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O que pensam (e o que querem) os adoradores do scat

“Odor característico das fezes dos humanos, onde é encontrada; Tratado acerca dos excrementos”. Essa é a definição do dicionário Aurélio para a palavra escatologia. Mas aí estamos no mundo da semântica, das palavras e suas significações. Ao sairmos dos livros e das ideias e ao cairmos na seara do sexo, aquilo que lhe parece nojento perde tal característica e vira objeto de desejo e puro fetiche.

Ao encarar a pauta a respeito do scat, a grande motivação foi toda a controvérsia que tal assunto causa, desde a reunião na redação até em conversa com os amigos. E, a partir do início da pesquisa, descobre-se um mundo a mais no fetiche: o sexo a partir das fezes humanas. O sexo a partir daquilo que é mais íntimo em qualquer pessoa… E a pergunta inevitável na cabeça: quais são os fatores que suscitam uma pessoa a ter prazer com o ato de defecar do seu parceiro? Para, em seguida, divertir-se com ele?

Dois jovens que praticam o scat conversaram com a revista A Capa sobre a questão das motivações ao ato escatológico. Há muita semelhança na visão de ambos. Thiago*, gay de 28 anos, diz que estava cansado do sexo como a maioria conhece e diz, “cansei das mesmices do sexo convencional, e queria algo mais além, que realmente me excitasse”. O segundo entrevistado, Leonardo*, também gay, de 26 anos, relaciona o fetiche ao lance do ilícito. “O grande barato é o lance do proibido, e por ser uma coisa muito íntima da outra pessoa. Coisa que ninguém nunca iria ver você fazendo. Esse é o lance. É o máximo da intimidade sendo revelada na sacanagem, na putaria, sem pudor, o lance de se abrir e se mostrar pro outro”, analisa o rapaz.

Thiago também é moderador da comunidade no Orkut, “Scat Boys Brasil”. Sobre o porquê de se criar uma página para tal prática, ele surpreende ao responder, “percebi que havia muitos adeptos e fiz para que as pessoas possam se conhecer e trocar ideias a respeito de seus fetiches, e por que não encontros etc.”. Sua comunidade no site de relacionamentos não é a única do ramo. Em uma rápida pesquisa é possível descobrir várias. E detalhe, divididas entre comunidades voltadas para o povo do scat gay e hétero. Também é possível encontrar fóruns de discussões e espaços destinados ao debate do tema.

Leonardo revela desfrutar de tal prazer há seis anos e que “foi vendo fotos na net, procurando coisas diferentes, formas de sexo diversas, loucuras que as pessoas fazem em busca do prazer e conversando nos bate-papos da vida”. Já Thiago conta ser praticante do scat há dez anos. Os meninos confidenciam também como andam suas relações afetivas. Leonardo diz que no momento não tem parceiros fixos e que para conseguir companheiros para o scat faz uso “única e exclusivamente via bate-papo na net e MSN”. Thiago conta que namora, porém o namorado desconhece esse lado secreto de seu prazer. Ele acredita que se o companheiro descobrisse seu fetiche, a relação entre ambos não terminaria.

Sobre outros possíveis preconceitos que possam vir a sofrer devido à inusitada prática, Thiago assume que em um primeiro momento as pessoas se assustam, mas preconceito mesmo “muito pouco.  O lance é não forçar nada”. Sobre isso, Leonardo diz que depende da situação, “o preconceito é relativo, se você entrar numa sala de bate-papo com o nick “merda26asp” ou “mijo_merdareal”, vai ter um monte de caras te chamando. 98% de curiosos e muita gente te xingando”.

Intimidade escatológica
Durante a conversa Leandro relatou uma ocasião onde rolou o scat. “Uma vez num bate-papo, conversei com um moleque bem safado. Ele era mais novo do que eu, então, como morávamos próximos, resolvi criar coragem e partir pra real, pra ver se tudo que ele dizia era verdade mesmo! Ele disse que toparia fazer tudo, fomos pra um motel desses bem fuleiros e bem baratinhos, pulgueiro mesmo sabe?”, relata.

Daí começamos a nos pegar, ele muito safado, começamos a brincar de dedadas, ele queria dar pra mim e eu louco de vontade. Eu perguntei pra ele o que ele faria, ele me colocou de quatro na cama, com o bundão bem pra cima, sabe quando fica bem arrebitado e bem “abertão”? Daí ele caiu de boca, metia a língua bem profundo, e eu não tive duvidas, fui fazendo força e comecei a sentir a língua dele sendo melecada pelo meu scat que na ocasião era “nem mole nem duro”. Ele foi à loucura, começava a mexer a boca na minha bunda, misturar tudo aquilo, ele mastigava mesmo, ficou todo lambuzado. Um tesão. Uma coisa louca, sabe aquela sensação de que você vai gozar sem ao menos encostar no seu pau, uma piração!”

Sobre as suas fantasias com a escatologia no sexo, Thiago conta que “a primeira vez é sempre a melhor.  Tem pessoas que comem, eu não me excito com isso. Só curto ver”. Fala sobre as preliminares, “geralmente se for rolar, prepara-se o ambiente com jornais ou papeis que evitem muita sujeira… mas cada caso é um caso. Existem adeptos que gostam de receber scat direto na boca, outros esfregam pelo corpo. Existem formas diferenciadas dentro desse fetiche. Não há um estereótipo, forma ou regra…. Apenas viaja-se cada um na sua fantasia”. Sobre a sua preferência ele diz que gosta de ver a pessoa com quem está defecar. “A exposição do parceiro no ato do scat. Às vezes não rola transa, saio com o parceiro somente para a prática do scat. Nesse caso rola masturbação apenas, nada de transa, relação ou afetividade”, conclui.

* A pedido dos entrevistados, os nomes originais foram alterados.

** Matéria originalmente publicada na edição no. 15 da revista A Capa.

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