Outro dia, um amigo escreveu algo do tipo "os jornalistas sempre se referem à sociedade secreta dos especialistas quando querem ratificar suas opiniões". Pra quem não catou o que ele quis dizer, eu explico: muitas vezes, quando um assunto é colocado em questão, e para dar mais força a uma determinada opinião, o jornalista que está desenvolvendo o babado da matéria diz que "segundo a opinião dos tais especialistas…" e referenda o que ele mesmo está querendo dizer. No entanto, nunca revela quem são esses especialistas, por isso, a sociedade secreta.
Disse isso porque muitos diferem sobre a questão do "Pink Money", inclusive os tais especialistas. Alguns dizem que foi graças ao aqué rosa que o movimento gay ganhou espaço, notoriedade e relativo respeito, afinal, numa sociedade capitalista o que realmente conta é o dindin… Outros, no entanto, discordam desta posição e dizem que por conta do mercado os gays foram vistos unicamente como uma questão monetária e a sociedade simplesmente passou por cima de questões como direitos, por exemplo.
A questão que quero levantar aqui não é se o dinheiro ajudou ou não o movimento gay. Tenho clara uma posição sobre o assunto e posso pegar argumentos dos especialistas que concordam no que eu digo… (risos). Mas a questão é: todos nós, independente de sermos gays, héteros ou bissexuais, precisamos ganhar e gastar dinheiro. Vivemos dentro de um sistema capitalista onde tudo funciona na base do bendito aqué.
Ou seja, independente de sermos gays, lésbicas, transexuais, travestis, enfim, todo mundo recebe (e muito bem!!!) o dinheiro dos homossexuais. Mesmo que não concorde com sua orientação sexual e "estilo de vida". O fato é: será que essas pessoas, os shoppings, lojas, restaurantes, o mercado em geral, está capacitado para receber o nosso dinheiro?
Sinceramente, acredito que não. Mesmo nos lugares que se dizem "gay-friendly", uns baphos acontecem vez ou outra (eu que o diga!!!). O babado é que dinheiro de gay, todo mundo quer, mas o gay – principalmente se ele foge do "padrão aceitável" construído por um discurso heteronormativo -, as pessoas têm total dificuldade para lidar com a situação. Um exemplo que gosto de usar é bem simples: um determinado shopping da capital paulista recebe às sextas-feiras um grupo bem grande de pessoas que são deficientes auditivos, eles ficam pelos espaços do shopping e na praça de alimentação interagindo entre eles. No entanto, o mesmo shopping, fez que fez, até colocar pra fora um grupo de adolescentes gays que se encontravam no mesmo local que o outro grupo às segundas-feiras. Qual a diferença? Deixo pra vocês concluírem…
Eu, que adoro um enredo todo trabalhado, gosto de fazer testes com os atendentes de telemarketing, por exemplo. Sempre que ligo para pedir uma comidinha básica, eu faço o papel da beesha afetadíssima (eu sei, um clichê) e fico esperando a reação de quem está do outro lado da linha. Meu namorado já testemunhou isso várias vezes. E já tive as mais diversas reações: desde o cara que fica super sério até a menina que entra na minha onda e já começa a falar de sua vida, das baladas e por aí vai… Enfim…
O que concluo é que, de um modo generalizado, o mercado ainda não está muito apto a lidar com esta parcela da sociedade – os LGBTs. No entanto, acredito que isso possa ser resolvido da seguinte forma:
1. Sempre que mal atendidos, devemos reclamar;
2. Se discriminados, devemos denunciar e reclamar como consumidores inclusive;
3. O mercado precisa perceber que o mundo mudou e se adaptar a isso (cursos de recapacitação seriam interessantes) – olha eu já vendendo o peixe.
Afinal, se o mercado quer o nosso aqué, tem que saber nos tratar muito bem também… Isso pra dizer o mínimo.
Tá dado o recado…
Beijo, beijo, beijo… Fui…