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“O RJ ainda é muito gueto”, diz casal gay agredido no aeroporto; confira entrevista

Era pra ser uma simples volta de Natal, Rio Grande do Norte, à cidade onde moram. No entanto, não foi bem isso que aconteceu com o casal Cristiano Damasceno e Dario Constantino.

Ao desembarcar no Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, os dois foram abordados por um taxista irregular, que fez pressão para que o casal usasse o serviço. Com a negativa, o taxista se irritou e fez uma piada preconceituosa, ofendendo Cristiano e seu companheiro. O caso terminou em agressão, com Cristiano desmaiado por mais de 5h.

Ao site A Capa, ele contou como tudo começou e como se sentiu lesado pela falta de policiamento em um dos maiores aeroportos do país. Confira abaixo a entrevista.

Como o taxista irregular abordou vocês?
Eu estava voltando de uma viagem a trabalho, de Natal. Na saída do Terminal 2, já começa a abordagem de taxistas piratas. Primeiro, eu recusei o serviço. Depois, meu companheiro vinha atrás de mim e o mesmo taxista irregular ofereceu o serviço e ele também recussou. Foi quando ele fez um comentário de mau gosto, com relação a nossa sexualidade e eu fui me defender.

Que tipo de comentário?
Ah, comentários pejorativos, no feminino, como: "estão nervosinhas"?  Foi aí que resolvi me defender. Ele me agrediu, eu caí, e começaram a chutar minha cabeça. Foi aí que fiquei desacordado. Desmaie por volta das 14h e só acordei às 20h, no hospital.

Você e seu companheiro estão juntos há quanto tempo? Já passaram por situação parecida?
Estamos juntos há 15 anos, nunca sofremos nada parecido. Nunca.

No momento da agressão não havia policiais por perto?
Tivemos socorro, mas demorou a chegar. Agora, polícia mesmo, na hora, não tinha. Policial nenhum. Nem guarda municipal. Depois de muito tempo é que foi aparecer a segurança da Infraero.

Câmeras que registraram o momento da confusão mostram um tumulto quando você cai. Mais de um homem agrediu você?
O taxista irregular com quem eu discuti não foi o que me chutou. Foi outro que não tinha nada a ver com a discussão.

Mas a briga só aconteceu depois que você se sentiu ofendido com o xingamento preconceituoso do taxista, correto?
Sim, mas a agressão não foi só a partir do momento que teve luta corporal, a agressão começa dentro do aeroporto quando você passa pela porta de desembarque e não tem o direito de escolher qual transporte você quer usar. Poderia ter acontecido com qualquer um, não só comigo que sou gay. Acontece que ele usou de uma forma preconceituosa pra me ofender, quando eu decidi não pegar o taxi.

Você foi à delegacia?
Sim, prestei depoimento e fiz exame de corpo de delito. Os agressores já foram reconhecidos e indiciados por lesão corporal e tentativa de homicídio.

Você, que é morador do Rio de Janeiro, como avalia a cidade no tratamento com a comunidade gay?
Sinceramente, precisa melhorar muito. Mas não é porque é Rio de Janeiro, isso é uma questão cultural, de muito preconceito.

O Rio de Janeiro foi escolhido como destino gay mais sexy do mundo, deve estar preparado para receber milhares de turistas. Qual sua opinião sobre isso?
O Rio foi escolhido como destino gay mas você vê que ainda é muito gueto, tudo ali acontece por volta de Ipanema. Não é como uma grande cidade, como Nova York, Londres, que você pode andar de mão dada com o seu namorado e ninguém te agredir ou incomodar, lá você é respeitado não porque é gay, mas sim porque é um ser humano. Um cidadão comum. Mas as coisas estão melhorando, antigamente casos como esses nem eram noticiados. Não estou aqui pra levantar bandeira da homofobia, porque isso é uma questão social. Aconteceu comigo, mas poderia ter acontecido com qualquer um que desembarca no aeroporto do RJ.

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