Carlos Tufvesson é conhecido no Brasil inteiro por seu trabalho com a moda – várias atrizes globais o tem como preferido. Mas o moço também atua há mais de dez anos em prol das questões gays e ligadas ao HIV/Aids.
E uma notícia boa chegou hoje à redação do A Capa: Tufvesson foi indicado para compor o Conselho de Direitos da População LGBT do Rio de Janeiro. Na conversa, ele diz que o convite é fruto do seu trabalho e acha isso justo. Adianta que seu objetivo será implementar as propostas tiradas da Conferência Estadual LGBT do Rio de Janeiro.
Também comenta sobre o fato de os casais gays não serem reconhecidos pela Constituição, questiona o movimento, que, segundo ele, não está mais nas ruas, e diz que os jovens não sabem da existência dos grupos e dos serviços pró-LGBT. "Os grupos eram mais visíveis e hoje em dia eles estão mais para conferência", critica. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
De que maneira você pode contribuir para o Conselho?
Isso é uma coisa que é muito recente. Na segunda-feira o Claudio Nascimento (Grupo Arco-Íris) me ligou me convidando para integrar o Conselho. Eu preciso entender quais são as atribuições, pois ele só será lançado no dia 18 de maio. Serei um dos integrantes desse Conselho como sociedade civil. Acredito que tanto eu quanto os outros somos pessoas que têm um histórico de luta em prol dos direitos civis da população LGBT.
Já existe algum plano de atuação?
Existe uma diretriz principal que foi tirada da Conferência Estadual LGBT. A ideia é implementar as propostas.
Acredita que o convite é um reconhecimento do seu trabalho na área do ativismo?
Pergunta capciosa essa… Eu suo por essa causa há bastante tempo. Se existe um Conselho para lutar pelos direitos (LGBT) acredito que as pessoas mais ativas devam estar sim nesse Conselho. E, apesar de eu não estar ligado a nenhum grupo, milito há 12 anos. Porém, eu sempre colaborei com o Grupo Arco-Íris e com outras causas que eu me identifico e acho necessárias. Portanto, eu vejo isso como um caminho natural.
Hoje nós temos Conselhos LGBT em várias cidades do Brasil, o que é um avanço. Mas, no seu ponto de vista, por que ainda não temos leis federais aprovadas?
Quais são as leis que nós temos no Congresso hoje? Não tem, né? Na legislatura passada nós tínhamos mais leis. Por exemplo, eu era amigo da deputada Laura Carneiro (DEM-RJ) e ela tinha um projeto para a união civil dos homossexuais e nunca foi apoiada pelo movimento. O governador Sergio Cabral (PMDB-RJ) tinha uma proposta de emenda constitucional que mudaria o artigo da Constituição para permitir que a união estável entre pessoas do mesmo sexo fosse reconhecida. Acredito que a cada luta a gente consegue fazer as pessoas lutarem. E, infelizmente, nós temos pouca força no Congresso Nacional. A bancada evangélica é enorme e eles barram tudo o que é nosso. Hoje nós temos conseguido mais vitórias no Judiciário.
E os projetos que estão em pauta?
O projeto (PL 1151/ 95 – união civil entre pessoas do mesmo sexo) da Marta Suplicy está há 14 anos e nem apreciado ele é. Está parado. Agora teve um projeto (união civil) que a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) apresentou e vai demorar mais cinco anos. Tem que ir para o Senado, passar por comissões e a cada comissão virá um Magno Malta da vida (senador evangélico que atua os homossexuais). Na época do projeto da Marta era o Severino Cavalcante (PP-PE) e foi o cara que criou essa coisa do casamento gay e que acompanha a gente até hoje. Enfim, para cada projeto que existe, hoje nas Câmaras exige uma barganha política e nessa barganha a gente não tem força. Nós homossexuais não demonstramos força política.
Falta politização da comunidade?
Aí fica aquela pergunta: será que a gente já nasceu burro, acéfalo e despolitizado, ou de repente o movimento hoje em dia não está tão presente nas ruas? Veja o caso dos protestos contra o presidente do Irã (Ahmadinejad). Eu não recebi nenhum e-mail avisando que haveria e por conta disso não tinha nenhum gay no protesto. Então a gente precisa se perguntar: até que ponto os grupos estão se comunicando realmente com a sua base para demonstrar que eles existem? E muito desses grupos prestam serviços essenciais à comunidade, mas falta a galera saber que essas coisas existem. Quem é gay hoje com 16, 20 anos não sabe da existência das ONGs.
O movimento burocratizou?
Eu entendo que antes os grupos eram mais visíveis e hoje em dia ele está mais para conferência. Pra você ter uma ideia, quando aconteceu a conferência aqui no Rio, os duzentos que estavam na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) sabiam que estava acontecendo, mas em termos de cidade, ninguém sabia. O que falta o povo entender é que a gente não tem direito que é de qualquer cidadão. Sou casado há 15 anos e sou obrigado a dizer que o André é meu amigo. Amigo o caralho, ele é meu marido, eu tenho uma vida com ele. E no que isso é diferente? Por isso eu bato boca, vai ter que me provar no que é diferente. A Constituição garante os direitos independentes do gênero. Dois cidadãos se unem e resolvem pedir empréstimo para adquirir casa própria, por que eu não posso fazer isso?
Para você qual é a necessidade mais urgente dos LGBT?
Eu defendo que a prioridade do movimento deveria ser a união estável. É o único projeto que nos dá cidadania. O dia em que nós pudermos nos casar no Brasil as nossas relações deixarão de ser vistas como promíscuas e serão vistas como unidades familiares. Eu não desconsidero o PLC 122, mas entendo que a união civil vai fazer com que a mãe que tem um filho de 15 anos e é homossexual, entenda que ele não é um puto, ele está apaixonado e ele poderá construir uma família. E, a partir do momento que o Estado reconhecer as uniões, consequentemente ele terá que garantir a integridade delas.