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Off Centro: Bares na periferia investem no público gay

Baladas gays na periferia

Mesmo fora do eixo comum da vida noturna paulistana, bares na periferia investem no público gay

Nem Augusta, nem Frei Caneca, muito menos Vieira de Carvalho, Praça da República, Jardins ou Barra Funda. O destino é a maior e mais povoada região de São Paulo: a Zona Leste, lugar da capital paulistana sempre lembrada por seus aspectos negativos, como a violência, para ficar em um só exemplo. Preconceitos à parte, nada como pegar um ônibus e adentrar as entranhas desta terra para ver de perto o que se passa.

Duas noites, dois locais e duas realidades. Em São Mateus, há ainda algumas ruas de terra e uma movimentação intensa e desordenada de carros e pessoas. Já o Carrão, é marcado por avenidas imensas, trilhos de trem e metrô. Com espaços tão incomuns, o que levaria pessoas a investirem em locais GLS em plena ZL de São Paulo?

ENTRE AMIGOS 
Em uma agradável sexta-feira, 13 de junho, a reportagem da revista visita um bar que fica ao lado do terminal de ônibus São Mateus, no número 13.370 da Avenida Sapopemba – a maior da América Latina. No extremo da Zona Leste e indo para um bar gay… É inegável não sentir um certo estranhamento. Pelo visto, as coisas estão mesmo mudando.

Uma sobreloja com uma fachada discreta e apenas uma placa, sem qualquer alusão a se tratar de um espaço gay, indica estarmos no local certo: o Guingas Bar. Na entrada, é possível encontrar algumas pessoas conversando e fumando cigarro. Ao subir a escada, uma música alta ecoa de dentro. Depois de passar por uma rápida revista, avista-se o bar e algumas mesinhas, à direita uma pista com um DJ tocando bate-cabelo. Logo, fomos recebidos por Ailton e Maria Aparecida, os donos do lugar.

"A idéia de montar um bar é muito antiga, não exatamente um bar gay. O nosso irmão comprou um bar, que foi o primeiro Guingas e não era GLS, era boteco mesmo. A gente teve que dar uma mão pra ele, pois ele já estava afundando. Então, reformamos o estabelecimento. Nós somos gays, temos muitos amigos e sabíamos que, conseqüentemente ia virar", conta Maria sobre o surgimento do local. Ailton completa e revela que até hoje a divulgação do bar funciona no boca a boca e diz que a origem do nome, "é uma homenagem ao nosso irmão, o Guinga, que faleceu em 1996 por conta do HIV".

No dia seguinte, a reportagem traçou caminho rumo ao Metrô Carrão, pois o segundo ponto gay da ZL fica ao lado da estação ferroviária e se trata do Babadus Bar. É fácil se perder no caminho e seguir o sentido contrário do bar, pois a rua onde ele está situado é praticamente uma avenida.

A área onde o Babadus fica é residencial, vazia e calma. Não é difícil bater o olho e identificar. Assim como o Guingas, também não conta com identificação que remeta ao mundo gay. O bar dispõe de uma fachada simples, toda preta, com um neon vermelho que indica seu nome e uns castiçais com fogo.  Ao entrar, você já está na pista, ao atravessá-la, há o acesso a um confortável barzinho. No andar superior há uma mesa de sinuca e um espaço para shows acústicos com mesas para sentar, beber e conversar.

Regina, proprietária do estabelecimento, diz que resolveu investir em um espaço GLS fora do Centro por "necessidade própria". "Tenho uma companheira, estamos juntas há seis anos, e quando queríamos sair tínhamos que atravessar a cidade. Sentíamos a necessidade de estar perto de casa, até para poder voltar mais rápido e chegar mais cedo. A nossa intenção também é essa: pegar o público que não quer atravessar a cidade para se divertir".  Sobre o nome do bar, "ele veio da gíria, aquela coisa de você olhar a pessoa e comentar, será que ele é do babado?".

HOMOFOBIA E BAIRRISMO
"Com homofobia nunca tivemos problema. O único problema que tivemos foi com o barulho mesmo. No antigo endereço, havia residências do lado. Aí não tinha jeito. Todas as noites vinha polícia, PSIU!, fiscal da prefeitura, vinha todo mundo, até que conseguiram fazer com que a gente saísse. Mas este foi o segundo motivo. O outro era porque o antigo espaço já estava pequeno, a cozinha era minúscula, só tinha um salão e se acontecesse alguma coisa não tinha por onde escapar",  lembra Maria Aparecida sobre o primeiro espaço do Guingas, em outro número da Avenida Sapopemba. Faz dois meses que o bar está no atual endereço, firmado como GLS, mas sua trajetória teve início há um ano e seis meses.

A história não muda muito com o pessoal do Babadus, "nunca tivemos problemas com preconceito. Quando abrimos o bar já o fizemos preparadas para qualquer eventualidade", festeja Regina.

Cida e Ailton sabiam que teriam uma dificuldade: a competição com o Centro. Para isso, pensaram no diferencial, e tal fato foi também motivo forte para a mudança de endereço, "é aí que começa a história de manter o povo no bairro. Por que o pessoal só vai para o Centro? Os meninos vão para a República e as meninas lá para o Farol da Vila. Aqui [São Mateus] é um lugar que você não tem opção. Em Santo André tem uma op-
ção de domingo, mas é só um dia. Então era isso: pegar esse povo e deixar por aqui".

"O bar existe  há quatro meses. O começo é sempre mais difícil, até as pessoas se acostumarem. É uma cultura: diversão é lá na Paulista, Jardins etc. Então,é uma mudança cultural na cabeça das pessoas, mas isso está melhorando. A maior parte dos freqüentadores é da Zona Leste mas tem aparecido  pessoas de outras regiões. No entanto, nós tivemos aqui no sábado a Joe Welch, que faz apresentações em outras casas e tem um público mais elitizado, e eles não vieram para cá. Ainda existe um preconceito em relação a isso", lamenta Regina.

A questão de estar perto de casa também se reflete em alguns freqüentadores dos dois bares. Cesar Augusto conta que é a sua primeira vez no Babadus e estar "próximo de casa é melhor, porque moro aqui na Zona Leste mesmo", revela o rapaz de aproximados 23 anos que costuma frequentar a Blue Space e o Bar Queer. Aparecida, que estava no Guingas e mora numa rua atrás do bar, também reflete sobre a questão de um espaço gay perto de casa, "é bem bacana aqui, é a terceira vez que venho e é perto de casa".

Como fazer as pessoas deixarem de ir ao Centro e ficarem pelo bairro? Para quebrar tais barreiras, Ailton e Cida contam que investem em um cardápio diferenciado, "temos a preocupação de proporcionar variedade. Por exemplo, você conhecer uma pessoa e vir jantar aqui". Regina também aposta no bom trato para atrair pessoas, "fritas e cerveja você tem em qualquer lugar, agora um tratamento diferenciado não. Eu e a Vanessa (companheira e sócia de Regina) vamos até as mesas, conversamos com as pessoas, procuramos saber se estão sendo bem atendidas, se têm alguma sugestão ou reclamação. E isso com certeza faz a diferença", afirma.

GEOGRAFIA E LOCALIZAÇÃO
Apesar de estarem em uma região longínqua, os proprietários dos bares pensaram em suas posições geográficas. "Se você for para a República e sair da Zona Leste levará 1h30, e se não tiver carro e quiser voltar no meio da madrugada, vai gastar uns R$80 de táxi. Aqui não, as pessoas podem pegar um táxi, tem um ponto aqui do lado, e gastar uns R$15 ou R$20. E outra, hoje a partir da 0h sai ônibus de hora em hora do Terminal São Mateus com destino ao Parque Dom Pedro", revela Cida. Segundo Regina, a localização próxima ao metrô foi uma preocupação desde o início do projeto do Babadus. "Estar perto do metrô foi uma estratégia nossa, mesmo quando visitamos outros salões em outros bairros, eram próximos de alguma estação. A grande massa da Zona Leste tem o m

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