Em entrevista à revista Época desta semana, o prefeito de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, José Camilo Zito (PSDB), tratou de explicar por que resolveu proibir a Parada Gay na cidade, no último domingo (11/10).
Segundo o prefeito, a manifestação foi cancelada porque "não houve nenhum pedido em tempo hábil para que houvesse desfile". "Não houve a procura de nenhum representante, a não ser a Charlene [presidente do Grupo Pluralidade e Diversidade de Duque de Caxias], que falou comigo que ia dar entrada", justificou Camilo Zito. "Na verdade não houve nenhum cancelamento e nenhuma proibição porque não houve um pedido de nenhuma organização e de nenhum organizador."
Na entrevista, o prefeito sugeriu também a criação do Dia Nacional das Paradas Gays. A ideia de Camilo Zito é que, nessa data, os homossexuais prestem serviços comunitários gratuitamente para a população. Antes disso, porém, o prefeito explicou por que quis que a Parada fosse realizada numa Vila Olímpica afastada do Centro. "Eu fiz uma sugestão, não uma imposição. Foi uma ideia que eu dei. Eu acho que deveria ter o ano nacional dessas festas, que cada cidade fizesse a sua. O dia nacional da parada gay. Não estou querendo ditar norma nenhuma. As pessoas estão fazendo um cavalo de Tróia", afirmou Camilo Zito, talvez querendo utilizar, na verdade, a expressão "cavalo de batalha".
Questionado se tem funcionários gays, o prefeito respondeu: "Meu governo tem alguns homossexuais, uns declarados, outros não. E não é por isso que nenhum deles são desrespeitados, maltratados, eu não o contratei pelo que eles representam e sim pelo que eles fazem, profissionalismo, dedicação. E assim eu seguirei para respeitar a todos."
Sobre casamento gay, Camilo Zito disse que o assunto "não está em tese". "A minha visão de vida é uma, mas eu respeito as que os outros optam. Para mim Deus fez o homem e a mulher. Agora, a opção de cada um pertence a cada um. Como é que eu vou julgar se homem tem que casar com homem, se mulher tem que casar com mulher? Problema deles. A opção é deles, o desejo é deles. E que eu respeite", afirmou o prefeito, que disse ainda não ter preconceito contra os homossexuais. "Não tenho nenhum tipo de problema nem com esse e nem com nenhum outro. Agora, eu tenho uma responsabilidade com a cidade. Tenho que sentar com eles e dizer o que a sociedade caxiense e o que as famílias estão dizendo. Em Copacabana acontece de tudo embaixo da bandeira."
O prefeito prometeu ainda impedir uma nova Parada, marcada para o dia 15 de novembro. "Vamos fazer a mesma coisa que fizemos [cancelar o evento]. Nada diferente do que fizemos. Eles fizeram manifestação. Pergunte se alguém foi molestado. Isso não é bom para ninguém. Por que não fazer como deve ser feito? Toda cidade tem suas leis, suas regras, que têm que ser respeitadas", disse Camilo Zito.
Partido
Em ofício enviado à Executiva Nacional do PSDB na semana passada, Wagner Gui Tronolone, coordenador estadual do Diversidade Tucana – Núcleo da Diversidade Sexual do PSDB – SP, posicionou-se contra as declarações do prefeito de Duque de Caxias, dizendo que sua postura é "frontalmente conflitante com os avanços que governantes e legisladores do PSDB propiciam constantemente à população LGBT do nosso país, bem como com a postura das principais lideranças de nosso partido, como José Serra, Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, entre outros, em relação às Paradas do Orgulho LGBT".
Leia abaixo o documento na íntegra:
Os princípios democráticos e republicanos sempre pautaram as ações do nosso partido. Desde sua fundação, o PSDB está à frente de grandes debates cujos objetivos são o fortalecimento dos partidos políticos e o aprofundamento da democracia. Prova disso é o pioneirismo com que o PSDB levantou as bandeiras do Parlamentarismo e de uma Reforma Política que adote o sistema de lista partidária.
Essas são posturas de um partido que sempre acreditou no pluralismo, na laicidade e na garantia dos direitos humanos. A gênese do PSDB é a luta contra o autoritarismo, a defesa dos direitos humanos e, sobretudo, a luta pelos direitos e garantias individuais.
Em consonância com essa história e com o programa de nosso Partido, venho por meio desta colocar a público minha insatisfação com a postura do nosso prefeito de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, João Camilo Zito, em dificultar a realização da 4ª Parada do Orgulho LGBT daquele município.
Essa postura é frontalmente conflitante com os avanços que governantes e legisladores do PSDB propiciam constantemente à população LGBT do nosso país, bem como com a postura das principais lideranças de nosso partido, como José Serra, Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, entre outros, em relação às Paradas do Orgulho LGBT.
Duque de Caxias, sendo um município de destaque no Estado do Rio de Janeiro, que infelizmente carrega tristes marcas de violência homofóbica, tem um papel a assumir na defesa dos direitos humanos, assim como o prefeito Zito tem uma ampla gama de exemplos a seguir dentro de nosso partido.
Assim, esperamos que na nova data escolhida pelo movimento social local receba o apoio da Prefeitura de Duque de Caxias para que esse importante exercício de cidadania se realize da melhor forma possível.
Atenciosamente,
Wagner Gui Tronolone
Coordenador estadual
Diversidade Tucana – Núcleo da Diversidade Sexual do PSDB – SP