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O que vendem as semanas de moda?

Toda semana de moda é a mesma coisa. E não só nas passarelas, em que "as cores tomam conta do verão e o preto domina o inverno", ou que uma lindinha é acusada do imperdoável crime da celulite, ali, naquele vazio que é o traseiro da pobrezinha. Ou então, um estilista brasileiro que copia fulano lá da Europa, esse colonizado sem talento. Ou então, o lambe-lambe que enche egos e inventa gênios, amizades, e um simulacro de mundo perfeito, onde todos são sexy e bem relacionados.

Nas primeiras filas, funcionários de atrações televisivas, primeiras damas, damas de quinta também, jornalistas, responsáveis por criticar as apresentações e influenciar opiniões, e os fotógrafos… Depois das modelos, sofrimento mesmo é o dos fotógrafos.  Lá atrás, dezenas de cabeleireiros e maquiadores fazem das tripas coração para fazer algo impressionante em tempo recorde com míseras cabeças.

Pelos corredores, os patrocinadores ganham espaços de propaganda, os chamados "lounges" e colocam seguranças na entrada, uma estratégia para associar a imagem da marca a algo exclusivo – e de não ver sumir seus brindes e agradinhos. E tem empresa de todo tipo – operadora de celular, acessórios, banco, livraria cara, tudo que possa ser associado a um lifestyle privilegiado. 

Na sequência, no entanto, as grifes (não só o estilista, mas toda a empresa) trabalha por resultados positivos economicamente, busca mercados internos e externos, se preocupa com o retorno do investimento (alto!) na coleção e em manter o patrocínio para a próxima temporada. As confecções menores filtram o que viram e colocam em suas araras, com materiais mais acessíveis e cortes mais práticos e aí sim, definem o que vai ser usado ou não. Ao mesmo tempo, figurinistas e produtores levam essa estética para os meios de comunicação, a atriz da novela das 19h que depois aparece na capa da Manequim, sabe? Aí sim, infalível.  É um sistema em que um agente depende do outro, e todos tentam andar no mesmo passo, o que por cima, pode ser chamado de tendência.

E, no final do fuzuê, tem os consumidores, que na maioria das vezes, ficam sem entender nada. A visão de moda de quem apenas observa é formada pela publicidade e pautas jornalísticas influenciadas pelo marketing. E o que fica é que a moda é uma ditadora, e que somos inadequados para esse mundo – afinal, ninguém sai na rua com aquela roupa da passarela, nem tem cintura de Gisele grávida. E esse é o lado obscuro da moda: entre tanta gente, ó, quanta alegria, a palavra é vender. Vender modelos para mais trabalhos, vender revistas que ensinam a alcançar a imagem de beleza divulgada, vender Jesus para as revistas de vida social, vender um padrão de vida, não só a estética, mas um ambiente em que você usa tal operadora de celular, enquanto faz dieta para entrar na sua calça cintura alta.

Moda é consumo, e podemos compará-la com outros mercados de consumo – o de tecnologia, por exemplo, está se renovando tão rápido, que daqui a pouco tem coleção primavera/verão e outono/inverno. Mas a indústria têxtil envolve tanta gente, tantas celebridades que venderão imagens, e a roupa tem uma função comunicativa tão forte, que o evento ganha proporções de entretenimento, quando na verdade, é uma feira de negócios – e vaidades, pois o poder de influenciar, a imagem pessoal, a troca de favores e a fofoca, nesse caso, são partes importantes.

O sucesso real depende do consumidor. E é o consumidor quem manda: não gostou, não apoie, não compre, não use, não sugira, não dê de presente. A sua imagem é sua, e todas as possibilidades estão aí para serem escolhidas. E o povo da moda que continue se esforçando para manter um mercado saudável.

* Na faculdade fez Têxtil e Moda, hoje em dia presta assessoria a empresas e não contente, estuda arte conceitual e figurino teatral. Para não se perder, tenta registrar tudo em seu blog.

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