Esta semana ia indo muito bem, nos primeiros dias tinha muito pique, muita disposição para resolver tudo, tinha tudo pra ser uma semana importantíssima para minha empresa, e foi realmente.
Na quinta, algo que estava programado e estudado há dois meses foi concretizado, deu tudo certo, melhor que o esperado, mas a tensão e nervosismo me esgotaram.
Em alguns momentos da minha vida eu preciso chorar, por nervosismos, tensão, raiva, tristeza, mas nem sempre eu posso, no demitir de funcionários, por exemplo, eu não posso chorar, mesmo que ele chore, eu tenho que ser uma pedra e manter a decisão da empresa até o fim. Não sei se com outros empregadores é assim, ou sou só eu que sou imaturo. Com o tempo eu não consigo mais chorar, é bem difícil, e agora sempre o choro fica engasgado.
No final do dia da quinta, esgotado, mas com a missão cumprida, no táxi tocava a musica Streets of philadelphia. Eu me lembrei do filme de 1993, muito triste, e pensei que com esse filme seria uma boa oportunidade pra chorar, torci para que meu namorado não tivesse assistido, e realmente ele não havia, e durante a noite eu deixei o filme baixando.
Esse meu artifício pra poder chorar, desabafar, tirar o choro engasgado assistindo filme dramático preocupa e choca meu sócio Gustavo, mas é uma das poucas formas que eu conheço. Mal necessário.
Chegando ao escritório na sexta perguntei pra vários se alguém conhecia o filme Filadélfia, quase ninguém conhecia, expliquei a sinopse e indiquei, acho que é referencia importante pra quem trabalha em redação de veiculo gay, aliais gostaria de relacionar o que é básico pra alguém saber sobre a vida gay, sempre me deparo com questões importantes que os mais novos (20 anos) não viveram. Filadélfia é como era o HIV quando eu tinha 19 anos, era assim que nós víamos a doença, agora é mais leve, mas naquela época quem pegava ganhava sentença de morte.
Na sexta, foi um dia deprimido pra mim, começou sem motivo, acho que o esgotamento do dia anterior, e tudo durante o dia foi conspirando pra isso, apesar do meu esforço por tudo funcionar outros mostram não estar nem se importando, mentem e isso vai tirando meu pique, no final do dia uma briguinha com o meu namorado acabou piorando tudo. O mais engraçado é que estava bem deprimido do meu trajeto do trabalho até minha casa, porem cheguei a minha casa, jantei, e quando entrei no meu quarto tudo passou, parece que veio a força pra encarar qualquer pequena tristeza.
Logo depois nem jornal da TV Globo como de costume assisti, comecei a assistir Filadélfia, sozinho mesmo, deu pra perceber algumas coisas, o preconceito diminuiu desde os quinze anos que o filme foi lançado, no filme se fala em morte social pra quem contrai o HIV e diversas vezes os heterossexuais dizem sentir nojo de nós homossexuais, só de pensar em gays fazendo sexo. O final do filme serviu ao planejado, chorei de soluçar, acho que agüento mais uns seis meses sem chorar, no final que é um funeral lembrei o velório do meu tio que foi na semana passada e também não tinha conseguido chorar, apesar do sentimento de choro engasgado.
O contrapeso do preconceito, é que ele sempre esta entre nós. Neste site pessoas expressaram superioridade de outros gays pelo simples fato de serem efeminados, quem sabe daqui num futuro há quinze anos alguém lê isso e diz que absurdo era o preconceito neste, como vejo hoje no filme Filadélfia.
O filme conta com Tom Hanks no papel de Andrew homossexual que contrai aids, Denzel Washington como Advogado e Antonio Bandeiras como namorado do Andrew.
A musica do filme é bem tocada em radios é de Bruce Springsteen, segue a letra traduzida:
Streets Of Philadelphia
Composição: Bruce Springsteen
Eu estava machucado e ferido
e não podia dizer o que eu sentia
Eu estava irreconhecível pra mim mesmo
Eu vi meu reflexo em uma janela
Eu não conhecia minha própria face
Oh, irmão, você vai me deixar
enfraquecendo nas ruas da Filadélfia
Eu percorri a avenida até que minhas pernas
sentissem como pedra
Eu ouvi as vozes de amigos desaparecidos e sumidos
À noite eu podia ouvir o sangue nas minhas veias
Tão negro e sussurrante como a chuva
nas ruas da Filadélfia
Nenhum anjo vai me saudar
É apenas você e eu, meu amigo
E minhas roupas não me cabem mais
Eu andei mil milhas
só para escapar da minha pele
A noite caiu, eu estou deitado acordado
Eu posso me ver desaparecendo
Então me receba, meu irmão, com seu beijo sem destino
ou nós vamos deixar um ao outro sozinhos desse jeito
nas ruas da Filadélfia
Segue o trailer do filme:
O filme já passa nas madrugadas da Globo, no Corujão, vale a pena assistir.