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“O movimento precisa se abrir “, dizem Vange Leonel, Ana Fadigas e Jean Wyllys

Foi realizado ontem (06/04), na livraria Cultura do Shopping Marlet Place, o debate "A mulher em nós: Misoginia, feminismo e a guerra de sexo entre LGBT’s", organizado pelo jornalista e eterno ex-BBB, Jean Wyllys, que disse não gostar de lançamento de livro por considerar "muito chato". Por isso, justificou a realização do debate como meio de tornar mais interessante uma sessão de autógrafos e coisa do tipo.

Além de Jean, compuseram o debate a fundadora da revista G magazine, Ana Fadigas, e a escritora Vange Leonel. Wyllys justificou o convite a duas mulheres por considerá-las pessoas "autorizadas a falar sobre o tema". O debate iniciou a cerca do tema proposto, ao afirmar que por detrás das piadas machista "há sempre uma agressão enrustida". Depois, para exemplificar melhor a questão da misoginia, citou dois exemplos cinematográficos: "Milk" e o filme espanhol "Tudo sobre a minha mãe", de Pedro Almodóvar.

Sobre o filme de Gus Van Sant, que retrata o primeiro gay a se eleger a um cargo público, Jean destacou a cena em que uma assessora é contratada para trabalhar na equipe de Milk e como os gays, "que sempre se tratavam no feminino, foram refratários a chegada dela". Para o jornalista, se tratava de uma misoginia gay. Sobre o filme de Almodóvar, lembrou da cena em que a personagem trans Agrado se disse considerar uma mulher plena por ter conseguido transformar o seu corpo naquilo que sempre sonhou. Com estes dois exemplos, Jean quis deixar claro que há uma misoginia hetero e gay e também afirmar que o nosso "arco-íris não é tão harmônico assim". "Há conflitos entre nós".  

Ana Fadigas, de posse do microfone, iniciou a sua fala contando que foi buscar no dicionário o significado da palavra misoginia. "Aversão a mulher, é o que dizem os dicionários". Relatou que quando executiva de uma grande empresa, "por ser a única mulher, a visão masculina imperava". Para ela, essa experiência era um formato de misoginia. Em seguida, Ana disse acreditar ser uma outra forma de misoginia o preconceito que homossexuais tem com os gays efeminados. "Isso é misoginia ou não?", indagou a empresária. Fadigas também questionou o movimento LGBT, que "ainda é muito masculino, não inclui outras minorias e exclui os efeminados".

Era a vez de Vange Leonel falar e logo de cara já mostrou o seu estilo. "Não trouxe papel nenhum, eu cresço durante o debate". Realmente, a cronista se agigantou e roubou a cena na discussão. Vange disse que Jean e Fadigas disseram coisas importantes, mas ressaltou que o grande problema da misoginia está em nossa cultura "patriarcal". "Fomos acostumadas a viver com o homem sendo o centro da relação social", pontuou a escritora, dizendo que a mulher durante anos foi "demonizada". "Vivemos sob uma estrutura onde tudo que é feito pela mulher é diminuído", disse. Vange apontou que, além da homofobia internalizada, há a misoginia internalizada. "É raro as mulheres serem solidárias umas com as outras, pior, elas disputam entre si".

Após 40 minutos de conversa entre amigos, o público foi chamado a participar e questionar. Quando Jean ofereceu o microfone, um silêncio pairou. A reportagem do A Capa perguntou aos debatedores como despertar o interesse da comunidade LGBT a respeito da importância do seu voto. Em tom uníssono, disseram que a participação no movimento é "muito chata e burocrática".

Vange deu como exemplo o caso do vereador de Osasco, Carlos José Gaspar (PTdoB), que disse que LGBTs são doentes e necessitarem de tratamento. "Os grupos estão fazendo uma carta, depois essa carta tem que ser revisada, depois não sei o que, eles dão muita volta e esse ato pode se perder", reclamou. "O movimento precisa se desburocratizar", disse Ana Fadigas. Posteriormente disseram que é muito importante a ação de grupos organizados, porém, ressaltaram que falta o "movimento se abrir e nos representar".

Outra pessoa que se atreveu a tocar o microfone e fazer uma pergunta foi Elisa Gargiulo, vocalista da banda feminista Dominatrix. A moça perguntou aos palestrantes se não falta cruzar cultura e ativismo político, e se não há um certo preconceito com eventos culturais por certa parcela do movimento social. Vange Leonel disse que sofre com os dois lados. "Se eu escrevo uma peça sobre a mulher homossexual, falam que é chato e sério demais e vice-versa".

Jean Wyllys disse que falta perceberem a grande dimensão, que pode ser atingida com a cultura, e usou a Elisa como exemplo. "Você pode ser política com a sua banda, propor uma nova estética de militância". Depois contou que tal sintoma se deu com ele quando descobriu a coluna de Vange, na Revista da Folha. "Aquilo me causou impacto", disse. Para finalizar, Jean apontou para o fato de a comunidade LGBT não ter ídolos políticos e, sim, culturais. "A Cássia [Eller] é ídolo gay, o Cazuza, e outros". O jornalista e escritor lamentou que o movimento tradicional "não perceba isso".

Após o debate todos foram convidados para o coquetel de lançamento do livro de Jean Wyllys, "Tudo ao mesmo tempo agora". Aos presentes, foi servido pró-seco Miollo.

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