Popular e com pinta de pegador, Antonio fazia sucesso em seu bairro desde cedo. No começo da adolescência dava bastante trabalho para sua mãe, a Dona Sônia, conhecida pelos vizinhos por seus deliciosos quitutes que preparava em sua casa e os convidava para as sessões de degustação.
Entre um rocambole e um bem-casado servido para suas vizinhas, Antonio se engraçava com algumas das filhas das amigas de Sônia e muitas vezes isso dava uma confusão enorme, porque ele tinha apenas 12, 13 anos e nessa época beijava as meninas de 15, 16, às vezes de 18 anos. Seu biotipo fazia parecer um belo rapaz de 17, 18 anos.
Foi nessa época que Antonio não só pegava as filhas das amigas de sua mãe, mas também começava a freqüentar festinhas promovidas pelos seus amigos do bairro e também da turma do colegial. Ele ainda não tinha chegado lá, mas já estava infiltrado entre os mais velhos.
O verão de 84 prometia. Antonio estava contente com as férias na Bahia, com seus pais, e já estava pensando no Carnaval. Seus amigos não paravam de fazer planos sobre quem iriam beijar, onde iriam pular e como iriam vestidos. A montação era muito presente nos bailes e Antonio não queria ficar de fora. Mesmo com seus 14 anos, já era bem esperto e descolado para sua idade.
A festa da carne teve inicio. Na primeira noite Antonio resolveu ir até uma festa promovida pelo pessoal do grêmio estudantil da sua escola. Colocou uma fantasia de super-homem e foi. Bebeu bastante e chegou em casa com o sol a pino e Dona Sônia nervosa, já com o café e o sermão preparados para recebê-lo.
Mas Antonio era um bom filho, que apesar de suas aventuras noturnas e com as vizinhas, nunca criou problemas sérios em casa, além de ser dedicado e bom aluno, por isso a ira de sua mãe se diluía no sorriso e no abraço que ganhava quando o moço chegava em casa.
Foi na noite seguinte que Roberto, filho da Dona Ana, vizinha cinco casas depois da sua, convidou Antonio para uma festa promovida pelo time de futebol de várzea. Embora não frequentasse os jogos, Antonio era querido por todos. E, claro, ele aceitou. Desta vez resolveu colocar uma roupa de faraó e levou muito confete e serpentina.
A festa era perto da sua casa, por isso ia a pé mesmo. Esperou Roberto passar para irem juntos e mesmo que eles não fossem tão amigos assim, de viver grudado, quando se encontravam era sempre agradável e tinham muito papo em comum. Os dois adoravam falar sobre os lançamentos dos games. Dona Sônia também gostava da amizade dos dois, principalmente pelo fato de ser filho de uma das suas melhores amigas.
Durante a festa os dois beijaram todas as garotas que podiam. Era uma fase de liberação total, mas sexo mesmo quase não tinha. As pessoas bebiam bastante, dançavam, se divertiam e beijavam o máximo possível, mas raramente aqueles jovens realizavam alguma de suas fantasias sexuais.
Antonio estava em uma fase de hormônios em ebulição. Sentia tesão por tudo e por todos, ficava excitado só de olhar. Mas, às vezes, sua excitação não era apenas com as garotas. Ele já tinha se pegado pensando em seus amigos durante suas constantes sessões de punheta solitária. Ele tinha um pouco de vergonha de participar das punhetas coletivas, ainda que tivesse muita vontade.
Mas foi naquela manhã de domingo, depois de uma noitada e tanto, que Antonio resolveu realizar uma de suas fantasias, afinal era Carnaval. A festa da carne. Onde tudo pode, onde tudo acontece. Ele escolheu aquela noite para, entre uma bebida e outra, dar uns apertos em seu amigo Roberto, que em nenhum momento se mostrou descontente com a situação. Ele queria experimentar Roberto, que, às vezes, abrolhava em seus pensamentos masturbatórios.
Convidou Roberto para dormir na sua casa. Roberto ainda questionou o fato de morarem tão perto e não ter nenhum empecilho dele ir embora sozinho, mas Antonio insistiu um pouco e ele acabou cedendo, sob os argumentos de que no dia seguinte eles poderiam passar algumas horas na frente do video-game.
Antonio chegou em casa com Roberto. Dona Sônia, que sempre acordava cedo, já estava esperando o filho. Quando o viu chegando acompanhado não estranhou e ainda perguntou se Roberto tinha ido para o café, mas Antonio explicou que na verdade ele ia dormir lá, para que pudessem aproveitar os jogos novos que ele tinha comprado. Os amigos tomaram café e foram para o quarto.
Dona Sônia continuou com os afazeres domésticos em silêncio para não atrapalhar o sono dos meninos. Antonio foi tomar banho e Roberto ficou esperando no lado de fora. Ele queria saciar seu desejo de beijar um garoto e o convite para que seu amigo dormisse na casa dele era puramente intencional. Antonio não teve coragem de convidá-lo para o banho, ainda que o tesão pedisse. Seria uma overdose de desejos realizados. Não só de beijar um garoto, mas de tocar, de sentir o corpo, a pele. O medo falou mais alto e eles foram dormir.
Poucos minutos depois que eles deitaram, Antonio na sua cama e Roberto em um colchonete no chão, o anfitrião falou para Roberto deitar com ele na cama, que era mais confortável. Roberto ainda disse que estava bom ali, mas cedeu no segundo convite. Os dois estavam deitados na mesma cama.
Antonio não pensou na possibilidade de sua mãe entrar no quarto, mesmo porque não era hábito dela fazer isso. Antonio encostou sua perna na de seu amigo, que não relutou o toque. Ele mexia a perna, sentia o amigo. Roberto estava mudo e estático, mas excitado já. Ambos estavam excitados.
Antonio resolveu atacar e tocou os lábios do amigo. Ele não falou nada. Apenas recebeu a boca de Antonio e começaram a tão esperada troca de salivas. Antonio estava adorando e sua excitação estava evidente. Roberto, um pouco mais tímido, tentava não mostrar a ereção, mas Antonio foi direto, com suas habilidosas mãos, conferir.
Enquanto eles se beijavam e acariciavam, Dona Sônia, preocupada com a roupa suja, entrou no quarto e ao abrir a porta viu uma cena que jamais esperava ver. Seu filho beijando outro garoto. Ela ficou estática, sem ação e a luz que entrava pela fresta da janela denunciava exatamente o que estava acontecendo. Os três ficaram imóveis, sem reação.
Roberto não suportou o silêncio, levantou-se e saiu do quarto. Dona Sônia gritava para que ele voltasse, mas o rapaz pegou sua roupa, trocou-se no banheiro do corredor e foi embora, deixando Antonio com sua furiosa mãe. Dona Sônia não bateu, não xingou, só disse em alto e bom tom: "durma bastante e cure-se dessa bebedeira, porque vamos conversar". Mas a tal conversa nunca aconteceu. Pelo menos não pelos trinta anos seguintes.
Leia o conto natalino "A verdade de Antonio"