom que essas revistas foram lançadas, pois pouco a pouco este mercado está sendo assimilado por quem pode patrocinar", finaliza.

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