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Padre Gisley e Marcelo Campos: os mais novos mártires gays brasileiros

Depois da celebração, a dor. São Paulo colocou na Avenida Paulista, no último domingo, 3,1 milhões de pessoas celebrando o orgulho LGBT. A cidade está consolidada como a promotora da maior Parada do Orgulho do planeta. Contudo, as notícias que recebemos enquanto terminava o domingo 14 de junho, tinham a funesta mensagem da homofobia: uma bomba de fabricação caseira foi atirada contra gays na Av. Vieira de Carvalho, atingindo 22 pessoas, por sorte, nenhuma vítima fatal.

Assistimos horrorizados pela TV as imagens de um rapaz sendo violentamente agredido enquanto a Parada desfilava; os noticiários deram a notícia de mais dois rapazes violentamente agredidos por bandos de homens: um, de 27 anos na rua Frei Caneca (conhecida no meio como “Gay Caneca”) e outro, de 35 anos, Marcelo Campos Barros, agredido enquanto ia encontrar um amigo no Centro de São Paulo, por outro bando. Ambos sofreram traumatismo craniano decorrente do espancamento do qual foram vítimas. O jovem foi liberado do hospital na última terça-feira, mas, daqui algumas horas, a família e os amigos de Marcelo Campos Barros sepultarão seu corpo em algum cemitério de São Paulo. Ele morreu no fim da tarde de ontem (quarta-feira, 17 de junho), na Santa Casa de Misericórdia desta cidade.

No mesmo dia, horas antes, o Brasil soube pelo noticiário que um jovem padre residente de Brasília, tinha sido encontrado morto num matagal na zona rural de Brasilândia. Seu nome era Gisley Azevedo Gomes, 31 anos, pertencia à Congregação dos Sagrados Estigmas (Estigmatinos) e era assessor para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O padre levou três tiros: um no rosto e dois na cabeça. Dentre os assassinos, um menor de idade. A emboscada foi armada por um michê chamado Wellington Lacerda de Araújo que ligou para o padre na noite de domingo a fim de atraí-lo para a morte. Infelizmente, Gisley foi ao encontro da morte. Ele era muito querido por todos que o conheciam, conforme podemos notar pelos comentários que a Pastoral da Juventude fez em seu site. A CNBB elogiou em nota à imprensa o seu trabalho, bem como a Congregação Religiosa que pertencia.

Padre Gisley e Marcelo Campos, jovens homossexuais, foram vítimas da homofobia. Seus nomes são, infelizmente, acrescentados ao rol de mártires gays brasileiros também vítimas de crimes de ódio, cada vez mais cotidianos em nosso país.

Diante de fatos não há argumentos! Os que dizem que homofobia é delírio da militância LGBT do Brasil, como fez o teólogo presbiteriano Solano Portela em recente artigo, como fazem os parlamentares da bancada evangélica do Congresso Nacional, agora não terão mais como “tapar o sol com a peneira”; se bem que não tinham motivos para fazerem isso antes, mas agora, vários crimes anunciados fartamente pela mídia brasileira desmascaram e acabam com a nuvem de fumaça que eles gostam tanto de fazer quando o assunto é homofobia. Digo mais: digo que a população LGBT do Brasil deve requerer das mãos que ocultam a homofobia o sangue derramado de seus mártires, pois mentindo sobre a questão ou se omitindo no exercício do poder de legislar em prol da população LGBT contribuem com cada assassinato movido pela homofobia.

Diante dos últimos acontecimentos – até bomba teve! – os parlamentares brasileiros deveriam se perguntar se é legítimo deixar nas mãos da bancada evangélica o destino de milhares de LGBTs do nosso país. A bancada evangélica não é maioria no Congresso Nacional, isso significa que vocês, senhores e senhoras parlamentares, podem e devem deixar os parlamentares evangélicos que contribuem com a homofobia falando sozinhos e aprovarem logo, urgentemente, o PLC 122/2006, porque enquanto vocês deixarem a bancada evangélica – que é contra o PLC 122 e que se omite diante de tais assassinatos cada vez mais abundantes – impedirem a aprovação, vocês estão sendo coniventes nisso tudo com eles e tenho certeza que esta não é e não será só a minha opinião, mas a de milhares de homossexuais, familiares e amigos de homossexuais e toda a população mais esclarecida deste país. Se duvidam da disseminação da homofobia em nosso país, favor entrar no site do Estadão e ler com atenção os comentários feitos por leitores, logo abaixo da matéria que trata da bomba caseira jogada na Av. Vieira de Carvalho no último domingo. São aterrorizantes!

Quantos homossexuais terão ainda que morrer para que vocês façam alguma coisa? Quantos mais terão que tirar a própria vida num ato de desespero diante da condenação e da exclusão social de que são vítimas por serem homossexuais? Quantos terão que perder seus empregos por preconceito? Quantos mais serão vítimas de agressões físicas e verbais de homofóbicos? Até quando ouviremos de pastores evangélicos e sacerdotes católicos que somos doentes, pervertidos, pecadores, sem vergonhas, filhos do diabo, comparados com tudo o que há de exemplo negativo socialmente como fazem muitos “tele-evangelistas”? Quantos de nós ainda seremos expulsos de nossas famílias? Quantas famílias precisam ser ainda quebradas porque nelas têm homossexuais? Quantos de nós seremos vítimas de terapias charlatãs de reversão de orientação sexual, que causam sérios danos à nossa saúde psíquica e física? Quantos de nós nossas famílias encontrarão jogados às beiras das estradas e caminhos, sem vida, vitimados? Quantas covas, quantas sepulturas precisam ser abertas ainda? Enfim, até quando vocês do Congresso Nacional assistirão todas essas mazelas sentados nas suas cadeiras confortáveis, ganhando seus ricos salários, gozando dos privilégios que os eleitores deste país lhes dão até que olhem para nós e finalmente aprovem nossas demandas? Até quando senhores e senhoras parlamentares do Brasil?!

Parem de ouvir a bancada parlamentar evangélica! Eles não estão defendendo o que deveriam defender: a vida! Eles não estão defendendo o direito constitucional da liberdade de expressão o que eles querem é passaporte livre pra continuarem disseminando a homofobia religiosa, mãe de toda homofobia, raiz deste câncer que nos assola e que nos mata, usando para isso, textos fora de contextos das Escrituras Cristãs! Eles não defendem a família, ao contrário, contribuem com a falência das mesmas, porque são as suas opiniões homofóbicas que levam pais e mães de LGBTs a rejeitarem seus filhos e filhas “porque ser gay é abominação diante de Deus”. Eles nem mesmo defendem as Escrituras que eles tanto dizem pregar, porque um estudo sério, profundo e honesto das mesmas nos leva à certeza que a Bíblia não condena a homossexualidade; é a leitura literal da Bíblia, que longe de ser a única, leva aos erros de interpretação que há séculos assola a comunidade LGBT. Chamam de “Lei da Mordaça Gay” o PLC 122, mas não assumem que o que desejam é amordaçar milhares de LGBTs com suas mordaças fundamentalistas!

A comunidade LGBT brasileira, mais uma vez, está de luto! Nosso povo continua tombando sem vida ao chão e nós continuamos cidadãos de segunda categoria em nossa pátria mãe que tem sido madrasta má conosco. Nosso choro e grito de dor mais uma vez é ouvido por toda a população brasileira e vocês, parlamentares, continuarão a fazer de conta que não nos enxergam e que não nos ouvem? Continuarão a nos negar direitos civis? Continuarão?!

No próximo sábado 20 de junho às 19h, a militância LGBT do Estado de São Paulo convoca a população para juntos gritarmos por justiça e chorarmos por nossas vítimas. O ato acontecerá na mesma Avenida Vieira de Carvalho, onde um homofóbico jogou uma bomba de fabricação caseira sobre nossa gente, ferindo pessoas. Meu desejo sincero e até ingênuo e minha oração é que por lá apareçam muito mais que 3,1 milhões de pessoas. Se não nos enxergam e não nos escutam celebrando na Avenida Paulista quando pedimos isonomia nos direitos; quem sabe nosso grito e nosso choro na Avenida Vieira de Carvalho, escutam e finalmente façam alguma coisa?

Eu e meu povo estamos de luto, Brasil!

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