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O mundo paralelo dos sex clubs de São Paulo

O cenário sexual gay de São Paulo é sortido. O que não faltam são opções para todos os paladares, incluindo os mais exóticos. Nessa faixa se inserem os sex clubs.

Mas o que é um sex club? Locais onde se pratica sexo a dois, a três ou mais. Vale também citar o cruising bar – espaço de pegação, mas com cabines. O que fica de fora dessa classificação são as saunas. E é justamente elas que muitas vezes acabam tendo mais ibope. Com o surgimento de saunas sofisticadas – como a 269, que arrebatou o eleitorado com seu nível high-tech -, os clubes de sexo nem sempre conseguem reunir multidões.

E por que a sauna faz mais sucesso entre o público gay brasileiro? “Talvez por já existir há mais tempo no Brasil, e também essa história de as pessoas não ficarem à vontade num ambiente exposto”, opina o tradutor Breno*, 33, que não vê problemas em ir a um clube de sexo.

De fato, a exposição pode ser um impedimento. “Não faço julgamento moral. Não acho sujo ou coisa que o valha. Acontece que eu não me sinto bem nesse tipo de ambiente, não é minha praia”, confessa o revisor Daniel*, 28. “Minha timidez não me permitiria ficar nu e muito menos agir na frente de várias pessoas”.

“As barreiras estão sendo derrubadas, principalmente pelos mais jovens”, diz Beto, um dos sócios do Gladiators Club, aberto em 2004. Anderson, do RG Bar – aberto em 2006 -, também opina sobre o assunto, já que no RG todos têm de ficar totalmente nus. “Sempre que novos clientes chegam ao clube pela primeira vez, sentimos por parte deles uma timidez para ficarem nus de imediato. Mas é uma questão de se sentirem seguros e acolhidos, e também por observar que os demais clientes estão à vontade. Logo aderem à proposta da nudez”, observa.

Enquanto uns hesitam antes de tirar tudo, outros não pensam duas vezes. “Prefiro os sex clubs onde a nudez é obrigatória. Gosto de chegar e ficar peladão. Até nos dias que o dress code libera o uso de cueca, eu prefiro ficar sem”, declara o analista de sistemas Ulisses*, 31.

Para Gil Braz, um dos donos do Station – pioneiro no ramo, aberto em 1997 -, o romantismo é coisa de gente mais nova. “No geral esse tipo de lugar é mais frequentado por pessoas acima dos 25 anos. Antes disso, a pessoa está numa de arrumar namorado, e não sabe separar sexo de amor”, comenta.

Outro pioneiro, o BlackOut Sex Club, aberto em 2000, admite que houve mudanças. “Como antes era novidade, algo novo, tinha mais público”, diz Carlos, gerente da casa. “Lançaram outras saunas, mais sofisticadas, abriram outros sex clubs… Hoje o pessoal prefere se esconder em saunas e cinemas.” Segundo Carlos, outros ainda temem a possibilidade de encontrar um conhecido, um amigo, ou até mesmo… o namorado.

Mas na sauna esse risco também existe, claro. Conclusão: a sauna ainda é um local aceito como “normal”, enquanto os sex clubs seguem com fama de “undergrounds”.

Apesar da “má” fama, novas investidas aparecem. O Upgrade é o caçula do ramo, aberto em 2009. “O primeiro ano foi muito satisfatório”, diz Sidnei Comenda, sócio-proprietário da casa. Ele não teme a concorrência com saunas. “Acho que isso é um mito. Tem pessoas que vêm aqui e eu sei que frequentam saunas”.

Mas ele reconhece que o radicalismo nem sempre funciona. “A gente tinha incluído o nudismo como condição obrigatória, e percebemos que realmente tem pessoas que não se sentem à vontade”, explica Sidnei. Para solucionar o caso, o Upgrade instituiu a quinta-feira como dia do nudismo. No restante, o visitante pode ficar de sunga, cueca e afins.

Ulisses, exibicionista assumido, polemiza: “Acho que as pessoas têm medo do próprio desejo. De irem num sex club e descobrirem que gostam daquilo, que querem trepar como animais. A sauna, com o lance das toalhas, do vapor e dos dark rooms, permite que de certa forma você ainda esteja protegido num armário”.

Mas o cenário continua mudando. “Este é um mercado complexo e novo no Brasil”, analisa Beto, do Gladiators. “O brasileiro é recatado quando fala de sexo grupal, muitos têm esses desejos mas se expor é complicado”. Resta acompanhar para ver onde essa estrada de tijolos amarelos vai desembocar…

* Os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados
** Matéria originalmente publicada na edição 35 da revista A Capa

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