O que escrever sobre os gays?
Difícil escolha. São muitos assuntos disponíveis para este primeiro ensaio, mas queria fugir do óbvio, dos mesmos temas. Queria fugir da ditadura da beleza das barbies, da gula dos bears, das notícias sobre agressões aos homossexuais e até mesmo sobre a união civil entre mesmo sexo. Não que estes objetos não mereçam nossa atenção e até uma dissertação, mas acho que o chamado “mundinho” é tão mais profundo que pode oferecer outras reflexões.
Mais importante que fugir da militância barata, é propor um pensamento e um minuto para repensarmos nossa pobre e rápida existência. Foi numa semana corrida e bastante agitada que talvez tenha aprendido uma das minhas maiores lições de vida até agora. E ela se chama humildade.
Nesta mesma época, começo a ler um livro sobre a luxúria. Alguém duvida da existência deste “pecado” entre nós? Seria uma blasfêmia afirmar que ele está presente apenas entre os gays. Há seres humanos que gostam daquilo que toca o desprezível.
Luxúria é lascívia, é excesso. Não é pecado buscar mais em nossas vidas, tampouco entregar-se aos prazeres do sexo pelo sexo. Mas viver esta lubricidade com exageros pode representar um penhasco sem fim.
No começo de nossas descobertas passamos a nos entregar àquilo que julgamos ser o melhor para nossa condição. Se não o melhor, ao menos, diferente. Buscamos nos auto-afirmar com roupas que estão nas vitrines estampando as últimas coleções. De óculos escuros ao carro importado, passando por aquela calça que acompanha uma etiqueta de grife. No fundo, quando desfilamos nossa figura, não queremos sentimentos. Somos extremamente selvagens enquanto que no final, queremos apenas acasalar.
Esta frivolidade cada vez mais aparente, e muito, entre os gays me preocupa. Gosto de me vestir bem, mas nem por isso preciso expor uma condição da qual não participo. Gosto de comer e visitar lugares diferentes, mas não prejudico meu cheque-especial. Não coloco em xeque meu nome limpo em busca de um material que no próximo verão estará ultrapassado. Não culpo a moda porque também sou escravo dela, mas com certo bom senso.
Concordo que devemos nos entregar a alguns luxos vez ou outra. É para isso que trabalhamos, agüentamos chefes e clientes nos cobrando, respeitamos horários, regras. Não há nada de mal viver entre os mais belos e poderosos. É importante, sobretudo, ter certeza que isso tudo é apenas um acessório em nossa vida e não o carro-chefe. Refletir sobre o futuro do meio-ambiente, dos seres menos instruídos e dos desprovidos de recursos não é dever apenas da agenda dos políticos. É nosso também. Somos gays, temos nosso mundinho, mas vivemos numa dimensão muito maior com problemas maiores. Lutar pelos nossos direitos iguais são apenas uma parte. Faça parte do todo.
Abraços a todos.
*Colaboração do leitor para o site. As idéias aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do A Capa.