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Pais & Filhos

O deputado federal reeleito pela sexta vez no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro (PP), recentemente se declarou a favor de dar surras em crianças e adolescentes para que não se tornem homossexuais. Acredite, o jornal Folha de SP publicou a matéria em 26/11/2010 sob o título “Palmada muda filho ‘gayzinho’, declara deputado federal”.

Este senhor, cujo mandato esta valendo até 2015, está na vida pública desde 1988, e segundo o site Wikipédia.org é o único parlamentar brasileiro a defender abertamente o regime militar ditatorial instalado no Brasil em abril de 1964, ou seja, vai continuar na vida pública, por mais cinco anos, com a possibilidade de ser reeleito. Será? Já deu pra “sacar” o perfil do “cara”? Pasmem: este sujeito desprovido de qualquer bom senso está no sexto mandato consecutivo.

Lucidez, inteligência, sabedoria e sensibilidade são qualidades que passaram a quilômetros de distância do deputado em questão. Aliás, não me surpreenderia, infelizmente, se seus eleitores afirmassem que o conselho do eleito é bem-vindo: a homofobia está por aí, em todos os lugares… Sua declaração incita a violência e fomenta a discriminação. Desconfio que deve ser aquele “tipo” que puxa a mulher pelos cabelos e mora em uma caverna provavelmente na companhia de Osama Bin Laden.

A Folha de SP, sempre espirituosa, aponta a manifestação inusitada deste político brasileiro. A “receita” foi dada no programa “Participação Popular”, na TV Câmara, que discutia a “Lei da Palmada”, projeto de lei que proíbe a punição corporal às crianças. A matéria ainda descreve a “recomendação” do deputado que declarou expressamente o seguinte: “Se o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, (ele) leva couro e muda o comportamento dele”, afirmou.

Recentemente, a reportagem corajosa no Folhateen de 1º/11/2010 denunciava o alto índice de suicídios entre jovens homossexuais por causa da discriminação. Com certeza, o deputado não deve ter lido a matéria, considerando seu histórico político. Aliás, não faria diferença. Certamente ele nunca foi humilhado e não tem ideia de que a discriminação, além de qualquer tipo de agressão, física e/ou verbal dentro de casa, para os jovens homossexuais é algo insuportável.

O amor entre iguais é bonito, é bom, e como escreveu Oscar Wilde: “É a mais nobre forma de afeição”. “Não há nada nele que seja antinatural”, acrescenta. “O mundo não compreende que seja assim. Zomba dele e às vezes, por causa dele, coloca alguém no pelourinho”. Este escritor inglês irrompeu na cena intelectual e mundana da Londres dos anos 1880, repito, 1880! Em 2010, um político brasileiro, reeleito pela sexta vez, recomenda colocar o seu filho no pelourinho.

Provavelmente, o deputado Jair Bolsonaro não tem conhecimento de que jovens gays são de duas a três vezes mais propensos a tentar o suicídio, quando comparados a jovens heterossexuais. E mais, suicídio é a quarta maior causa externa de morte de jovens entre 15 e 19 anos.

É certo que o discurso do deputado é perigoso e sem dúvida representa um grave retrocesso no recente processo democrático brasileiro. Atos de violência, perseguições, exclusão, rejeição, pânico, ódio criam um clima de terror muitas vezes incontrolável.

Combater e denunciar qualquer forma de discriminação é um ato de cidadania. Repito mais uma vez: a prática de qualquer violência é inaceitável e deve ser repudiada.
Quando minha mãe descobriu que eu era lésbica me deu um “tapão na cara”. Não adiantou, eu continuo lésbica. Abro o meu coração e confesso que a agressão que sofri me causou toda espécie de sofrimento e só me distanciou da relação mãe e filha. Uma pena! As coisas poderiam ter sido diferentes. Se como mãe ela procurasse compreender a minha orientação sexual, conversar, acolher e me aceitar, mas nunca rejeitar. A incompreensão entre pais e filhos, a falta de afeto acarretam sentimento e conflitos que ficam registrados por toda uma vida.

O psicólogo Claudio Picazzio, que escreveu dois livros que recomendo sobre homossexualidade na adolescência, o clássico “Diferentes Desejos” e “Uma outra verdade”, lançado agora em novembro de 2010. ambos das Edições GLS, traçam uma análise preciosa sobre o assunto e ressaltam que a adolescência é uma das fases mais delicadas do ser humano. No caso dos jovens homossexuais, as dificuldades e os conflitos são sempre maiores. Os jovens se deparam com atos de violência, como este “recomendado” pelo deputado, perseguições e principalmente exclusões.

Quando ganhei o livro “Diferentes Desejos” do Claudio Picazzio, fiquei muito emocionada com a sua dedicatória, que dizia: “Diferentes somos todos, mas o desejo é sempre igual: ‘Amar e ser amado'”. Recomendo não só os livros, mas principalmente amar e ser amado.

Viva a diversidade!

* Hanna Korich é uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, agora Brejeira Malagueta – a primeira e única editora dedicada à literatura lésbica da América Latina, desde 2008.

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