Em 28 de junho de 1969, um grupo de LGBT estava no bar Stonewall Inn, em Greenwich Village, Nova York, quando foi surpreendido por uma batida policial – agressiva e sem justificativa. Tudo porque, naquele período, a homossexualidade e a transgêneridade eram consideradas “distúrbios mentais”, as pessoas eram obrigadas a usar “roupas de acordo com o gênero”, muitos sofriam ataques violentos, extorsões e até iam presos por “ato imoral”. Sem contar que estabelecimentos comerciais tinham alvarás negados caso atendessem LGBT – o que motivava a máfia e o suborno entre proprietários e policiais.
Farto de tanta repressão, o grupo decidiu pela primeira vez reagir às agressões física e moral, resistir e iniciou uma grande revolta com pedras, cadeiras e garrafas. O embate durou quatro dias com a representação de todas as categorias da sopa de letrinhas. No ano seguinte, a comunidade fez uma passeata para reafirmar a busca por direitos e também para lembrar a data.
Já o jornalista Thyago Gadelha, de 33 anos, faz parte da geração que não acompanhou a rebelião, mas que se informou por meio de documentários, filmes e pela HQ produzida por Mike Funk. “Infelizmente, muitas pessoas da comunidade não conhecem e não se preocupam em conhecer a história. O que trouxemos daquela luta é a busca por se autoafirmar e readequar os significados de conceitos na sociedade. Não se trata apenas de hastear a bandeira gay nesta data, mas todos os dias na educação de amigos e familiares. O que falta hoje é um pouco de unidade das causas, justamente o que uniu as pessoas naquele bar”.
Após 45 anos e muitas manifestações, a homolesbotransfobia acabou?
Letícia afirma que não consegue observar motivações que de fato provoquem mobilização, pelo menos para a comunidade trans. Ela diz que “que os movimentos sociais foram cooptados pelos governos, o que esvaziou o poder reivindicatório". "A despeito da matança diária de travestis, ninguém mostra um grau de indignação tal que explodisse numa grande revolta pela garantia dos direitos transgêneros”, afirma a psicanalista. Por outro lado, Deco Ribeiro, diretor da Escola Jovem LGBT, diz que grandes manifestações podem ocorrer com o embate da questão evangélica na política. “Nós temos ganhado visibilidade e, eles, cada vez mais poder. Não é loucura vislumbrar um enfrentamento em breve”.
Ao relembar a icônica data, Ricardo se diz ainda hoje inspirado por Stonewall. "É o que me motiva como militante que sou", afirma. Thyago complementa: “Aquele momento histórico foi um uníssono, um único e importante grito das categorias. Mas ainda estamos construindo essa história. Esse exercício de consciência existe até hoje na luta que enfrentamos na reafirmação dos grupos de diversidade A principal coisa a ser conquistada, eu creio, ainda é o respeito entre todas as pessoas”, frisa. Que a data inspire todas as gerações e que dê gás para o longo caminho de direitos. Afinal, como bem adiantou Oscar Wilde em 1897: “Não tenho dúvidas que venceremos, mas a estrada é longa e cheia de martírios monstruosos”.