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“O palco é minha segunda casa”, diz Dillah Dilluz

Ela é uma das maiores artistas da noite paulistana. Dillah Dilluz tem um show cômico, atual. Neste ano, entre o carnaval e a Parada Gay, fez incontáveis aparições de Obama. É apresentadora da Tunnel, tem ampla experiência em teatro onde fez de tudo um pouco, de iluminação a pintura, passando por sonoplastia. O palco, como conta, é sua "segunda casa".

Em entrevista ao A Capa, Dillah fala sobre a origem de seu nome e sobre sua carreira no teatro e na noite paulistana. Na conversa, que você confere a seguir, ela fala o que acha da lei antifumo, fala sobre a composição de paródias que fez para Silvetty Montilla e Michelly Summer e adianta que, em breve, deve lançar um CD.

Por que Dillah Dilluz?
Ai, eu já perdi a conta de quantas vezes eu já respondi esta pergunta. Há muitos anos, a falecida Condessa, que era dona da Nostro Mondo, na ocasião me apresentava nos shows de domingo como Edivaldo. Eu era a revelação da época na noite gls, mas resistia em usar nome de mulher. Um belo dia, ela entrou no camarim e do nada disse, educadamente: "Ó, você precisa arrumar um nome de mulher, viu!" Senti naquela hora que se continuasse resistindo, adeus Nostro! 

A Marcela do Nascimento que faz, brilhantemente, a Maria Bethânia, costumava brincar assim: Não mexe comigo porque eu sou de lá, hein! Não pensei duas vezes. Esse "de lá" soava como se ela tivesse vindo de uma fortaleza, de onde mesmo distante, era protegida por ela. Então, pensei, porque não? Antes de ir embora, me dirigi à Condessa e disse: Dillah! Ela disse: O que é Dillah? Eu disse: Meu nome de mulher. Ela ria e repetia meu novo nome. O Dilluz veio muitos anos depois. Fiz uma lista, fiz uma pesquisa entre povo da época, e escolhi Dilluz por achar que era coerente e acentuava o significado místico de Dillah! É isso!
 
O que veio primeiro, a noite ou o teatro?
O teatro. Em 1982, deixei de trabalhar numa empresa de equipamentos eletrônicos e entrei na Escola Contemporânea de Artes. O nome é pomposo, mas não passava de uma escolinha na Barão de Itapetininga, bem capenga, era só o começo. Depois estudei de verdade no Drama – Visão, com Maria Isabel Setti e no CPT do mestre Antunes Filho. Ele mudou minha maneira de pensar e fazer teatro. Fiz também uma participação na novela Antonio Maria da extinta TV Manchete sob a direção do Geraldo Vietri. Morei no teatro Sadi Cabral, na Angélica. Pintei teatro, fui iluminador, sonoplasta, assistente de direção, pau pra toda obra.

Já nos anos 90, tive a sorte de encontrar outro mestre. Carlos Alberto Sofredinni, autor de "Hoje é dia de Maria", minissérie de sucesso internacional. Também foi premiado em Gramado pelo roteiro do filme "A Marvada Carne", autor de inúmeras peças premiadas, enfim… era o cara. Ele me dirigiu em "Vacalhau e Binho", comédia de grande sucesso na década. A peça ficou oito anos ininterruptos em cartaz. Fiquei seis. Escrevi paródias com ele, na casa dele, comendo almôndegas. Pois é, tive esse privilégio. O trabalho na noite veio em agosto de 1984, e caminhou paralelamente com o trabalho em teatro. Comecei numa casa chamada Topsy, na Bela Vista. Detalhe. Morava na boate, fazia a faxina e à noite fazia show. A partir daí, não parei mais. Há 25 anos, o palco é minha segunda casa.
 
Cinema. Como foi trabalhar com Hector Babenco no filme Carandiru?
Nossa! Outro mestre que Deus colocou na minha vida. Vou contar do começo. Eu estava na livraria Saraiva, na Barão, e eis que chega o Moisés Inácio, mais conhecido como Grace Black e me diz: "Tá sabendo que está rolando um teste pra um filme sobre o Carandiru?" Juro pra vocês. Na hora eu pensei: "Eu vou fazer esse filme". Entrei em contato com o casting da produção, fiz vários e vários testes e workshops. Queria um grande papel. Era a minha chance de obter visibilidade para o meu trabalho. Só que aconteceu o seguinte: a princípio o elenco, em sua maioria, seria formado apenas por atores desconhecidos, tipo Cidade de Deus, mas por razões Globais os grandes papéis já tinham destino certo. Entendeu? Sabe quem ia fazer o papel do Rodrigo Santoro? A Telma Lippi. Esse é só um exemplo. Enfim, não estou reclamando. Gosto do filme. Gosto muito da minha cena. Ela é curta, mas marcante! Hector é o cara. Fiquei nervoso, sim. Estava eu ali com um cara que já tinha dirigido Sonia Braga, Meryl Streep, Jack Nicholson, tremi. Mas depois de sete tomadas, meio que estressantes, ele se deu por satisfeito, cumprimentou amavelmente todos os atores do set e assistimos juntos os resultados das tomadas que depois iriam para a edição. Foi marcante pra mim.
 
Com essa sua pinta de mano, já aconteceu algum fato, tipo ser revistado pela polícia antes de se transformar em Dillah Dilluz?
Ah, já! Já me pararam e quiseram saber o que eu tinha na minha bolsa. Eu disse: Meu material de trabalho! O policial disse: "Trabalha em quê?" Na época eu ainda não tinha DRT de ator, então disse: "sou transformista". O policial disse: "se transforma em quê, em lobisomem?"
Eu respondi, ingenuamente: "não, faço Gal Costa e Maria Bethânia!" Meus hits na época! Tirei tudo da bolsa, maquiagem, meia-calça, salto alto, vestido, enfim… Eles riram cinicamente, mandaram eu guardar tudo e me liberaram. Fiquei com medo, só que não traumatizei. Tanto que transformei esse diálogo em uma paródia rap!
 
Nos seus shows rola o “Fica comigo pelo amor de Deus”. Já soube se realmente você casou alguém?
Tem um casal que está junto há uns 4 anos até a última vez que os vi. Não sei se rola ainda. Uns ficaram por algum tempo e se separam. Uns se separam na mesma noite, mas é impressionante a quantidade de pessoas que querem ser o querido da noite. Você pergunta: "Quem está sem namorado?" Metade da casa grita: "Eu!" Doido isso, né? O quadro já é tradicional, quando não tem, eles chiam.

Sei que Silvetty Montilla e Michelly Summer encomendaram paródias suas. Você recebe cachê?
(risos) Sim, pagam. Ai delas se me derem cano. Brincadeira. Elas pagam direitinho sim. São duas personalidades gigantes, dois artistas gigantes com os quais eu tenho o prazer de trabalhar tanto no palco, como no estúdio.
Com a Sil, que já gravou 6 paródias minhas, eu ainda não tive a oportunidade de dividir estúdio. Com a Michelly, sim. E foi maravilhoso. O Cd “Soropéia” tem 8 paródias minhas. O próximo, que já está no forno, tem mais oito ou nove, não me lembro bem agora, enfim… Vem aí o novo Cd de Michelly Summer com surpresinhas, aguardem. O último Cd da Sil "Condições" também tem uma paródia minha. É uma delícia compor paródias e ouví-las interpretadas por artistas desse naipe. Fico orgulhoso disso.
 
Você também compõe jingle político?
Sim, o jingle político da Salete Campari é meu. Também vendi um pro Léo Áquilla, mas ele não usou.

Homofobia é sinônimo de?
Homofobia é sinônimo de ignorância, intolerância, e por que não dizer, desumanidade!

Você fuma? O que acha da nova lei antifumo? Acredita que com isto as pessoas vão parar de fumar?
Fumo! Não desejo isso nem pro meu pior inimigo (risos). Essa nova lei é benéfica. Estou fumando menos! Não, não acredito que as pessoas vão parar de fumar por causa da lei, mas vão diminuir as baforadas!

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