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O poder e os gays

Leio que pesquisadores da Kellogg School of Management, nos Estados Unidos, comprovaram cientificamente, em estudo recente com voluntários, aquilo que uma vez me disseram e eu ainda era um adolescente: O Poder corrompe.  O Poder muda as pessoas para pior e revela quem realmente somos. Ok, isso já é um chavão falar. Mas não estaria ocorrendo o mesmo com gays que conseguiram  atingir uma forma qualquer de poder e com os assim chamados “lideres”  do Movimento LGBT Brasileiro? Senão, vejamos.

Um pouco mais tarde, já adulto, conheci algumas pessoas legais, cheias de sonhos, sentimentos, vida. E repletas de moralidade, eram empáticas e solidárias com seus pares, acreditavam na possibilidade da construção de Cidadania e Direitos, enfim em um mundo melhor, mais justo e igualitário. Elas me fizeram muito bem, essas pessoas. Devo a elas não apenas uma resolução na minha sexualidade, mas também toda uma visão de mundo que carrego até hoje. Sou grato a elas e sou grato à sorte de ter, no meu caminho, cruzado com elas.

Mas o tempo passou, décadas e algumas dessas pessoas atingiram o(ou um pouco do) Poder; ou em partidos, em cargos eletivos; ou até mesmo dentro das instituições e ong’s onde outrora militavam com sonhos e hoje militam com a carteira.  Presidências, diretorias, etc. Ou com a vaidade e espelhos que sempre estiveram  junto ao ego deles, mas, antes, era disfarçado ou não percebido, nem por ele nem pelos outros que o cercavam.  E aí, muitos desses lideres que eu tanto admirava, passaram a comprar apartamentos, restaurantes, usaram a estrutura das ong’s para trampolim político; cometeram desvio de verbas e teve um que chegou a vender “voluntários” para uma pesquisa de um novo medicamento para Aids, embolsou a comissão paga pela multinacional farmacêutica e escondeu o dado de que aquela pesquisa não era ética: utilizavam da monoterapia quando esta já era condenada pelo consenso médico mundial por favorecer a resistência viral e muitos desses pacientes vieram a falecer ou ficaram cegos. 

Foi justamente por causa do absurdo desse “estudo” que, posteriormente, foram criados “comitês de Ética” obrigatórios para todos os posteriores. Institutos que nunca fizeram nada pelos LGBT’s e que usam o nome de vítimas da homofobia foram criados apenas para facilitar o ganho de passagens, hotéis, viagens nas inúmeras “conferências” pagas com o dinheiro público, seu e o meu. Eram pessoas legais. Eu acreditei no sonho delas, que, ingenuamente, pareciam os meus. Eu não sabia, ingenuamente também, que elas quando atingissem o Poder mudariam tanto, venderiam seus sonhos a preço de banana, deixariam de te enxergar como um próximo, você deixa de ser um humano para ele e vira apenas mais um degrau de uma escada.  Tudo recheado de muitos sorrisos, promessas e aquela tradicional “alegria” que atribuem,  mistificadamente, para nós, gays…

Quando atingimos o poder, nos tornamos hipócritas. Achamos que estamos acima de qualquer regra moral e temos desculpas “n” para quando as descumprimos . Ora, se a Luta Homossexual seria justamente para denunciar a hipocrisia que existe numa heterossexualidade imposta como única forma válida de amar, como é que eu posso defender a hipocrisia quando me convém, politicamente?

O argumento usado por esses militantes partidaristas ou/e egocentristas é que “como fomos alijados de toda participação política – exceto a clandestina – durante a ditadura militar; agora devemos ocupar todos os espaços, inclusive os partidários…”. Ok! É um belo argumento! Carrega muito de verdade, aí. Mas, somos humanos. E o ser humano é corruptível, como bem demonstrou o estudo da Kellogg School.  O que eu quero ressaltar aqui é que, quando esses mesmos militantes atingiram o Poder, seus sonhos de uma homossexualidade livre e plena de Direitos viraram um papel secundário ou nenhum. Passou a ser um mero discurso, mais para ser falado do que ouvido. Passou a ser um “faz-de-conta” partidarista, com parcos resultados para a comunidade LGBT. Argumentam ainda que só é possível alguma conquista pela política. Também é verdade. Mas política pode ser tudo, não apenas participação em partidos. Aliás, tem muita gente boa por aí que falou que “política passa bem ao largo de partidos”. Se eu paro para pensar, para fazer um levantamento numérico de conquistas para a população LGBT vinda através de partidos e de partidaristas, em  32 anos de luta, encontro muito pouco resultado para muito falatório.

Há os que alegam que não temos opções. Temos, sim. Inclusive este aqui que vos fala também é corruptível, também é imperfeito e também mudaria se atingisse o Poder.  Então, sabe o que eu faço?   Rejeito o Poder. Fico na minha. Vou atrás justamente daqueles espaços já ditos que nada têm a ver com partidos ou com o Poder.  Não vou sorrir para governantes que um dia abraçam,sorrindo muito, a bandeira do arco-íris, nosso belo símbolo e, no dia seguinte o canalha do presidente do Irã, país que enforca homossexuais e , além do abraço, fica chamando esse presidente de “amigo”, a cara de pau é tanta que, se questionado reafirma a amizade. Abraça o Fidel Castro, que nunca teve a dignidade de pedir desculpas públicas – e não públicas! – pelo massacre de homossexuais em seu regime ditador, violentador, discriminador e assassino.  Era esse “O Cara” que você acreditava, acreditava no sonho dele, quando ele era um mero metalúrgico corajoso, ainda não havia atingido o Poder? O sonho dele também era o seu… pra onde foi esse sonho mesmo?

O estudo da Kellogg School of Management pode ser lido na íntegra aqui.

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