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O preconceito “do bem”

Preconceito é uma coisa engraçada e cheia de armadilhas. Geralmente ele tem uma cara feia e, hoje em dia, cada vez menos gente anda querendo olhar pra ela. Mas, pra fugir da careta, são muitos os que acabam seduzidos pelos múltiplos disfarces bonitinhos que ele costuma usar.

Como a bola da vez é o preconceito contra homossexuais, é aí que as cascas de banana estão mais escorregadias. Exemplo, pra ilustrar. Tony Garrido, em plena cerimônia do prêmio "Rio Sem Preconceito": "Se você quer um relacionamento estável, seja homossexual".

Mas este é, entre os exemplos, dos mais amenos, talvez por ser óbvio demais. No dia-a-dia é que estão os que pregam a extrema diferença daqueles que no fundo só pretendem ser iguais. Quem não conhece aquela pessoa tãããããoooo gracinha, que tem muitos amigos gays e de tãããããoooo legal que é até conversa com eles "normalmente"? E aquelas outras pessoas, todas concorrentes ao troféu Cabeça Boa, que definem os gays como "sempre alegres, alto astral, cultos, inteligentes… enfim, meninos (e meninas) de ouro".

Eu queria entender o que a orientação sexual de alguém diz do seu caráter ou da sua alegria… A única coisa que esta condição define é com quem o sujeito gosta de transar, mais nada. No medo de perder pontos politicamente corretos, os mais moderninhos se apressam no preconceito de que gays são seres humanos diferentes dos outros. Não são (somos).

Este post veio na inspiração de um comentário sobre o anterior, quando o leitor chamou a minha atenção por ter dito que os personagens gays de "Insensato Coração" representavam bem este universo, por não se prenderem a um tipo específico. Embora fosse uma questão de abordagem, focando mais o aspecto de comportamento externo, tive que concordar com ele quando falou dessa "santificação gay". Pra mim também se trata de um preconceito às avessas. Claro que, sem sobra de dúvidas, é bem melhor santificar do que demonizar, principalmente na busca de resultados práticos anti-homofobia. Agora, é inegável também que nenhuma das duas atitudes caminha em direção à "naturalidade", que no final das contas é o que todo mundo quer, que o natural seja visto como tal.

Para não sair totalmente do foco do Mundo de Treppi (que é a minha criação literária), pego o gancho para dizer que meus personagens fogem desse estereótipo. Assim como tem os caras legais, tem uns bem filhos da puta. Na verdade, na maioria das vezes, eles se equilibram entre gente boa e sacanas, dependendo das circunstâncias e do contexto, assim como é na vida real.

Ah, e voltando a "Insensato Coração", vão colocar alguém que faltava na galeria, acrescentando mais um pouco de realidade. O homofóbico cabeça boa, aquele que acha gays uma gracinha dentro das suas gaiolas, para exibirem para os amigos e mostrarem o quanto têm cabeça aberta. A tarefa, pelo jeito, vai ficar a cargo da dona da barraca de cachorro-quente friendly, que adora a alegria da moçada, desde que ela não passe pela porta da sua casa. De toda a fauna e flora que conhecemos na controversa relação homo-hétero, essa com certeza é uma das espécies mais protegidas em seus próprios armários e, de tão numerosa, provavelmente a última a entrar em extinção.

Beijão!

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