Escritor alagoano explora universo da sexualidade (gay ou não) com naturalidade em seu primeiro livro de contos
Por William Magalhães
É na cidade de Maragogi, extremo norte do litoral de Alagoas que vive um escritor brasileiro (ainda) desconhecido. Hoje, aos 42 anos, José Valdemar de Oliveira sofre o estigma de viver em uma cidade pequena. Vítima de um sociedade machista, ouvia de seu pai, aos 14 anos, que “livro é coisa de mulher desocupada!”. “Nunca fui incentivado por ninguém. Na minha casa, não se tem o hábito de ler, nem tampouco na cidade. Até hoje não tem livraria, e na época sequer havia biblioteca”.
No final de fevereiro deste ano, José lançou “Vapor Barato”, seu primeiro livro, publicado pela editora 7letras, a mesma de escritores como Clarah Averbuck. Os contos não são explicitamente homoeróticos, são gays sem serem gays. A homossexualidade de alguns per-sonagens está nas entrelinhas, não passa de um mero detalhe em suas vidas ou tem pouca significância para o fato em si. Dessa forma, o autor consegue abordar o tema com naturalidade e sem chatice.
Ao todo, são nove contos que retratam tipos bem diferentes da diversidade humana. “São personagens que habitam o mundo pós-moderno, seres urbanos contemporâneos”, explica o escritor, citando alguns deles: “Há a clubber que caça tudo e todos nas baladas, fica com todo mundo, volta pra casa sozinha e sente falta de um grande amor. Há ainda o carinha que curte poesia, rock e se droga. Aí tem um clima underground. É alguém que não acredita na condição humana. Não segura a onda e se fode nas drogas. É um conto existencialista. Sartreano. Foi um dos primeiros. Quem lê o livro todo vai ver que ele se difere dos demais. Ah, tem também o dilema do macho bissexual: o malhado que se descobre com tesão pelo melhor amigo… Ficar com a namorada? Ficar com outro carinha? Ou com os dois?”.
Sobre o livro, o autor destaca a paixão como tema central. “Abordo o que a paixão desencadeia. O desespero, a loucura, a solidão. Sou alienado, profundo, intenso. Transfiro esses ‘desvios’ para o meu texto.”
Como todo autor, José ressalta a importância da leitura na carreira e manda uma preciosa dica: “Pra escrever ficção, é necessário ter a capacidade de reinventar o mundo. Você tem que criar personagem, ou seja, criar uma pessoa, descrever todos os sentimentos dessa pessoa. Porque personagens são na verdade seres, fictícios, sim, mas têm que parecer reais, pra que não fique uma coisa falsa. O escritor tem que conhecer o ser humano a fundo”.
A Homossexualidade na Grécia Antiga
Por Diego Cardoso
Olhando para o passado, mais precisamente para a arte e a literatura gregas dos séculos VIII a II A.C., fica evidente que a presença da homossexualidade era não apenas tolerada, mas, sobretudo, valorizada. É o que mostra o autor inglês K. J. Dover no livro “A Homossexualidade na Grécia Antiga” (tradução de Luís S. Krausz; Nova Alexandria; 333 páginas).
Especialista em estudos clássicos, Dover apresenta neste trabalho o resultado de suas pesquisas sobre a condição dos homossexuais no mundo grego antigo, sob o viés das artes plásticas, da literatura e da filosofia. “Eles a aceitavam porque seus pais, tios e avós também a aceitavam”, afirma o estudioso sobre a situação dos gays naquela sociedade clássica.
As provas para esta afirmação estão em objetos de cerâmica, fragmentos de poemas e outras formas de expressão artística que exibem, sem pudores, cenas homoeróticas. Algumas pinturas de vasos, por exemplo, mostram momentos de prazer entre homens ou mesmo um adulto seduzindo um garoto.
Como e quando a livre expressão sexual passou a ser proibida ainda permanecerá mistério. “Por que a homossexualidade aberta e sem repressão se tornou um aspecto tão conspícuo da vida grega é um assunto interessante para especulações. Infelizmente, no entanto, faltam dados”, explica Dover.
Boa tradução e texto dinâmico. Para gregos e troianos, gays e simpatizantes.