in

Para militante, Parada Gay foi politizada apesar de gigante

2008: uma Parada gigante, mas politizada
 
Ano a ano o fenômeno se repete. Toda segunda-feira pós-Parada do Orgulho GLBT de Sampa,  pipocam  avaliações de todos os tipos e para todos os gostos. Não só no movimento GLBT organizado (e na mídia especializada), mas também nos grandes veículos e no público em geral.
 
Até aí, tudo bem. O difícil é se produzirem avaliações equilibradas, que contemplem a complexidade de um evento deste tipo (nada mais que a maior Parada do mundo e uma das maiores concentrações de pessoas em qualquer tipo de evento no Brasil).
 
É irônico também porque muitas destas vozes críticas não conhecem as reais condições com que trabalham as pessoas que organizam a Parada de Sampa. Uma salinha minúscula em um prédio do centro de São Paulo, tudo ainda muito limitado, a despeito de, nos últimos anos, o patrocínio governamental (federal) e o apoio da prefeitura de São Paulo (mérito da CADS) terem aumentado substancialmente.
 
De qualquer forma, é impossível agradar a gregos e troianos. Todo ano,  algumas avaliações blasé, meio metidas, dizem que a Parada está "feia"",  "popular" , não tem glamour, perdeu o foco. Como diz um amigo meu: glamour para mim é politização, combatividade.
 
Há muita dificuldade para entender o caráter plural da Parada. É a dialética festa x luta.  Ou luta com festa. Ou festa que luta. A Parada não é evento que caiba em catalogações simplistas. É preciso entender melhor como um evento deste tamanho e desta proporção pode ser possível em uma cidade como São Paulo. Diversa, mas também conservadora. Moderníssima, mas desigual e arcaica a ponto de não permitir que seus cidadãos se locomovam a mais de 20 km/h nas suas principais avenidas.
 
São Paulo abraçou a Parada Gay, que se tornou um símbolo da cidade. Por isso, é tão constrangedor ler avaliações superficiais. Sim, a Parada é gigantesca. Sim, a Parada não é uma passeata pequena, onde encontramos os amigos e companheiros e andamos com folga, conversando e rindo.
 
A Parada é um mega-evento, que traz visibilidade massiva, excelente oportunidade para discutir os temas da cidadania GLBT, ocupar espaço na grande mídia,   e, além disso, traz muito dinheiro para São Paulo e para o Brasil.  Aí, vêm os esquerdistas sectários e denunciam o caráter comercial da Parada! Mas, ora, o fato de defendermos (incluo-me aqui) a superação do capitalismo não significa que seja possível, fazer, hoje, concretamente, eventos deste porte que ignorem o mercado! A questão é: a serviço de que política está a Parada? Ela avança na conquista de cidadania ou apenas reforça a ideologia do pink money?
 
E, não está difícil responder. A cada ano, o esforço da organização tem sido politizar os temas, se conectar com as pautas nacionais do movimento GLBT. União civil, criminalização  da homofobia e  denúncias têm dado o tom  da Parada nos últimos anos. Não importa se a grande mídia costuma ignorar esses temas. Não importa se um veículo como a Folha se especializa na cretinice ou em dar voz aos que reclamam da "feiúra" da Parada (parece que sofrem de demofobia – sim, somos pobres e feios!).
 
O que importa é que milhões de pessoas sabem o que é (ou já ouviram falar em ) homofobia. Grande parte disto é "culpa" da Parada de São Paulo. Milhares de pessoas se perguntaram ou se lembraram do que é Estado laico. E por que afinal, os GLBTs estão tão preocupados com esta questão.
 
Em 2008 (e o mérito principal disso se deve a Alexandre Santos, o Xande, novo presidente da Associação da Parada de SP) o esforço para politizar o evento foi ainda maior. Grandes banners, lindos, traziam o tema "Homofobia mata! Por um Estado laico de fato".  Muita gente circulava com a mesma camiseta.  A maioria dos trios era de sindicatos, movimentos, centrais. Toda fala do Xande na mídia foi direcionada para exigir direitos iguais e a aprovação do PLC 122 que criminaliza a homofobia.

Eu pergunto: o que mais pode ser feito? Vamos pensar juntos/as, ao invés de detonar a cada segunda-feira pós-parada?? Afinal, a Parada é um patrimônio de todas/os nós! Se a grande mídia prefere tratar do pitoresco, isso não é de responsabilidade da organização. Mais ainda: parece que Parada boa é Parada pequena. Só pode ser de luta se for pequenino? Se for de massas é necessariamente ruim?
 
Ok, o gigantismo está tornando a Parada quase inviável, muito difícil de se caminhar por ela, inclusive. Ok. Tem muita gente que vai fora da vibe da Parada. Ok, aquele vinhozinho fake deveria ser banido para todo o sempre, pois destrói qualquer um em meia hora. Mas, por outro lado: onde se tem um evento deste tamanho com tão poucos incidentes? Alguém conhece? Os níveis de ocorrências policiais (mesmo com toda a "elza" que rola são reconhecidamente baixos). Aliás, foi visível o esforço feito para aumentar o policiamento e a segurança em 2008. E deu resultado!

Ninguém trabalha mais com a idéia de que é preciso crescer, crescer, crescer. Pelo contrário. Todo esforço da Associação tem sido para tirar o foco da corrida de números e recordes  e colocar holofotes sobre o tema político, sobre a segurança, etc.
 
Portanto, os céticos e impressionistas de plantão que me desculpem, mas não vejo "impasse" nenhum. O que enxergo como expectativa é continuar, anualmente, participando simplesmente da maior Parada do mundo. Mas, que, a cada ano, tentará se superar em termos de forma e conteúdo. Sem perder seu caráter de grande festa, que politiza o cotidiano e visibiliza a diversidade plena.
 
Tanta gente, mundo afora, olha com orgulho e admiração a Parada e nós, aqui, tantas vezes,  ficamos atirando no próprio pé. Prefiro criticar os homofóbicos e a mídia que não dá a devida atenção e  seriedade ao nosso tema. Ou o Congresso,  que não aprova leis que protejam os GLBT e reconheçam nossa cidadania.
 
À Parada de Sampa, cabem nossos elogios e as homenagens aos poucos abnegados que a realizam. Aos que duvidam, sugiro que visitem a sede da Associação e se engajem como voluntários na organização da Parada 2009.
 
*Julian Rodrigues é ativista do movimento GLBT, do Instituto Edson Neris (SP)

Itália: Pai agride filho com faca por ser homossexual

Pai da atriz Lindsay Lohan confirma relação lésbica de filha