– Amor! Tem que colocar com força… Se não, não entra! – dizia eu para o meu namorado.
– Mas eu já coloquei. – retrucou ele de imediato.
– Dá um tapa pra entrar tudo, caso contrário não vai rolar. – aconselhei ainda, com aquela cara de "vamos logo?".
Depois de um tapa bem dado, a ficha desceu, a máquina se acendeu e, enfim, a garra que pegaria o bicho de pelúcia pode ser manipulada pelo meu amorzinho. Em vão, claro, essas máquinas de bichinhos de pelúcia quase nunca funcionam adequadamente. Por esta razão, preferi trocar de brinquedo e fui num mais clássico, onde você tem de derrubar os bonecos com uma bola de borracha. Derrubei cerca de 385 bonequinhos e o prêmio: uma lagartixa de borracha uó e uma caneta de metal roxo, com detalhes em prata (bem gay, aliás!). Fico passada como esses locais de entretenimento adoram ludibriar as pessoas, né? Enfim, mas pelo menos eu queimei umas duas calorias jogando a maldita bolinha de borracha e ainda fiz uma horinha para dar o tempo do início da sessão, afinal, os lugares no cinema ainda não são numerados (poucos são) e aí você tem que ir super cedo pro cinema pra não pegar um lugar no gargarejo.
Como disse no post anterior, meu namorado e eu fomos assistir a uma animação – Rio. O filme conta a história de uma arara azul, o Blue, que é capturado no Rio de Janeiro e contrabandeado para os Estados Unidos. Num acidente com o caminhão que o transportava a gaiola cai na rua e é encontrada por uma garota que o cria. Já adulto, Blue é visto por um biólogo brasileiro em viagem nos Estados Unidos e pede que sua dona o leve ao Brasil para acasalar com uma fêmea da espécie, uma das últimas segundo ele.
Chegando à Cidade Maravilhosa, já no laboratório, Blue e a outra arara azul são roubadas e fogem acorrentados um ao outro, dando início à aventura que durará durante toda a sequência. E claro, no final, os pombinhos, ou melhor, as araras se apaixonam, acasalam e tem vários filhotes. Aliás, não são apenas os emplumados que vivem uma história de amor, mas os donos de cada ave também experimentam do fogo da paixão…
O filme é super colorido e até engraçadinho, mas a fórmula é a já batida da aventura aliada à paixão dos personagens. Mas aí, voltando pra casa, comecei a ponderar com meu namorado. Nunca, nenhum desenho mostra o amor homossexual, por exemplo… Nem que seja de relance. As apressadas e preconceituosas já vão dizer: "Claro, bicha… Eles jamais farão um desenho com uma história gay."
Infelizmente penso que é verdade. Pelo menos por enquanto. Existe um falso moralismo que paira no ar onde se diz que crianças não podem ver cenas de amor, beijos ou afeto entre pessoas do mesmo sexo. Bobagem pura, claro. Uma cena de carinho jamais traumatizará uma criança e cito dois exemplos: o primeiro é em casa mesmo, meus sobrinhos cresceram me vendo com meu ex-namorado e hoje já adolescentes, continuam vendo minha relação com meu futuro marido (aproveitando que agora que podemos nos unir oficialmente); o segundo exemplo é a filha de uma amiga que é bailarina e sempre teve amigos gays, um casal em particular sempre frequentou sua casa, e sua filha os viam juntos e com três anos ela perguntou se eles eram casados (como o tio Pedro e a tia Alessandra, ela comparou) e minha amiga disse que sim. Para a surpresa dela, um dia ela chegou em casa e viu a filha casando as duas Barbies dela e o Ken era o padre.
Ou seja, já está mais do que provado de que uma criança não se sente afetada pelo carinho, pelo afeto e pela relação de um casal homossexual. O grande problema está na mente deturpada e preconceituosa dos adultos que projetam seus sentimentos e percepções nas próprias crianças, com a intenção de defendê-las de algo que eles – os adultos – julgam ser errado.
Enfim… Já que, por enquanto, não tem uma versão oficial de uma animação gay no circuito comercial, quero dizer… Vou me contentar com uma dublagem de um trecho do filme O Rei Leão, que eu adoro:
Agora, deixe-me ir… Os tapinhas na máquina me deram uma ideia nada inocente…
Tá dado o recado… Beijo, beijo, beijo… Fui…