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O sucesso do mercado é entregar aquilo que as bichas querem

Em seis anos que trabalho no mercado gay vi nascer negócios e empreendimentos dos mais diversos tipos de olho no chamado ‘Pink Money’. Esse dinheiro cor-de-rosa que muita gente busca existe, mas não é tão volumoso quanto acreditam ser. Nem todas as bichas são ricas, nem sempre estão dispostas a gastar em qualquer produto que tenha um arco-íris, mas elas se empenham em consumir aquilo que lhes agrada. Parcelam, pagam no cartão, mas consomem.

O Freedom, o primeiro Cruzeiro gay brasileiro, é um caso bem interessante para ilustrar o perfil do público que está disposto a gastar. A viagem começou a ser vendida com sete meses de antecedência. Dos 1770 lugares disponíveis para passageiros, 1697 foram devidamente ocupados. Neste número, é preciso contar as cabines distribuídas para imprensa, parceiros, convidados, personalidades e afins. Sem número preciso, acredito que embarcaram cerca de 1400 pagantes.

Dentro desses quase 1700 embarcados existiam diversos públicos e perfil de consumidor. Muitos casais de mulheres com mais de trinta anos, aparentemente bem sucedidas em suas carreiras e dispostas a se dar ao prazer de consumir aquilo que gostam. Casais de homens jovens e maduros também tinham aos montes. Casais de cabelos brancos, gente que já viveu muito e sabe o que quer. E poucos jovenzinhos com menos de 25 anos.

Foram essas pessoas que saíram do Cruzeiro de malas cheias de compras. Alguns perfumes chegaram a esgotar, gente saindo com caixas fechadas de whisky, gente se esbaldando em champanhe nas tardes de sol, nos óculos de grife, nos cremes importados. Gente que estava gastando em dólares, pagando com cartão de crédito, consumindo apenas pelo prazer de ter aquilo que gosta. Nas cabines, os pedidos de bebidas de todos os tipos surpreenderam a tripulação do navio. Nunca se viu tanta gente bebendo tanto. Nem nos cruzeiros universitários, onde as pessoas enchem a cara, mas não é um consumo específico e caro.

Sem dúvida, o sucesso deste negócio abrirá os olhos de outros investidores e empreendedores do mercado e fora dele. No Cruzeiro, algumas pessoas que também trabalham no mercado chegaram a imaginar que a própria operadora do navio poderá, nas próximas temporadas, fazer pacote para o público GLS sem a participação de terceiros, neste caso a rádio Energia 97 FM.

Mas a questão é: quem são essas pessoas? O que elas fazem? Onde moram? Quanto ganham? Sou aficionado por pesquisas, por acreditar que através delas é possível oferecer produtos como o público alvo quer e precisa. Não adianta no próximo Verão surgirem cinco cruzeiros gays com capacidade para três mil pessoas que não vai rolar.

Antes de se jogar em um investimento milionário – a locação de um navio do porte do Island, que é um dos menores, é na casa do milhão de reais – é preciso entender o mercado, conversar e conhecer essas pessoas, detectar as falhas e melhorá-las, analisar o que faltou e acrescentar. Tudo isso só poderá acontecer com um trabalho corpo-a-corpo, diário, emprenhado, feito ao longo do ano. Não é só reunir quatro ou cindo empresas para locar o navio, fazer uma divulgação na internet, e esperar as vendas acontecerem.

O sucesso do próximo Freedom  é garantido. As pessoas saíram de lá, de um modo geral, satisfeitas. Ainda que tivessem falhas, o saldo é positivo, mas a solidificação e a perpetuação deste mercado estão em melhorá-lo sempre, a cada temporada, e divulgar para os clientes atuais todos os passos deste projeto. 

As festas foram bem bacanas, mas foi perceptível que os boateiros não eram a maioria dentro do Island e o foco do entretenimento foi nisso. O deck onde aconteciam as festas estava sempre cheio, mas não intransitável. O teatro do navio, durante a apresentação do musical "New York, New York", estava cheio e a pista também. No cassino, tinha gente jogando. Durante a tarde, mulheres se jogaram nervoso nas rodas de samba e música ao vivo, a pistinha de flash back bombou. E nas cabines? Muita gente não foi vista circulando. Ficaram nas cabines, fazendo festinhas particulares. Pessoas que estavam afim de tomar sol, descansar. Gente que foi atraída pela liberdade de poder beijar o namorado sem olhares estranhos e não necessariamente pela música ou pelo line-up.

No navio tinha muito mais do que os amantes da house music, tinha representantes de toda a fauna gay. É preciso se voltar a essas pessoas e saber o que elas querem no próximo, é preciso aliar-se a gente fora do mundo da noite também. É necessário agregar entretenimento para todo tipo de público para que o próximo Freedom possa sair lotado novamente, mas desta vez com três mil pessoas a bordo, porque potencial tem, mas o trabalho será duro.

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Emy Storey